Minisséries aproximam a TV do cinema, enquanto falta ousadia nas novelas
A minissérie "Felizes Para Sempre?" – que terminou nesta sexta (06/02) – apresentou ao público do horário uma proposta diferenciada se considerarmos a tradicional produção televisiva. A parceria com a O2 Filmes – por consequência, a direção do cineasta Fernando Meirelles – rendeu uma atração que aproxima a TV do cinema.
Nunca foi novidade. A direção cinematográfica inspira a televisão desde a década de 1960 (por exemplo, nas superproduções da TV Excelsior, como as novelas "A Muralha" e "As Minas de Prata"). Entretanto, nas últimas décadas, com o HDTV e as novas tecnologias, temos visto crescer o número de séries e minis que buscam no cinema referências estéticas e de direção. A série americana, claro, também é "fonte inspiradora".
O trabalho de quem dirige com o de quem escreve, em que um interfere na proposta artística do outro, tem funcionado muito bem. Haja vista que "o filme é do diretor" e "a novela é do autor", são produtos de curta duração – as séries e minisséries – que têm apresentado resultados mais interessantes. Talvez pelo formato, que possibilita um melhor acabamento, estética e artisticamente falando.
Veja os títulos: "A Vida Como Ela É…", em 1997, "Luna Caliente", em 1999, "Cidade dos Homens", em 2002, "Carandiru, Outras Histórias" e "Hoje é Dia de Maria", em 2005, "Antônia", em 2006, "Capitu" e "Ó Paí Ó", em 2008, "Som e Fúria" e "Força Tarefa", em 2009, "A Cura" e "Afinal, O Que Querem as Mulheres?", em 2010, "Amor em Quatro Atos", em 2011, "O Brado Retumbante" e "Subúrbia", em 2012, "O Canto da Sereia" em 2013, "Amores Roubados", "A Teia", "O Caçador", "Dupla Identidade" e "Eu Que Te Amo Tanto", em 2014.
Na história das telenovelas, tivemos diretores que ousaram, deixaram suas influências, imprimiram suas marcas, muitas vezes inspirados no cinema. Walter Avancini fugiu do obvio e apresentou tomadas de câmera criativas na novela "Gabriela" (1975). Daniel Filho interferia diretamente no texto de Janete Clair: foi dele a decisão de matar o protagonista Carlão (Francisco Cuoco) no último capítulo de "Pecado Capital" (1976). Jayme Monjardim fez o Brasil se encantar com as belezas do pantanal mato-grossense, em tomadas lentas e bucólicas – em "Pantanal" (1990).
Luiz Fernando Carvalho casou bem sua criatividade estética com o texto emotivo de Benedito Ruy Barbosa, em novelas como "Renascer" (1993) e "Meu Pedacinho de Chão" (2014). Também cito Amora Mautner e José Luiz Villamarim, os diretores de "Avenida Brasil" (2012). Amora já havia apresentado "Cordel Encantado" (2011) e Villamarim levou para a novela "O Rebu" (2014) a parceria cinematográfica com os roteiristas George Moura e Sérgio Goldemberg e o fotógrafo Walter Carvalho, que havia rendido a mini "Amores Roubados".
A telenovela, por ser um produto muito tradicional, ainda carece de ousadia. Os exemplos citados são bem sucedidos casos em que a mão (e a ótica) do diretor não só traduziu o texto do roteirista, como também agigantou sua ideia. Muito mais do que meros administradores de uma linha de produção, os diretores podem imprimir sua marca na obra do autor.
Desde que seja um casamento feliz. Independentemente de proposta artística ou estética, fico imaginando o que seria de "Em Família" se Manoel Carlos tivesse confiado sua novela a uma direção menos letárgica. Ou de "Império", nas mãos de outro diretor.
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