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“Além do Tempo”: estreia deixa claro que a novela se trata de um dramalhão

Nilson Xavier

13/07/2015 19h56

Paolla Oliveira, Rafael Cardoso e Alinne Moraes (Foto: Fábio Rocha/Gshow)

Paolla Oliveira, Rafael Cardoso e Alinne Moraes (Foto: Fábio Rocha/Gshow)

Bonitas imagens marcaram a estreia de "Além do Tempo", novela das seis de Elizabeth Jhin que a Globo estreou nesta segunda-feira, 13/07. Folhetim de época em produção esmerada, valorizada por belas paisagens do sul do país. A história se passa no século XIX, na fictícia Campobello, no Rio Grande do Sul. Para tanto, a Globo captou imagens das cidades de São José dos Ausentes e Garibaldi (RS).

Sai a trama naturalista de Lícia Manzo ("Sete Vidas"), e entra a folhetinesca história de amor entre Lívia e Felipe (Alinne Moraes e Rafael Cardoso), que, para ficarem juntos, enfrentarão vários percalços engendrados por vilões maniqueístas – como a antagonista Melissa (Paolla Oliveira) e a condessa Vitória (Irene Ravache), tia-avó do rapaz que não quer a aproximação entre eles.

Na contramão da novela anterior do horário, "Além do Tempo" junta uma série de elementos clássicos do folhetim com os pés bem fincados no mais puro dramalhão. Amores impossíveis, que se repetem em gerações, dificultados por vilões maniqueístas. O casal romântico central se apaixona à primeira vista já no primeiro capítulo. Ah, mas ela está abraçando a vida religiosa, e ele é comprometido. Pior ainda: suas famílias têm uma ligação de ódio do passado. Tudo isso embalado em uma roupagem bonita de produção de época da Globo, cheia de rapapés.

Essa história de amor atravessa o tempo, já que, após os 70 capítulos iniciais, haverá um salto de 150 anos na trama, quando o casal se reencontra em outra encarnação, nos dias atuais. Aí está o diferencial da novela de Elizabeth Jhin: o mesmo elenco retorna na contemporaneidade, com os mesmos nomes de personagens inclusive, mas em situações diferentes, vivendo outros dramas.

A ideia é fazer essas vidas expiarem erros do passado em uma nova encarnação. Assim, Irene Ravache, que vive a algoz de Ana Beatriz Nogueira nessa primeira fase, retornará para "pagar" suas maldades. Os primeiros 70 capítulos apresentam uma história fechada, com começo, meio e fim. Quando vem para o tempo atual, será uma outra história envolvendo os mesmos personagens, mas em situações diferentes. Talvez, por isso a abertura da novela – ao som de "Palavras ao Vento", na voz de Cássia Eller – passe uma ideia de atemporalidade, já que servirá para as duas fases.

A proposta é interessante e original. É como se fosse uma continuação de uma novela de época, no tempo atual. Como a trama é linear, o desafio é fazer o público se interessar pelas duas histórias, que são praticamente duas novelas diferentes.

A estreia foi bonita e correta. Irene Ravache já disse a que veio, foi o grande destaque no elenco com sua personagem má. Está claro que "Além do Tempo" se trata de um dramalhão – logo, sem compromisso com a realidade, inclusive histórica. É novela de época e fim. Não tem a pretensão de recontar a nossa História. A trama acontece em uma cidadezinha no sul do Brasil. Mas também podia se passar em uma cidadezinha no México.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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