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Há 16 anos, a novela “O Fim do Mundo” já abordava o Apocalipse

Nilson Xavier

21/12/2012 07h00

José Wilker e Bruna Lombardi em "O Fim do Mundo" (Foto: TV Globo)

Se a morte assombra o Homem, a ideia da finitude do Universo sempre perseguiu a Humanidade. Haja vista a enorme produção do cinema sobre o tema, em filmes como "Independence Day", "Armageddon", "Impacto Profundo", "O Dia Depois de Amanhã", "Guerra dos Mundos", "2012", "Melancholia", e outros. Aproveitando todo o burburinho em cima do dia 21 de dezembro (data do fim do mundo, de acordo com uma profecia maia), a Globo levou ao ar a série "Como Aproveitar o Fim do Mundo", de Fernanda Young e Alexandre Machado.

No ano de 1996, o Apocalipse não era um assunto comentado. A virada do milênio só aconteceria em cinco anos. Mas Dias Gomes já criara uma história que explorava esse filão: "O Fim do Mundo", exibida como "mininovela" (35 capítulos). Com o questionamento "o que você faria se só te restasse um dia" (da letra da música da abertura, cantada por Paulinho Moska), o autor brincou com a fantasia do apocalipse, do que o homem seria capaz de fazer ante a iminência de um fim coletivo.

Naquele ano, a novela "O Rei do Gado" (de Benedito Ruy Barbosa) seria a substituta de "Explode Coração" (de Glória Perez), mas a Globo não conseguiu produzi-la no tempo planejado para a estreia. A solução foi pegar o texto que Dias havia escrito para ser uma minissérie. A hipótese de espichar a trama de Glória chegou a ser cogitada, mas a emissora a descartou, pois tinha assumido o compromisso de liberar a novelista para o julgamento dos acusados do assassinato de sua filha (Daniela Perez).

Lançada como um "tapa-buraco", "O Fim do Mundo" foi exibida como "mininovela". A nomenclatura se justifica não só pela quantidade reduzida de capítulos, mas também pelo horário em que a atração foi ao ar: o tradicional horário das oito da noite. Se fosse apresentada mais tarde, certamente seria chamada de "minissérie".

Os efeitos especiais foram um chamariz, mas, aos olhos de hoje, envelheceram, parecem "toscos". A campanha de lançamento anunciava: "Uma super novela em 35 capítulos". "O Fim do Mundo" manteve a audiência do horário, mas de "super" não trouxe nada, a não ser o universo tão característico de Dias Gomes.

Screenshots da abertura da novela

Para contar sua história, Dias criou uma cidadezinha perdida no interior da Bahia, repleta de tipos curiosos: Tabacópolis, famosa pelas plantações de fumo.  Lá vivia o paranormal Joãozinho de Dagmar (Paulo Betti), um místico conhecido pelos seus poderes de curandeiro e vidente. Acusado de charlatão por uns, Joãozinho atendia diariamente uma fila de romeiros em busca de conforto para seus males, da alma e do corpo. Mas se beneficiava da fé alheia.

Quando o vidente previu o fim do mundo, Tabacópolis entrou em polvorosa. Fenômenos começaram a assombrar o lugarejo: nasceu um bezerro com duas cabeças, barulho de sinos assustaram os moradores, que sabiam que a igreja não possuía um sino, a terra começou a tremer, e uma tempestade de excrementos emporcalhou a cidade.

Diante dos fatos, não restava dúvida para a população local. O fim dos tempos estava próximo. Era a oportunidade para cada um extravasar seus desejos e aproveitar os últimos momentos para ir à forra. Para tentar resolver seu problema de impotência, o fazendeiro Tião Socó (José Wilker) assediou sexualmente a cunhada, a bela Gardênia (Bruna Lombardi), por quem sempre fora apaixonado. Letícia (Paloma Duarte) desistiu de casar virgem com o insistente Josias (Guilherme Fontes) e se entregou ao peão Rosalvo (Maurício Mattar), que acabou capado pelo noivo ciumento dela.

O malandro Vadeco (Tato Gabus Mendes) começou a vender "terrenos no céu". As pudicas e carolas irmãs Badaró (Lúcia Alves e Cininha de Paula) partiram para cima do doente mental Emiliano (Ricardo Blat), para satisfazerem seus desejos mais reprimidos. Chico Veloso (Tonico Pereira) pôde finalmente se vestir de mulher. Os malucos do hospício foram soltos. Também os presos da delegacia.

A autoritária prefeita Florisbela (Vera Holtz) tentou colocar ordem na população diante do caos generalizado que se estabeleceu em Tabacópolis. Mas o mundo não acabou. E todos tiveram que arcar com as consequências de seus atos impensados e de suas extravagâncias.

Saiba mais sobre "O Fim do Mundo" no site Teledramaturgia.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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