Topo

Coadjuvantes de “I Love Paraisópolis” carregaram a novela “nas costas”

Nilson Xavier

06/11/2015 20h35

Caio Castro e Maria Casadevall - casal Gregot suplantou o casal principal Mariben (Foto: Inácio Moraes/Gshow)

Caio Castro e Maria Casadevall – casal Gregot suplantou o casal principal Mariben (Foto: Inácio Moraes/Gshow)

Com uma estreia promissora, a novela "I Love Paraisópolis" prometia muito quando começou. O primeiro capítulo cravou 29 pontos no Ibope da Grande São Paulo e teve grande repercussão nas redes sociais. A novela fecha com uma média geral de 24 pontos, a mais alta dos últimos três anos ("Sangue Bom", de 2013, fechou em 25).

Apesar dos números considerados bons, com o passar do tempo, a trama de Alcides Nogueira e Mário Teixeira (que terminou nesta sexta, 06/11) foi perdendo fôlego à medida que perdia público – quase 1 ponto por mês. Isso ajuda a explicar o seu desempenho.

A boa audiência e repercussão de "I Love Paraisópolis" se devem, principalmente, à popularidade de Bruna Marquezine e Caio Castro (com uma legião de fãs nas redes sociais, que sempre alavancam o "buzz" sobre os atores) e à escalação do elenco de coadjuvantes, em tipos carismáticos e divertidos. Não seria exagero afirmar que os personagens paralelos de "I Love Paraisópolis" carregaram a novela nas costas – ainda que, muitas vezes, suas histórias não passassem de esquetes de humor.

"I Love Paraisópolis" foi originalmente concebida para o horário das seis e tinha o título provisório de "Lady Marizete". Com a mudança de horário, investiu-se pesado nas tramas paralelas com comédia (mais condizentes com a faixa) e o título foi alterado sob a alegação de que eram duas protagonistas: além de Marizete (Bruna Marquezine), a sua irmã Danda (Tatá Werneck).

Todavia, com o desenrolar da novela, percebeu-se que 1) Danda não era protagonista, mas apenas mais uma personagem coadjuvante de humor, e 2) a trama central por si só (a história de amor de Mari e Ben) não rendia uma novela – nem das sete nem das seis! Mari e Ben começaram quentes – lembra das cenas no elevador? Mas os conflitos entre o casal esgotaram-se na segunda metade da trama, com o casamento. Foi quando Grego e Margot (Caio Castro e Maria Casadevall, numa química já testada anteriormente) dominaram o interesse romântico.

Marizete, sempre de cara fechada, fez Marquezine parecer pouco à vontade na pele de sua personagem. Com Maurício Destri, formou um casal apático, com química digna de uma salada de chuchu (com todo respeito ao vegetal!). Caio Castro, inicialmente vendido como o bandidão de Paraisópolis, acabou se tornando um personagem fofo com cara e fama de durão, mas que não metia medo nem em formiga. Conclusão: a trama central de "I Love Paraisópolis" foi se esvaindo com o passar do tempo. Tateando aqui e acolá, acabou perdidinha. Ao final, já não se sabia mais do que a novela se tratava.

Sobrou para os coadjuvantes, na ausência de uma trama central cativante e forte o suficiente que justificasse o grande público correr para a frente da TV diariamente na hora da novela. E aí "I Love Paraisópolis" mostrou o seu diferencial. Num elenco bem escalado, a novela foi recheada de momentos divertidos, com personagens carismáticos em situações engraçadas. Destaque para a direção (equipe de Wolf Maya), que abusou de clipagem com efeitos sonoros que remetiam a desenhos animados. E o roteiro criativo de Alcides Nogueira, Mário Teixeira e seu time de roteiristas.

Mérito também do elenco, claro. Relaciono os atores que – serei bem parcial agora – mais me agradaram: Letícia Spiller (Soraya), Nicette Bruno (Izabelita), Fabíula Nascimento (Paulucha), Babu Santana (Javai), Tatá Werneck (Danda), André Loddi (Paletó), Paula Barbosa (Olga), Frank Menezes (Júnior), Olívia Araújo (Melodia), Eduardo Dusek (Armandinho), Paula Cohen (Rosicler), Zezeh Barbosa (Dália), José Dumont (Expedito), Tuna Dwek (Ramira), Mariana Xavier (Claudete), José Rúbens Chachá (Fradique), Ilana Kaplan (Silvéria), Luana Martau (Mirela), Alice Borges (Tinoca), Ricardo Blat (Sabão), Márcio Rosário (Bazunga) e Leandro Daniel (Sereno).

Há de se elogiar a performance de Letícia Spiller, numa personagem cheia de nuances, ora vilã, ora engraçada, ora humanizada. O sotaque paulistano exagerado do início incomodou, mas foi amenizado (ou nos acostumamos a ele?). Nicette Bruno cativou com sua Izabelita, numa abordagem pertinente sobre o Alzheimer. Caio Castro fez uma composição interessante de Grego, ainda que caricato. Tatá Werneck, criticada pela dicção ruim, usou o problema a seu favor, quando Danda começou a enrolar no inglês (embromation).

A trilha sonora não se limitou ao funk ou rap de periferia, como se poderia imaginar. Além de dois meninos cantores, a novela mostrou ainda o viés artístico da comunidade, como um núcleo com uma escola de balé.

Outro ponto positivo de "I Love Paraisópolis" foi a forma como a comunidade foi abordada. Ainda que fantasiosa (seria impossível mostrar a realidade nua e crua no horário), a novela nunca deixou de reivindicar questões sociais pertinentes. Não escancarou violência ou problemas públicos como saúde ou transporte – mas foram citados. Também abordou o racismo e o preconceito social de forma inteligente e informativa.

Siga no FacebookTwitterInstagram

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier