Com pouca frente de capítulos, “Em Família” usa notícias quentes na trama
Quem assistiu ao capítulo deste sábado (29/03) de "Em Família" teve uma surpresa ao se deparar com uma cena inusitada: Virgílio (Humberto Martins) chamou a atenção de Helena (Júlia Lemmertz) para uma notícia no jornal – mas a nota em questão é real e muito, muito recente. É o resultado da pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que revelou que 58,8% dos entrevistados brasileiros estão de acordo (total ou parcialmente) com a afirmação "Se as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros". Esta pesquisa foi divulgada antes de ontem (quinta-feira, 27) e gerou, e continua gerando, muita polêmica na Internet.
A primeira reação do público com a cena apresentada poderia ter sido: "a novela está tão atrasada na frente de capítulos (capítulos prontos disponíveis para serem exibidos) que ela está praticamente sendo apresentada ao vivo!". Exagero, claro! Mas não é novidade alguma que "Em Família" está com gravações, edições e finalizações de capítulos muito próximos de suas datas de exibição. Entretanto, essa frente pequena trabalha a favor da novela. Mas se engana quem vê algum ineditismo nisso. Os dois folhetins anteriores de Manoel Carlos – "Páginas da Vida" (2006-2007) e "Viver a Vida" (2009-2010) – também aproveitavam a pouca frente disponível para incluir fatos quentes a fim de incrementar a trama.
Além de vermos um acontecimento que ainda repercute sendo discutido na novela, a situação em si serviu de gancho para uma das tramas paralelas de "Em Família": a personagem Neidinha (Jéssica Barbosa/Elina de Souza) fora estuprada na segunda fase da história. Deste estupro nasceu Alice (Érika Januza). A mãe sempre escondeu esse fato da filha, apesar da insistência da moça em querer saber sobre seu pai.
Na novela, Virgílio e Helena se mostram indignados com a notícia do jornal e criticam o resultado da pesquisa: "Sociedade machista e retrógrada. Eu tenho pena dessa geração da Luiza, que tem tanto acesso à tecnologia e é tão reacionária ao mesmo tempo. (…) E sexista também!".
Há de se louvar a iniciativa e disponibilidade do autor em tratar na novela de assuntos atuais, trazendo a obra para mais perto da realidade. Aliás, esta é uma característica reconhecida de Manoel Carlos: suas tramas, apesar de folhetinescas, estão sempre fincadas no realismo e no dia a dia, mas nunca de forma ostensiva, como em um telejornal.
Aproveito para discorrer sobre duas novelas em que fatos reais e muito atuais foram inseridos em suas tramas: uma de forma proposital e outra através de uma coincidência.
A novela "Rainha da Sucata", de Silvio de Abreu, estreou em abril de 1990 em plena efervescência do Plano Collor. Como esse fato interessava à trama da novela, várias cenas tiveram que ser regravadas às pressas para que essa situação fosse inserida no início da história – o que acabou gerando uma propaganda negativa para "Rainha da Sucata", já que o público chegou a acreditar que a Globo sabia sobre o Plano Collor e não avisou os brasileiros, pois esses fatos estavam sendo mostrados na novela.
"Morde e Assopra", de Walcyr Carrasco, estreou em março de 2011, duas semanas depois de um terremoto devastar uma região do Japão. Na trama da novela, um terremoto acontecia no Japão quando alguns personagens visitavam o país. A sinopse original do folhetim já previa o tal terremoto, antes mesmo de ele acontecer na vida real. Apesar da terrível coincidência, a direção manteve o terremoto na história.
Leia também: "Manoel Carlos defende mulheres contra estupro e critica pensamento machista".
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