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José Wilker, um ator “felomenal”

Nilson Xavier

05/04/2014 13h43

Como Giovanni Improta de

Como Giovanni Improta de "Senhora do Destino" (Foto: Divulgação/TV Globo)

"Triste. Muito triste. Tristíssimo!", diria o personagem de Wilker na novela "Renascer" (1993). Na manhã deste sábado (05/04), fomos pegos de surpresa com a notícia da morte de José Wilker. Era novo ainda (66 anos) e não se sabia de doença grave. O ator foi vítima de um infarto fulminante.

Sua voz potente e seu jeito, olhar e sorriso cínicos conferiram a Wilker uma galeria de personagens marcantes, principalmente no cinema e na televisão. Foram quase 70 filmes (desde sua estreia em "A Falecida", em 1965), com destaque para os memoráveis "Dona Flor e Seus Dois Maridos" (1976), "Bye Bye Brasil" (1979) e "O Homem da Capa Preta" (1985). Era notória a paixão de Wilker pela Sétima Arte.

Na TV, além de casos especiais e pequenas participações gerais, foram mais de 30 novelas e 10 minisséries. José Wilker é da geração que solidificou – lá na década de 1970 – o padrão de teledramaturgia que temos hoje. Desde jovem, já era chamado para papeis importantes, como em "Bandeira Dois" (1971, de Dias Gomes) e "Os Ossos do Barão" (1973, de Jorge Andrade). Seu primeiro grande personagem já exigia uma baita responsabilidade: Dr. Mundinho Falcão em "Gabriela", de Jorge Amado, adaptada por Wálter George Durst e dirigida por Wálter Avancini, em 1975.

Conheci José Wilker em papeis de homem sedutor, galanteador, macho alfa, em novelas como "Plumas e Paetês" (de Cassiano Gabus Mendes, 1980-1981), "Brilhante" (de Gilberto Braga, 1981-1982), "Final Feliz" (de Ivani Ribeiro, 1982-1983) e "Transas e Caretas" (de Lauro César Muniz, 1984). Mas foi com "Roque Santeiro" (de Dias Gomes e Aguinaldo Silva, 1985-1986), que o ator entrou definitivamente para o imaginário brasileiro como o mítico personagem-título, o morto que foi sem nunca ter sido e que retorna à cidadezinha de Asa Branca para passar a limpo a sua vida. Dividiu com Regina Duarte (Viúva Porcina) e Lima Duarte (Sinhozinho Malta) os louros de um dos maiores sucessos da TV brasileira.

Como Roque Santeiro (Foto: Divulgação/TV Globo)

Como Roque Santeiro (Foto: Divulgação/TV Globo)

Após uma rápida passagem pela TV Manchete (entre 1987 e 1988), onde atuou nas novelas "Corpo Santo" e "Carmem", Wilker voltou à Globo em outro personagem memorável: João Matos de "O Salvador da Pátria" (de Lauro César Muniz, 1989). Exercitou o cinismo como Fred na comédia "Mico Preto" (1990) e ganhou mais uma pá de personagens inesquecíveis pela década de 1990 – Demóstenes em "Fera Ferida", Belarmino em "Renascer", Marcelo em "A Próxima Vítima", Tião Socó em "O Fim do Mundo", Waldomiro em "Suave Veneno".

É dessa época também sua participação em minisséries importantes, como "Anos Rebeldes" (1992) e "Agosto" (1993). Lembrando ainda "Bandidos da Falange" (1983), "O Quinto dos Infernos" (2002), "JK" (2006) – em que encarnou o presidente Juscelino Kubitschek -, "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes" (2007), "O Bem Amado" (2011) – recriando Zeca Diabo – e "O Brado Retumbante" (2012).

Na novela "Desejos de Mulher" (de Euclydes Marinho, 2002), viveu o divertido homossexual Ariel. Giovanni Improta foi outro marco em sua carreira. O bicheiro extravagante, que falava errado, apaixonado por Maria do Carmo (Susana Vieira) na novela "Senhora do Destino" (de Aguinaldo Silva, 2004-2005) fez tanto sucesso que foi parar nos cinemas. Vale lembrar que Wilker tinha uma química incrível com Susana Vieira, a atriz com quem mais contracenou ("Anjo Mau", "Fera Ferida", "A Próxima Vítima", "Senhora do Destino", "Duas Caras").

Seus últimos trabalhos na TV foram em obras do autor Walcyr Carrasco. Na nova adaptação de "Gabriela" (2012) – vivendo outro personagem de Jorge Amado, o Coronel Jesuíno Mendonça -, o ator popularizou o bordão "vou lhe usar!". Um coadjuvante que lhe rendeu uma grande interpretação. Diferente do Herbert de "Amor à Vida" (2013-2014), em que o ator entrou no meio da novela e seu personagem minguou inexpressivamente. Independentemente do tamanho do personagem (um Jesuíno ou um Herbert), José Wilker era um ator "felomenal" – diria Giovanni Improta.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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