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“Carrossel” supre carência de programação infantil no horário nobre

Nilson Xavier

27/05/2012 12h30

O sucesso da primeira semana de Carrossel não era esperado nem pelo próprio SBT, acostumado aos 7, 8 pontos de audiência de suas tramas anteriores. Carrossel fechou sua primeira semana com uma média de 13 pontos no Ibope, enquanto a primeira semana de Corações Feridos, a novela anterior, fechou em 4. Já é um dos maiores sucessos do SBT nos últimos anos. E o engraçado é que a novela conquistou audiência sem fazer grande estrago na concorrência.

De todos os lados pipocam explicações para este fenômeno de nossa moderna televisão. Com certeza, a má fase pela qual vem passando a Record (principal concorrente do SBT) e o saudosismo dos que acompanharam a versão mexicana da novela (apresentada com grande sucesso entre 1991 e 1992) contribuem para este bom resultado. Vamos levar em conta também a forte campanha publicitária que a emissora de Silvio Santos fez para o lançamento de sua novelinha, há muito tempo prometida e aguardada.

O fato é que existe certa verdade em discursos do tipo "Carrossel é uma novela para a família, em que pais e filhos podem acompanhar juntos, sem o constrangimento das demais novelas". Bem, a classificação indicativa está aí para isso, para nortear os pais. Mas convenhamos que há muito tempo a TV aberta comercial brasileira estava carente de uma programação infantil em seu horário nobre.

Vamos contar?

Desconsideremos canais estatais como a TV Cultura – que, por sinal, sempre ofereceu farta programação infantil e de alta qualidade. Desconsideremos a grade do fim de semana. Desconsideremos a programação "adolescente", como as novelas Malhação (Globo) e Rebelde (Record), o programa Estação Teen (RedeTV!) e seriados enlatados como Todo Mundo Odeia o Chris (Record), As Visões da Raven (SBT) e Kenan & Kel (Band). O que sobra para as crianças a partir do período da tarde? Apenas as reprises do Chaves, que o SBT apresenta às 18h30.

O SBT sempre privilegiou programação infantil e continua o fazendo, com Carrossel Animado e Bom Dia e Cia, que ocupam todo o período da manhã, durante a semana. A Globo – que outrora teve Vila Sésamo, Globinho, Sítio do Picapau Amarelo, Balão Mágico, Xou da Xuxa, TV Colosso e os programas da Angélica – agora dedica apenas uma hora e vinte minutos de sua grade matinal às crianças, com o TV Globinho – com a probabilidade de sair do ar já que está para estrear o programa de Fátima Bernardes. A Band apresenta o Band Kids, em duas horas matinais, e o enlatado Power Rangers, à tarde. A Record e a RedeTV! inexistem para as crianças.

Ou seja, a TV aberta deixou para os canais a cabo a tarefa de entreter nossas crianças no horário nobre (que vai mais ou menos das 19 às 23 horas). E elas estavam mesmo tão condicionadas a Cartoon Network, Discovery Kids, Nickelodeon e outras, que, ao chegar da escola no fim do dia, nem lembravam que existia TV aberta. As crianças – principalmente a partir da última década – trocaram a TV aberta pela TV a cabo e pelo video game. Carrossel se beneficiou desse público – além de tirar um pouquinho da audiência dos canais concorrentes na TV aberta... E quem não tinha cabo ou video game?…

Carrossel é toda apelo infantil. Cores fortes, cenários coloridos e por vezes fantásticos, historinhas clichês, educativas e de fácil assimilação, crianças fofinhas (ou quase isso). Tudo planejado para cativar os filhos e, por tabela, os pais, saudosistas ou não. E como o público alvo é a garotada, não há de se cobrar realismo algum das histórias, ou grandes interpretações dos atores mirins que estão começando agora. "Crianças não se prendem a esses detalhes!", diriam alguns para justificar interpretações e texto fracos.

É cedo para saber se a novela se manterá na média dos 13 pontos, ou ao menos na casa dos dois dígitos. É necessário um pouco mais de tempo para se conquistar a fidelidade do público. Seja ele infantil ou não.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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