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"Selva de Pedra" completa 40 anos

Nilson Xavier

12/04/2012 20h05

Há exatos quarenta anos a Globo lançava uma das novelas de maior sucesso da TV brasileira: Selva de Pedra, escrita por Janete Clair, com direção de Daniel Filho – substituído depois por Reynaldo Boury e Walter Avancini, então estreando na Globo.

Selva de Pedra foi a quarta de uma série de novelas consecutivas que Janete escreveu para o horário das oito da Globo. Entre novembro de 1969 e janeiro de 1973, a autora escreveu, ininterruptamente: Véu de Noiva, Irmãos Coragem (sendo esta uma das mais longas novelas da emissora), O Homem que Deve Morrer e Selva de Pedra.

A novela foi baseada no romance "Uma Tragédia Americana", de Theodore Dreiser, que já havia rendido dois filmes em Hollywood: o primeiro, em 1931, de Joseph Von Sternberg, com o mesmo título do romance original, com Sylvia Sidney, Philips Holmes e Frances Dee. E o segundo, o filme "Um Lugar ao Sol", em 1951, de George Stevens, com Shelley Winters, Montgomery Clift e Elizabeth Taylor.

Na TV, o triângulo amoroso central foi vivido por Regina Duarte (Simone), Francisco Cuoco (Cristiano) e Dina Sfat (Fernanda), numa interpretação marcante. Outro ator que brilhou no elenco foi Carlos Vereza, que deu vida ao malandro Miro, um tipo de caráter duvidoso, mas extremamente carismático, que caiu no gosto do público.

O ponto de partida é o mesmo da história original: rapaz pobre (Cristiano) se casa com moça pobre (Simone), mas conhece moça rica (Fernanda) e fica dividido entre as duas, pensando na possibilidade de matar a jovem pobre para viabilizar seu casamento com a rica. Mas a censura do Regime Militar da época obrigou a autora a mudar seu roteiro: o mocinho não poderia se casar com a rica porque já era casado com a pobre – mesmo ele pensando que a pobre estivesse morta. Janete Clair teve que inutilizar 22 capítulos e várias cenas foram regravadas.

Na história, Miro convencia Cristiano de que, para ele se casar com Fernanda, era preciso se livrar de Simone. Miro se encarregou do serviço e, numa perseguição, o carro de Simone caiu num precipício – uma das sequências mais marcantes da novela. Cristiano, em crise de consciência, não conseguiu se casar com Fernanda, abandonando-a no altar.

Mas Simone sobreviveu. Ela preferiu que todos continuassem achando que estava morta e partiu para o exterior com outra identidade, Rosana. Em seu retorno ao Brasil, Cristiano não acreditou na farsa e tentou se reaproximar da ex-mulher, que se tornara uma artista plástica famosa. Enquanto isso, Fernanda, enlouquecida, fazia de tudo para destruir seus desafetos, Cristiano e Simone.

A mudança de rumos acabou gerando novos desfechos para Selva de Pedra, que fez com o público ficasse cada vez mais vidrado na trama. O capítulo 152, apresentado em 04/10/1972, registrou incríveis 100% de audiência no Ibope, pelo menos nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.  Foi o capítulo em que Rosana, ou melhor, Simone, era desmascarada por Cristiano, na polícia.

Selva de Pedra foi ao ar originalmente entre abril de 1972 e janeiro de 1973, e reprisada em 1975, em forma compacta, também às oito da noite, cobrindo a censura de Roque Santeiro, que havia sido impedida de ir ao ar em sua estreia. Enquanto a Globo providenciava uma novela substituta (Pecado Capital), a emissora optou por reprisar Selva de Pedra, que, mesmo fresquinha na memória dos telespectadores, voltou a fazer sucesso. Em 1986 foi ao ar o remake da novela, com Fernanda Torres (Simone), Tony Ramos (Cristiano), Christiane Torloni (Fernanda) e Miguel Falabella (Miro).

Selva de Pedra é uma representante da era da inocência da televisão brasileira, em que o talento de seus profissionais se contrapunha aos parcos recursos técnicos da época e a um público muito diferente do de hoje em dia. Sob a vigilância do governo do Regime Militar, a TV evitava a dura realidade através de uma história extremamente sedutora e envolvente – como bem citou Ismael Fernandes em seu livro "Memória da Telenovela Brasileira":

"O país vivia a fase do "milagre brasileiro" e com prazer se reunia à frente da televisão para assistir a vitória do bem sobre o mal, como mostrou o último capítulo. Acontecia um milagre na vida de Cristiano e Simone. Eles voltavam a se entender como nos duros tempos, mas não eram mais os mesmos. Agora eles se amavam envolvidos pelo dinheiro ao sabor do sucesso pessoal. Era o milagre brasileiro mesmo!"

Para finalizar, a música Rock and Roll Lullaby, gravada por B. J. Thomas, embalou o romance do casal protagonista e virou um fenômeno nas rádios, tornando-se um dos temas musicais mais marcantes de nossa TV.

Saiba mais sobre Selva de Pedra no site Teledramaturgia.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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