Topo

Novela “Vale Tudo” completa 24 anos de sua estreia

Nilson Xavier

16/05/2012 11h54

Há exatos 24 anos estreava uma das melhores novelas já produzidas pela TV brasileira – se não a melhor: Vale Tudo. Escrita pela trinca Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, com direção de Denis Carvalho e Ricardo Waddington, a novela foi ao ar entre 16/05/1988 e 06/01/1989. Vale Tudo parava o país diariamente, que acompanhou o drama de Raquel (Regina Duarte), uma mulher batalhadora, íntegra e honesta (ao extremo), roubada pela filha ingrata e carreirista, Maria de Fátima (Glória Pires), que, mancomunada com o mau caráter César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli), tentava dar um golpe na milionária família Roitman, comandada pela megera Odete (Beatriz Segall), que acabou assassinada, rendendo um dos "quem matou?" mais emblemáticos de nossa TV.

Com 204 capítulos, a trama, redondinha, em momento algum fez o público perder o interesse. Com uma galeria de personagens ricos e inesquecíveis, além dos já citados, tiveram destaque Heleninha (Renata Sorrah) – alcoólatra, carente e infantil, seus porres homéricos viraram referência cult ("toca um mambo caliente aí, DJ!") -, Solange "cherri" Duprat (Lídia Brondi) – com sua franja reta, o protótipo da moça moderninha, independente e antenada – , Tia Celina (Nathalia Timberg) – mulher bondosa, amiga e sonsa -, e Marco Aurélio (Reginaldo Faria) – o mau caráter que aprontou a novela inteira e se safou no final, mandando uma banana para o público. Também no elenco Antônio Fagundes, Adriano Reys, Cássio Gabus Mendes, Cássia Kiss, Cláudio Corrêa e Castro, Pedro Paulo Rangel, Lília Cabral, Rosane Gofman, Sérgio Mamberti e outros.

A novela uniu um excelente folhetim com crítica social ao país a partir de uma pergunta comum aos brasileiros: "Vale a pena ser honesto no Brasil de hoje?". O ano era 1988, mas a questão nunca deixou de ser atual.

Curiosidades:

O ponto de partida foi o filme Almas em Suplício – (Mildred Pearce), dirigido por Michael Curtiz em 1945, com Joan Crawford e Ann Blyth – de onde se extraiu a trama da mãe simplória (Raquel) que enriquece, mas tem o desprezo da filha (Fátima). Na primeira parte da novela, o filme é referenciado quando Raquel – ainda uma guia turística em Foz do Iguaçu, então cenário da trama – chama uma senhora de Dona Mildred.

Daniel Filho afirmou em entrevista que, na primeira sinopse, a filha vendia a casa por volta do capítulo 40 ou 50. Mas o tema central não deslanchava. Ele argumentou: "Se a filha não vender a casa no primeiro capítulo e a mãe ficar na miséria, a novela não atingirá seu objetivo". Ou seja, não deixaria claro seu tema. Os autores, então, adiantaram a novela em 40 capítulos.

No capítulo 193 – que foi ao ar na véspera do Natal de 1988 -, a vilã Odete Roitman foi assassinada com três tiros à queima-roupa. O mistério da identidade do assassino durou apenas 13 dias, mas dominou todas as conversas pelo país. O fabricante de caldo de galinha Maggi promoveu um concurso para premiar quem adivinhasse o nome do assassino. O Brasil parou diante da TV em 06/01/1989 para conhecer o criminoso.

O mistério da identidade do assassino de Odete Roitman tornou-se alvo de apostas, rifas e sorteios. A cena do disparo foi gravada no dia em que o último capítulo foi ao ar. Nem o próprio elenco sabia, até ao momento em que Denis Carvalho anunciou que era Leila (Cássia Kiss). A razão do assassinato: Leila atirou na megera por engano! Ela pensava que quem estava com seu marido Marco Aurélio (Reginaldo Faria) era a amante dele, Fátima (Glória Pires).

Além da questão da ética e honestidade, Vale Tudo discutiu o drama do alcoolismo e mostrou, pela primeira vez de forma explícita, o homossexualismo feminino. Por isso a novela enfrentou alguns problemas com a censura. Diálogos entre as personagens Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) tiveram que ser reescritos depois que foi vetada uma cena em que as duas contavam a Helena (Renata Sorrah) sobre os preconceitos de que eram vítimas por causa de seu relacionamento.

Em Cuba, em 1995, o governo resolveu legalizar uma rede de restaurantes privados que funcionava clandestinamente, num arrojado gesto de abrir mão da exploração exclusiva do setor. Esses restaurantes, geridos em âmbito familiar, tinham o nome de "paladares", assim batizados por conta do nome da empresa de alimentos de Raquel na novela (Paladar).

Muitas foram as cenas marcantes, como o assassinato de Odete; Marco Aurélio fugindo do país num jatinho e se despedindo de todos com uma "banana"; Raquel rasgando o vestido de casamento de Fátima; os porres de Heleninha; os tapas na cara que Fátima levou de vários personagens; etc.

Em 2002, a Globo, numa parceria com a Rede Telemundo – cadeia de emissoras abertas voltada para a comunidade latina nos Estados Unidos – produziu uma nova versão de Vale Tudo, em espanhol: Vale Todo, com elenco formado por atores latinos – mas não teve o sucesso esperado.

A novela foi reapresentada no Vale a Pena Ver de Novo em 1992. Entre outubro de 2010 e julho de 2011, Vale Tudo foi reprisada no Canal Viva, causando uma verdadeira comoção entre os internautas de redes sociais (como o Twitter), saudosos da novela que viram no passado ou curiosos pela obra que não puderam acompanhar antes. O #ValeTudoTeam mostrou a força da união da TV com as redes sociais na atualidade.

Saiba mais sobre Vale Tudo no site Teledramaturgia.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier