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“Império” levanta o horário nobre da Globo, mas ainda não para o Brasil

Nilson Xavier

14/12/2014 14h02

Lília Cabral (Maria Marta) e Alexandre Nero (José Alfredo) (Foto: Divulgação/TV Globo)

Lília Cabral (Maria Marta) e Alexandre Nero (José Alfredo) (Foto: Divulgação/TV Globo)

Há cinco meses no ar, a novela "Império" já tem um grande mérito: ter levantado a moral do horário nobre da Globo. Sua audiência na Grande São Paulo segue boa. Não tem um excelente Ibope, como a última do autor Aguinaldo Silva, "Fina Estampa" (de 2011-2012). Nem é um fenômeno de repercussão, como "Avenida Brasil" (de 2012). Mas, em alguns aspectos, "Império" é superior aos folhetins que vieram depois: "Salve Jorge", "Amor à Vida" e "Em Família". Todavia, é lógico que as antecessoras não são parâmetro para justificar ou compensar os problemas de "Império".

Pode-se reclamar de tudo da trama de Aguinaldo. Menos dos erros crassos de roteiro e direção de "Salve Jorge", do texto pobre de "Amor à Vida" ou do marasmo de "Em Família". "Império" é uma boa novela. Mas seria melhor se a trama central fosse mais poderosa, daquelas de perder o fôlego, que prendem o telespectador, que fazem com que o público não fique sem perder um capítulo. O barraco familiar envolvendo Cora e o clã do Comendador (neste sábado, 13/12) pode ter passado batido para muitos. Mas, fisgar o espectador diariamente é uma tarefa cada vez mais difícil nos dias de hoje. Nós, o público, estamos mais e mais exigentes. O arroz com feijão diário já não é mais o suficiente para agradar.

Cena do capítulo de sábado, 13/12 (Foto: Divulgação/TV Globo)

Cena do capítulo de sábado, 13/12 (Foto: Reprodução)

O autor vai cozinhando uma trama aqui e outra ali, enquanto outra ganha os holofotes. Em meio a isso, destacam-se ótimos atores em suas performances. Nos últimos capítulos, vimos Marjorie Estiano substituir Drica Moraes no papel de Cora – duas excelentes atrizes em uma personagem complexa. Já reclamei AQUI que a Cora entregue não era a que havia sido vendida. Mas, a expectativa frustrada é compensada por uma personagem que vai se revelando mais densa. Sinceramente, espero que a Cora de Marjorie traga de volta a sobriedade amarga que a atriz deu à personagem na primeira fase. Muito mais interessante que a Cora cômica que solta pum – como já vimos Aguinaldo obrigar Drica Moraes a fazer.

Zezé Polessa e Tato Gabus também tiveram, nos últimos capítulos, sequências dignas de nota. O casal trambiqueiro, que parecia raso, ganha profundidade com a interpretação dos atores. Suzy Rêgo e José Mayer também têm seus grandes momentos. Alexandre Nero, Lília Cabral, Leandra Leal, Paulo Betti, Aílton Graça, Othon Bastos, Elizângela… "Império" tem um ótimo elenco, bem dirigido, com o bom texto de Aguinaldo, sempre com uma pegada popular. Talvez este seja o maior trunfo da novela: a união do bom texto do autor com a boa direção (núcleo de Rogério Gomes) e o elenco. Só falta a trama parar o Brasil. Isso ainda não aconteceu.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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