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“Felizes Para Sempre?” estreia com um texto afiado sobre relações conjugais

Nilson Xavier

26/01/2015 23h56

Paolla Oliveira, Maria Fernanda Cândido e Enrique Diaz (Foto: Divulgação/TV Globo)

Paolla Oliveira, Maria Fernanda Cândido e Enrique Diaz (Foto: Divulgação/TV Globo)

A cidade de Brasília confere um charme extra a "Felizes Para Sempre?", a nova minissérie da Globo que estreou nesta segunda-feira, 26/01. Foi poucas vezes usada como ambientação em nossa teledramaturgia, e, quando usada, sob o viés político – como nas minisséries "O Brado Retumbante" (Globo, 2012) – ainda que implicitamente – e "Plano Alto" (Record, 2014), ou na novela "O Rei do Gado" (Globo, 1996). Desta vez, a política fica apenas em segundo plano. Não é a razão de ser da atração.

O autor, Euclydes Marinho, aqui revisita uma antiga obra sua, a minissérie "Quem Ama Não Mata" (de 1982), que se passava em Niterói e no Rio de Janeiro, e tratava exclusivamente sobre as relações conflituosas de casais de uma mesma família. O mote central era um crime passional (razão do título) que acontecia no primeiro capítulo, cujo assassino e vítima só eram revelados no último.

Marinho manteve a essência de sua antiga minissérie, mas a trouxe para a luz da atualidade. A homossexualidade – por exemplo – não poderia ser abordada abertamente em 1982 como se faz agora. Paolla Oliveira vive uma prostituta de luxo que tem uma relação com outra mulher, personagens inexistentes em "Quem Ama Não Mata". Mas os principais casais e seus dilemas no casamento foram mantidos. E com um texto afiadíssimo, provocativo e divertido. Um moderno diferencial.

Coprodução com a O2 Filmes, "Felizes Para Sempre?" tem na direção o peso da assinatura de Fernando Meirelles (dos filmes "Cidade de Deus", de 2002, e "Ensaio Sobre a Cegueira", de 2008) – um bom motivo para prestar atenção na minissérie. Fernando já havia apresentado um excelente trabalho na televisão, anteriormente, em outra minissérie: "Som e Fúria", de 2009.

Aqui as tomadas são caprichadas. E inéditas: foram usados drones – veículos aéreos não tripulados – que captaram Brasília de ângulos nunca antes explorados. A trilha sonora é luxuosa, – um movimento nas séries e minisséries da Globo que vai na contramão do que é feito atualmente para musicar as novelas.

As qualidades técnicas são visíveis e inquestionáveis. Direção cinematográfica e apurada (com referências a alguns filmes), elenco excelente, muito à vontade, em interpretação natural. Fernando Meirelles e Euclydes Marinho abordam o casamento de forma moderna e despojada, sem medo, firulas ou conservadorismo. Já o cinismo de alguns personagens pode explicar a opção por Brasília.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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