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Fotografia cinematográfica e edição chamam a atenção na estreia de “O Rebu"

Nilson Xavier

15/07/2014 00h00

Daniel Oliveira, Patrícia Pillar e Sophie Charlotte (Foto: Divulgação/TV Globo)

Daniel de Oliveira, Patrícia Pillar e Sophie Charlotte (Foto: Divulgação/TV Globo)

As chamadas de estreia de uma novela podem enganar, ao criar no público uma expectativa maior do que aquilo que vai ao ar no primeiro capítulo. Não foi o que aconteceu nesta segunda-feira, 14/07. A estreia de "O Rebu", a nova novela das onze da Globo, superou todas. Acredito que seria mesmo muito difícil jogar nos intervalos comerciais pílulas do que se propunha. "O Rebu" é uma confusão. Mas das mais sofisticadas.

O novo folhetim da Globo é uma releitura de uma antiga novela da emissora, de 1974, criada por Bráulio Pedroso (o mesmo que revolucionara o gênero com "Beto Rockfeller"), famosa por sua cronologia estapafúrdia: a história toda se passa em praticamente um dia, quando acontece um assassinato durante uma festa da alta sociedade, seguido pelas investigações sobre o crime, e flashbacks mostrando os antecedentes dos personagens. Mas, tudo embaralhado, como em um quebra-cabeças.

Esta nova versão é outra novela, em que se aproveitou apenas a ideia central da trama de Bráulio Pedroso. Os personagens são diferentes, suas motivações para ir à festa – e também para cometer o assassinato – são outros. A maior prova do distanciamento entre a trama da década de 1970 e a atual é a revelação da identidade do morto, que já aconteceu no primeiro capítulo, enquanto que, em 1974, o público ficava sabendo quem morreu apenas quase na metade da história.

A cronologia engana e a edição exagera nos cortes bruscos. Confuso à primeira vista. Mas não é esta a proposta de toda trama policial? Aliada à edição turva, uma trilha sonora envolvente, que mistura o instrumental, para dar o clima de mistério, com muitos hits dançantes da festa. A fotografia é do premiado Walter Carvalho, que também está entre a equipe de diretores comandada por José Luiz Villamarim. Walter optou pela quase ausência de cor – puro cinema. É espirituoso notar que a atual versão da história é quase em preto em branco, enquanto que a novela original foi uma das primeiras coloridas da Globo.

Outro mérito da nova atração está na exibição do capítulo à segundas-feiras em substituição às quartas-feiras, quando a Globo transmite futebol, o que antes empurrava o capítulo da novela para além da meia-noite. Pela temática e o horário de sua apresentação, pode-se ousar mais, com cenas de sexo e drogas, muito comuns em festas do tipo, o que aproxima a novela da realidade. O elenco é de primeira, com destaque, nesta estreia, para as atuações de Patrícia Pillar, Cássia Kis Magro e Sophie Charlotte.

Muito luxo e sofisticação em cenários, figurinos e direção de arte – como pede o roteiro de George Moura e Sérgio Goldenberg. A produção de "O Rebu" passou um mês gravando na Argentina, em cenários como o Palácio Sans Souci, de arquitetura francesa. A equipe é quase a mesma de outro sucesso recente do horário, a minissérie "Amores Roubados". Pelo que se viu nessa estreia, esse rebuliço tem tudo para agradar.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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