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Vista como chata, Helena de “Em Família” ainda não caiu no gosto do público

Nilson Xavier

24/03/2014 18h18

Júlia Lemmertz como a Helena de

Júlia Lemmertz como a Helena de "Em Família" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Passados quase dois meses de sua estreia, "Em Família" ainda não pegou, ou seja, não emplacou no gosto popular, nem em audiência nem em repercussão. Com primeira e segunda fases que só ficaram interessantes porque foram apressadas, a novela entrou na terceira parte da história na marcha lenta, quase marcha ré.  Focada na protagonista Helena nas duas primeiras partes da trama (vivida por Juliana Dalavia e, depois, por Bruna Marquezine), a história de "Em Família" agora cozinha sua personagem principal em banho-maria. Tudo o que a atual Helena (Júlia Lemmertz) faz é sofrer com a temeridade da aproximação do primo Laerte (Gabriel Braga Nunes), um amor do passado transformado em fantasma, que voltou para atormentá-la.

Ainda que suplantada por outras personagens secundárias – como Juliana (Vanessa Gerbelli), Marina (Tainá Miller), Clara (Giovanna Antonelli), Shirley (Vivianne Pasmanter) e Chica (Natália do Valle), que têm tramas próprias bem mais avançadas – Helena não é um problema da atriz. Júlia Lemmertz está ótima ao passar, com muita competência, toda a angústia de sua personagem. A atriz já teve excelentes diálogos, em cenas perfeitas, tanto com Bruna Marquezine (Luiza, a filha) quanto com Humberto Martins (Virgílio, o marido).

Mas está sendo pouco para a personagem símbolo das tramas de Manoel Carlos ganhar o coração do público. "Em Família" ainda está no início, tem tudo para que este quadro se reverta, mas, cobra-se mais agilidade na trama da protagonista. O público só se mostrou apático desse jeito diante de uma Helena de Manoel Carlos uma vez antes: na última, a vivida por Taís Araújo em "Viver a Vida", em 2009. Nesta novela, Helena perdeu o título de protagonista para uma coadjuvante, quando os olhos de todos voltaram-se para o drama de Luciana (Alinne Moraes), a bela modelo que ficou tetraplégica após um acidente.

Cada Helena do autor tinha um drama pessoal suficiente forte para puxar a novela. Vamos relembrá-los:

"Baila Comigo" (1981): No passado, Helena (Lílian Lemmertz) viu-se obrigada a entregar um dos filhos gêmeos recém-nascidos para o pai dos bebês, Quim (Raul Cortez), que foi morar no exterior, enquanto ela criou o outro menino – segredo este nunca revelado a ninguém. Anos mais tarde, Quim retornou com seu filho, João Vitor, já adulto. A novela toda sustentava-se na iminência dos gêmeos João Vitor e Quinzinho (vividos por Tony Ramos) se encontrarem e Helena ser descoberta.

"Felicidade" (1991-1992): Helena (Maitê Proença) engravidou de seu grande amor, Álvaro (Tony Ramos), mas não teve como lhe revelar isso: ele casou-se com outra mulher, Débora (Vivianne Pasmanter). Desiludida, ela criou a filha Bia (Tatyane Goulart) sozinha, sem revelar a ninguém a paternidade da menina. Anos depois, Helena se reencontrou com Álvaro ao trabalhar para a mãe dele, e não conseguiu evitar a aproximação da filha com o garoto Alvinho (Eduardo Caldas), filho de Álvaro e Débora.

"História de Amor" (1995-1996): Solitária, Helena (Regina Duarte) sente o interesse do médico Carlos (José Mayer) e não resiste a essa nova paixão, apesar de ele ser um homem comprometido, em um casamento em crise com a possessiva Paula (Carolina Ferraz). Carlos também despertou o interesse da jovem Joice (Carla Marins), a filha rebelde de Helena. Mas a censura da época não permitiu que a mãe disputasse com a filha o mesmo homem, por causa do horário da novela – seis da tarde.

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"Por Amor" (1997-1998): Helena (Regina Duarte), num gesto extremo de abdicação à filha, Eduarda (Gabriela Duarte), entrega o filho recém-nascido para ela criar como se fosse o seu próprio, sem que ela saiba, já que o bebê de Eduarda, nascido na mesma hora e maternidade, estava morto. Assim, Helena vê seu filho sendo criado pela filha e é obrigada a tratá-lo como neto. Isso custou também sua relação com Atílio (Antônio Fagundes), pai do menino, que acreditou que o bebê nascera morto.

"Laços de Família" (2000-2001): Primeiro Helena (Vera Fischer) abdica de sua paixão por Edu (Reynaldo Gianecchini) em prol da filha, Camila (Carolina Dieckmann), que apaixonou-se por ele (Manoel Carlos leva adiante nesta novela a trama primeiramente pensada para "História de Amor"). Depois, Helena, já vivendo um novo romance com outro homem, Miguel (Tony Ramos), abdica novamente de um amor por causa da filha, ao descobrir que Camila tem leucemia e que apenas uma doação compatível a salvaria: Helena decide engravidar do pai de Camila, Pedro (José Mayer), para que seu bebê possa ser o doador da filha. Isso lhe custa sua relação com Miguel.

"Mulheres Apaixonadas" (2003): Helena (Christiane Torloni) começa a questionar seu casamento com Téo (Tony Ramos) quando descobre o paradeiro de uma antiga paixão, César (José Mayer). Para complicar ainda mais o casamento em crise, Helena começa a desconfiar de um caso de Téo com Fernanda (Vanessa Gerbelli). Na verdade, não há mais nada entre os dois, mas Lucas (Victor Curgula), filho adotivo de Helena e Téo, é fruto desse antigo caso, fato que Helena desconhecia.

"Páginas da Vida" (2006-2007): A médica Helena (Regina Duarte) não consegue salvar a jovem Nanda (Fernanda Vasconcellos) em seu parto. Apenas os bebês gêmeos sobrevivem, A avó das crianças, Marta (Lília Cabral), leva o menino mas rejeita a menina, por ela ser portadora de Síndrome de Down. Helena resolve ela mesma criar a pequena Clara (Joana Mocarzel) como se fosse sua filha. Os anos passam e Helena terá que travar uma batalha na justiça pela guarda da garota, já que o pai dela, Léo (Thiago Rodrigues) vem reclamar a paternidade.

"Viver a Vida" (2009-2010): Helena (Taís Araújo) é uma top model que largou a carreira no auge para casar-se com Marcos (José Mayer), separado de Tereza (Lília Cabral), que não se conforma com a separação. Quem também não aceita essa união é Luciana (Alinne Moraes), filha de Marcos, aspirante a modelo, rival de Helena na profissão. Em uma viagem no exterior, um acidente vitima Luciana, que interrompe o sonho de ser modelo porque ficou tetraplégica. Mas Helena se sente culpada pela tragédia, pois Tereza havia lhe confiado tomar conta de sua filha.

"Em Família" (2014): Helena (Bruna Marquezine) era apaixonada desde a adolescência pelo primo, Laerte (Guilherme Leicam), que disputava a moça com Virgílio (Nando Rodrigues), também apaixonado por ela. Acusado de matar Virgílio, Laerte é preso no dia de seu casamento com Helena, mas logo inocentado, porque Virgílio é encontrado ainda com vida. Desiludida, Helena se casa com Virgílio enquanto Laerte vai embora para o exterior. Os anos passam e Laerte (Gabriel Braga Nunes) agora está de volta na vida de Helena (Júlia Lemmertz), já que ficou amigo de Luiza (Bruna Marquezine), filha dela e Virgílio (Humberto Martins). Helena nunca perdoou o primo pelo sofrimento causado no passado, e não o perdoará por esse interesse pela sua filha.

Ou seja, tudo o que a Helena de "Em Família" tem feito nessa terceira e definitiva fase é reclamar de Laerte – quando não está servindo de "escada" para os dramas dos outros personagens, como os papos com a mãe Chica (Natália do Valle) e com a irmã Clara (Giovanna Antonelli), ou a surra de cinto no irmão alcoólatra Felipe (Thiago Mendonça). De tanto alertar a filha Luiza (Bruna Marquezine) sobre Laerte, Helena já ganhou a antipatia do público.

Helena chata assim, só a de Taís Araújo em "Viver a Vida", que passou a novela despercebida e perdeu o posto de protagonista para uma coadjuvante.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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