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Longe da polêmica, “Sexo e as Negas” é uma leve comédia de costumes

Nilson Xavier

24/09/2014 11h59

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As "negas" Maria Bia, Lílian Valeska, Corina Sabbas e Karin Hils (Foto: Divulgação/TV Globo)

Agora sim! Passados dois episódios de "Sexo e as Negas", já se pode julgar o novo programa de Miguel Falabella. Acusado de racismo, sexismo, machismo, e outros ismos, o seriado gerou polêmica antes de sua estreia, vejam só, por causa de seu título. Sim, porque o conteúdo – o que deveria ser julgado – se conhecia apenas pelas chamadas ou o que era lançado pela mídia antes da estreia.

Isso tudo apesar de o título julgado ser uma alusão à conhecida série norte-americana "Sex and the City" – que você só nunca ouviu falar se passou os últimos quinze anos morando em Marte. Haja vista o tipo de programa e seu horário de exibição, o público alvo de "Sexo e as Negas" é, de fato, o público que já ouviu falar em "Sex and the City", e não o que passou os últimos quinze anos em Marte. Muito menos os que julgaram o programa e afirmam orgulhosos que não possuem um aparelho de TV em casa. Falabella não faz programa de televisão para quem não assiste TV.

Como bem disse Maurício Stycer em sua coluna AQUI, "a acusação de racismo pautou o primeiro olhar sobre Sexo e as Negas". Sim, fomos contaminados pelas acusações: as calientes cenas de sexo do primeiro episódio remeteram à polêmica toda. Mas não vi nada que maculasse a imagem, a autoestima, ou o orgulho da mulher negra. Não passam de quatro mulheres que, por acaso, são negras, cujo universo a série trata. Mas seus anseios e desejos são inerentes a qualquer ser humano. Tanto que há uma personagem branca (Jesuína de Cláudia Jimenez) que costura as histórias das quatro negras e compactua desses desejos.

Falabella e as atrizes em questão – Maria Bia, Lílian Valeska, Corina Sabbas e Karin Hils – vieram a público defender a atração. E o próprio autor reconheceu que foram feitos cortes pontuais, ajustes normais pelos quais os programas passam para se adequar, até mesmo para caber no permitido no horário de exibição. Com um humor mais leve do que o habitual em suas séries (como a última, "Pé na Cova"), aqui Falabella caminha mais sutilmente pela comédia dramática, a que tanto pode provocar o riso quanto emocionar.

O segundo episódio – que pautou sobre a relação entre a mulher, seu cabelo e o amor – só não foi leve porque os cenários, figurinos e caracterizações das "negas" impossibilitam qualquer leveza (e isso não é uma crítica). Mas bem que poderia ter passado no horário da tarde. Acima de tudo, pelo visto até agora, "Sexo e as Negas" se mostra uma interessante comédia de costumes. E ainda será preciso assistir ao resto da série para comprovar que nada no programa denigre a imagem ou o orgulho da brasileira afrodescendente.

Ops! A palavra "denegrir" ainda pode ser usada? Ou a patrulha já a aboliu do vocabulário?

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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