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“I Love Paraisópolis” tem boa estreia mas o excesso de agilidade confundiu

Nilson Xavier

12/05/2015 10h57

Tatá Werneck, Bruna Marquezine e Maurício Destri (Foto: Rodrigo Dau/Gshow)

Tatá Werneck, Bruna Marquezine e Maurício Destri (Foto: Rodrigo Dau/Gshow)

Estreou nessa segunda-feira (11/05), às sete horas, o novo conto de fadas da Globo, "I Love Paraisópolis", de autoria de Alcides Nogueira e Mário Teixeira, com direção de núcleo de Wolf Maya. Os autores buscaram referência em Cinderela, na história da menina pobre Marizete (Bruna Marquezine), moradora da comunidade de Paraisópolis, São Paulo, que se apaixona logo no primeiro capítulo pelo príncipe da história, Benjamim (Maurício Destri), que vive no reino, digo, no bairro vizinho, o abastado Morumbi.

A trama das nove, "Babilônia", também tem uma mocinha "batalhadora" moradora de uma favela (ou melhor, comunidade), Regina, de Camila Pitanga. A diferença entre elas e as duas novelas está exatamente no tom que cada trama adota. Enquanto "Babilônia" se propõe realista, "I Love Paraisópolis" idealiza o dia a dia mostrando o que a comunidade paulistana tem de bonito, sua gente batalhadora e sonhadora, e os demais tipos, nem tanto batalhadores.

Mas tudo bem idealizadinho, porque o povo quer sonhar à sete da noite e a novela das nove deu com os burros n´agua com sua proposta realista. Um exemplo é Grego, que na vida real seria uma espécie de bandido temido, chefe do tráfico e dono da favela, mas que na novela é o galã Caio Castro caracterizado de "mano".

A opção pela idealização também explica o título: Marizete e sua fiel escudeira coprotagonista Danda (Tatá Werneck) vão parar em Nova York para "tentar a América", passar por uma alguma dificuldade, cair na real e descobrirem que amam mesmo é Paraisópolis, where they belong.

A trama ainda bebe em "Hamlet", na relação do herói Benjamim com a mãe Soraya (Letícia Spiller), que uniu-se ao cunhado (Henri Castelli) após a morte do marido. Como na história shakespeariana, o casal tem sede de poder e o mocinho odeia o tio e ama/odeia a mãe. Letícia Spiller está mais para vilã de novela mexicana, propositalmente exagerada nos gestos e frases. Vejo aí outra referência: Soraya Montenegro, uma das maiores vilãs das novelas xicanas (de "Maria do Bairro"). Marizete seria a nossa Maria do Bairro… Paraisópolis, no caso.

A estreia foi boa mas movimentada em excesso. A edição pecou por querer mostrar agilidade e acabou atropelando a história e confundindo. Até os atores estavam com pressa em dizer suas falas. As primeiras palavras de Tatá Werneck em cena ficaram incompreensíveis. Mas acredito que esse é um problema que já deve se resolver a partir do segundo capítulo, quando o ritmo cair no normal. Não vi problemas com sotaque, mas é bom lembrar que é preferível ouvir um "mêishmo" carioca em Paraisópolis do que um falso paulistanês da Mooca.

Os que esperavam "a menor audiência do horário das sete da história" se surpreenderam: a estreia cravou 28 pontos em São Paulo. Sinal de que a Globo fez uma excelente campanha de lançamento e nomes como Bruna Marquezine, Tatá Werneck e Caio Castro têm peso. Mérito também da trama anterior, "Alto Astral", que passou o bastão lá em cima.

Os clichês de favela estavam todos lá, inclusive a mulher barraqueira. Marizete já mostrou na estreia que é uma gata borralheira das ariscas. Tomara que menos chorosa que a Maria do bairro mexicano.

No vídeo abaixo, um resumo do que falei acima!

"I Love Paraisópolis" tem referências à "Gata Borralheira" e "Hamlet"

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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