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Balanço: 2014 foi um ano de amadurecimento para as séries da TV aberta

Nilson Xavier

28/12/2014 12h28

Cauã Reymond e Ísis Valverde em

Cauã Reymond e Ísis Valverde em "Amores Roubados", e "Bruno Gagliasso em "Dupla Identidade" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Apesar da qualidade de produção de algumas novelas de 2014 ("Meu Pedacinho de Chão", "O Rebu"), as suas audiências, de um modo geral, não foram significativas – nada além do que se podia prever para um ano de Copa do Mundo e campanha eleitoral. Em contrapartida, se nos voltarmos para as produções seriadas da TV aberta, houve um avanço significativo no ano que passou. Três delas, de qualidade inquestionável, se destacaram. E a audiência acompanhou a qualidade, em pelo menos duas delas.

Produção de tirar o fôlego, "Amores Roubados" – minissérie de dez capítulos, exibida em janeiro, com roteiro final assinado por George Moura e direção geral de José Luiz Villamarim – conquistou os telespectadores, cativando uma audiência que surpreendeu a própria Globo. Aqui, a emissora repetiu o trio que apresentara "O Canto da Sereia" em 2013: além de Moura no roteiro e Villamarim na direção, o fotógrafo Walter Carvalho. Essa equipe retornou em 2014 (mais Sergio Goldenberg no roteiro) com a novela "O Rebu".

Outro sucesso de público (e de crítica) foi a excelente "Dupla Identidade", assinada por Glória Perez com direção geral de Mauro Mendonça Filho. Tendo como referência séries policiais estrangeiras, este trabalho em nada lembra a desastrada "Salve Jorge", última novela de Glória. Com um trabalho primoroso de pesquisa, texto, direção e a ótima atuação de Bruno Gagliasso e Débora Falabella, a autora exibiu um maduro panorama da realidade brasileira (dentro dos limites impostos pelos clichês do gênero, claro) no que se refere à investigação de crimes cometidos por serial killers. Tão representativa dentro da produção nacional que não seria exagero se, no futuro, a considerássemos um divisor de águas para o formato.

Enquanto "Amores Roubados" e "Dupla Identidade" conquistaram o público, dentro do que se espera da promoção de uma emissora como a Globo, a Record fez o que pode para divulgar sua ótima "Plano Alto", minissérie de Marcílio Moraes, com direção geral de Ivan Zettel. A repercussão foi pouca, mas esta produção mostra que a emissora de Edir Macedo ainda preza por trabalhos que lhe deem prestígio a despeito da audiência. O autor aqui, em pleno ano eleitoral, traçou um panorama político brasileiro muito interessante. Só acho que deveria ter sido exibida antes do início da campanha eleitoral, e não às vésperas do segundo turno. A Record segue com outras produções de dramaturgia, além de uma novela. Em 2014, foram ao ar ainda a bíblica "Milagres de Jesus" e, agora no fim do ano, "Conselho Tutelar".

Milhem Cortaz, Gracindo Jr. e Bernardo Falcone em

Milhem Cortaz, Gracindo Jr. e Bernardo Falcone em "Plano Alto" (Foto: Divulgação/TV Record)

A Globo segue com suas séries cômicas, de apelo popular ou não, mas se renovando. A prova disso foi a extinção de "A Grande Família", a mais longeva da história da emissora, com um último episódio inesquecível. "Tapas e Beijos" parece ser a herdeira natural, se considerarmos que já está no ar há algum tempo e o público alvo é o mesmo de "A Grande Família". 2014 também teve a ótima "Doce de Mãe", estrelada por Fernanda Montenegro. Gostosa, como o título sugere. Podia ter mais temporadas. E "Segunda Dama", estrelada por Heloísa Périssé. Não precisa de segunda temporada.

Miguel Falabella apresentou a terceira temporada da ótima "Pé na Cova", para quem aprecia o humor típico do autor, com uma dose de filosofia, lirismo e melancolia. Falabella ainda exibiu a controversa "Sexo e as Negas", que causou tanto barulho antes da estreia (segmentos que representam as mulheres negras não gostaram da premissa da série) que só lhe serviu de promoção. Muito barulho por nada: ao final, como era de esperar, a atração em nada feriu o orgulho da mulher afrodescendente.

Se "Dupla Identidade" pode representar um "divisor de águas" para as séries policiais de suspense nacionais, pode-se afirmar que "A Teia" e "O Caçador" – exibidas antes, entre janeiro e julho – serviram como um bom ensaio para o que estava por vir. Assim, concluímos que 2014 foi um ano de amadurecimento para a produção nacional seriada. Pelo menos no que tange a TV aberta (a TV a cabo está em outro cenário, tem outras premissas e parâmetros). Mesmo longe de alcançar o modelo americano, tanto em produção quanto em repercussão, a experiência adquirida em 2014 não foi pouca.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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