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Há 35 anos, o país queria saber quem matou Miguel Fragonard de “Água Viva”

Nilson Xavier

17/07/2015 18h39

Raul Cortez e Betty Faria (Foto: Divulgação/TV Globo)

Raul Cortez e Betty Faria (Foto: Divulgação/TV Globo)

Há exatamente 35 anos, o público brasileiro se perguntava "quem matou Miguel Fragonard?" em mais uma movimentação coletiva acerca de uma telenovela da Globo. O folhetim em questão era "Água Viva", um sucessão escrito por Gilberto Braga com a colaboração de Manoel Carlos. Era a novela de Gilberto seguida ao grande êxito de "Dancin´ Days" (1978). E a estreia de Maneco como novelista no horário nobre da emissora. Particularmente, uma das novelas do autor que eu mais gosto.

A Globo, através de sua área comercial, lançou para venda o DVD da novela, em 11 discos com 33 horas de duração. Há pouco tempo (entre 2013 e 2014), "Água Viva" foi exibida pelo canal Viva com boa repercussão. Para quem estuda ou gosta de televisão, essa novela é um prato cheio. O excelente elenco, com texto inspiradíssimo dos roteiristas, resulta no registro de uma época em que a televisão era muito, muito diferente de hoje em dia.

Cenas longuíssimas aos olhos de hoje, com atores proferindo textos extensos e reflexivos, em interpretações marcantes, "Água Viva" reflete um tempo em que, apesar da fraca concorrência e escassez de outras vias de entretenimento, a TV também primava por qualidade artística. Um contraponto com a atualidade, em que é preciso segurar e fidelizar o espectador, uma vez que a audiência é pulverizada, não se prende mais a uma grade engessada, e tem várias outras opções para diversão (internet, TV a cabo, etc.).

dvd_agua_viva"Água Viva" é também vista hoje como um ótimo registro dos hábitos, costumes e modismos da classe média carioca da passagem das décadas de 1970 para 1980. Diferente de "Dancin´ Days", fechada em uma discoteca, "Água Viva" era uma novela com muitas externas, mais iluminada, que valorizava as belas paisagens do Rio de Janeiro de 1980.

Pesca submarina e windsurf foram esportes náuticos explorados na trama. A posição da mulher, descasada, que trabalha fora e sustenta os filhos (através da personagem Lígia, de Betty Faria), também foi abordada na novela – tema muito em voga na época, também discutido no seriado "Malu Mulher" e no programa "TV Mulher". O top-less, uma novidade no Brasil, virou discussão na história, através da socialite libertária Stella Simpson (este considerado o melhor trabalho de Tônia Carrero na TV).

A trama apresenta dois irmãos em conflito, o famoso e rico cirurgião plástico Miguel Fragonard (Raul Cortez) e o playboy falido Nelson (Reginaldo Faria), que disputam o amor da mesma mulher, Lígia, dividida entre a paixão e o futuro incerto de um, e o amor porto-seguro do outro. Também a pequena órfã Maria Helena (Isabela Garcia então com 12 anos) que, com a ajuda da amiga Sueli (Ângela Leal), se aproxima do pai que não conhecia, Nelson, que, por sua vez, nem sabia da existência dela.

Sobre o "quem matou?": em 1980, o telespectador ainda não estava saturado deste subterfúgio, hoje visto como "golpe baixo", mais usado como um recurso fácil para "despertar audiências adormecidas". O Brasil havia vivido, dois anos antes, a comoção do "quem matou Salomão Hayalla?", na novela "O Astro", de Janete Clair, que – literalmente – parou o país na exibição do último capítulo, em que se revelou a identidade do assassino. Outros tempos.

A trilha sonora, repleta de sucessos das rádios, também marcou época. Impossível não ouvir "Menino do Rio" – música de Caetano Veloso gravada por Baby Consuelo – e não associar à novela. No elenco, ainda Lucélia Santos, Fábio Jr, Glória Pires, Beatriz Segall, Cláudio Cavalcanti, Natália do Valle, Kadu Moliterno, José Lewgoy, Arlete Salles, Mauro Mendonça, Eloísa Mafalda, Carlos Eduardo Dolabella, Tamara Taxman, Fernando Eiras, Jorge Fernando, Maria Padilha e outros.

Quer saber quem matou Miguel Fragonard? Assista o DVD! Ou clique AQUI e vá na sessão Bastidores – tem tudo sobre "Água Viva", curiosidades, elenco completo, trilha sonora, etc.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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