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TOP 10 destaques entre as novelas de 2015, para o bem e para o mal

Nilson Xavier

03/01/2016 20h09

Além do Tempo / Babilônia / Os Dez Mandamentos (Foto: Divulgação)

Além do Tempo / Babilônia / Os Dez Mandamentos (Foto: Divulgação)

Apesar das duas principais novelas da Globo (das 21 horas) em 2015 ("Babilônia" e "A Regra do Jogo") não terem "emplacado", propriamente dito, entre o público – entenda com audiência aquém da expectativa – considero que esse ano fecha com saldo positivo na Teledramaturgia. Foi o ano de "Verdades Secretas", das ótimas tramas das seis ("Sete Vidas" e "Além do Tempo") e do furacão "Os Dez Mandamentos", que mexeu com a hegemonia da Globo. Abaixo, uma retrospectiva do que rolou em 2015, dividida em 10 tópicos.

01. As retas finais de "Império" e "Alto Astral"

"Boogie Oogie", "Alto Astral" e "Império", as três novelas da Globo que entraram em 2015 enfrentando o horário de verão (quando o Ibope é menor), não podem ser consideradas grandes sucessos de audiência. Entretanto, com exceção de "Boogie Oogie" (que começou o ano perdendo fôlego, sem muita história para contar a não ser o famigerado "segredo de Carlota"), as outras duas apresentaram uma notável performance em suas retas finais.

"Alto Astral" (que terminou em maio) começou (em 2014) despretensiosa, chamada de "bobinha" por muitos, mas foi comendo pelas beiradas e alavancou a audiência do horário das sete, conquistando público e recuperando o prestígio perdido na faixa. "Império" (que terminou em março), por sua vez, teve seu ápice em 2015, com o mistério envolvendo o personagem Fabrício Melgaço e a "nova" Cora encarnada em Marjorie Estiano.

O mesmo não se pode dizer da concorrência: "Vitória" (da Record, que terminou em março) amargou o terceiro lugar na audiência, e "Chiquititas" (do SBT, que começou em julho de 2013 e terminou em agosto de 2015), só enrolou em seus últimos meses.

02. Reprises

O sucesso do repeteco de "O Rei do Gado" no "Vale a Pena Ver de Novo" deu o que falar, afinal, não era esperado nem pela Globo – chegou a bater de frente, na audiência, com "Malhação" e a novela (inédita) das seis. "Caminho das Índias", que a substituiu, não conseguiu manter o mesmo patamar.

Sobre reprises vespertinas, o SBT continua indo bem: em 2015 emplacou a sexta reexibição das mexicanas "A Usurpadora" e "Maria do Bairro". A Record, vendo o potencial das reprises da tarde, também embarcou na onda, promovendo o retorno de "Dona Xepa", "Prova de Amor" e "Chamas da Vida" – as duas últimas ainda em exibição.

Já no canal Viva, a volta de "Cambalacho" – um clássico da década de 1980 – vale a citação pela idade da obra (29 anos da exibição original) e pelo anseio do público saudosista do canal, que pede novelas mais antigas.

03. "Malhação Sonhos"

A "novela jovem" das tardes da Globo, de vez em quando, solta uma daquelas temporadas que ficam para a prosperidade, pelo sucesso e repercussão. Aconteceu novamente em 2014-2015, com "Malhação Sonhos", uma história bem amarrada pelos roteiristas Rosane Svartman, Paulo Halm e Márcio Wilson, em personagens carismáticos que arrebanhou fãs – e uma grande torcida pelo casal Pedro e Karina (Rafael Vitti e Isabella Santoni).

Verdades Secretas / A Regra do Jogo / Malhação Sonhos (Fotos: Divulgação)

Verdades Secretas / A Regra do Jogo / Malhação Sonhos (Fotos: Divulgação)

04. "Sete Vidas"

A qualidade do texto (Lícia Manzo), aliado à direção (Jayme Monjardim) e o ótimo elenco, fizeram desta uma das melhores novelas do ano. Na contramão do folhetim tradicional, a autora apresentou uma trama que priorizou as relações humanas, a sutileza e os diálogos, sem precisar abrir mão do ritmo narrativo pertinente à telenovela. Na ausência de vilões e mocinhos maniqueístas, a autora continua apostando na sensibilidade e na psicologia dos personagens – seu grande diferencial e mérito. Um grande momento: a sequência em que os irmãos confraternizam em um parque de diversões.

05. "Babilônia"

A maior decepção do ano na teledramaturgia. A novela começou a todo vapor, com um primeiro capítulo excelente, que gerou memes na Internet e exibiu um inesperado beijo romântico entre as personagens de Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg. Mas foi perdendo fôlego já ao longo da primeira semana. Diante da fuga da audiência, a Globo optou pelo pior: mexeu totalmente na história, descaracterizando tramas e personagens. Virou um frankenstein novelístico. "Babilônia" acabou amargando a pecha de "menor Ibope das novelas das 8/9 da história da Globo". Uma lástima. Contudo, o show diário de Arlete Salles valeu a espiada.

06. "Os Dez Mandamentos"

O maior buchicho de 2015 na Teledramaturgia. A novela bíblica da Record conseguiu um feito inédito: em 45 anos de Globo, bateu a audiência em seu horário nobre – ainda que por alguns capítulos. As pragas do Egito e a travessia do Mar Vermelho despertaram a curiosidade até mesmo de quem não era afeito ao assunto. Entretanto, a emissora não soube administrar a inesperada repercussão de sua novela. Atrapalhada, prolongou esse sucesso o quanto pôde, cansando o público, e não preparou uma substituta à altura – apesar de ter uma novela (não bíblica) pronta para estrear, "Escrava-Mãe". Como "sutileza pouca é bobagem", a versão em filme já é anunciada nos cinemas para breve, assim como uma curta continuação (será?), que servirá como prólogo para a próxima trama bíblica da emissora.

07. "I Love Paraisópolis" e "Cúmplices de um Resgate"

Duas novelas que cumpriram o que se esperava delas. "I Love Paraisópolis" herdou a boa audiência de "Alto Astral" e até alavancou um pouquinho a faixa, destacando-se pelos divertidos personagens coadjuvantes, que suplantaram os protagonistas. "Cúmplices de um Resgate" mantem o público infanto-juvenil do SBT cativo na faixa – mesmo tendo batido de frente com "Os Dez Mandamentos". Espera-se que o SBT não cometa o erro de prolongar demais a novela.

A propósito: "Totalmente Demais", que substituiu "I Love Paraisópolis" em novembro, entrará na retrospectiva de 2016.

A sequência do parque de diversões em

A sequência do parque de diversões em "Sete Vidas", uma das mais belas do ano (Foto: Divulgação)

08. "Verdades Secretas"

Outra das melhores novelas do ano. O autor, Walcyr Carrasco, praticamente reinventou-se com uma trama envolvente e forte. E não teve pudores ao abordar prostituição, sexo e drogas, com direito a muitos "nudes". Grazi Massafera chamou para si a atenção em uma trama paralela que impressionou pelo realismo da caracterização e cenários (a cracolândia de São Paulo). Grandes atuações também de Marieta Severo, Eva WilmaDrica Moraes. E a excelente direção de Mauro Mendonça Filho, que, desta vez, conseguiu minimizar uma ou outra derrapada do autor no texto.

09. "Além do Tempo"

A terceira (e última) das "melhores novelas do ano". Enquanto Lícia Manzo afastou-se do folhetim clássico em "Sete Vidas", sua substituta, Elizabeth Jhin, pisou fundo para conduzir uma trama repleta dos mais rasgados clichês folhetinescos. Só que de forma envolvente e cativante. E, mesmo assim, conseguiu alguma subversão da fórmula, ao contar sua história em dois tempos, ou melhor, em dois séculos, usando os mesmos personagens em encarnações distintas. Lamenta-se apenas a perda de fôlego nesta segunda fase. Mesmo assim, a novela caminha para um desfecho eletrizante, como já ocorreu em seu ápice, no final da primeira fase e a passagem para a segunda. Destaca-se ainda a direção (equipe de Rogério Gomes) e o elenco afiado, com grandes performances de Irene Ravache e Ana Beatriz Nogueira.

10. "A Regra do Jogo"

A expectativa pela nova novela de João Emanuel Carneiro – "o mesmo autor de 'Avenida Brasil'" – era grande. A frase "quanto maior a expectativa, maior a decepção" aplica-se a esse caso. A novela estreou no momento de maior promoção de "Os Dez Mandamentos" e boa parte do público continuou rejeitando tramas realistas, como aconteceu com a anterior, "Babilônia". Com o fim da produção bíblica da Record, "A Regra do Jogo" ganhou em audiência. Mas dificilmente a novela será "um grande sucesso". Nem a "caixa cênica" da diretora Amora Mautner e nem a trama seriada foram capazes de conquistar o público. O elenco é estelar (com destaque para Alexandre Nero, Tony Ramos, Giovanna Antonelli e a participação de Cássia Kiss) e a trama central é boa, mas falta folhetim e sobra trama paralela desinteressante que só serve para "encher linguiça".

Bônus

A única minissérie exibida em 2015, "Felizes Para Sempre?" foi uma coprodução da Globo e O2 Filmes, baseada numa antiga minissérie de Euclydes Marinho. Dessa vez, o palco foi Brasília, o que trouxe um frescor, pelo menos em termos de ambientação. A trama de sexo e bastidores do poder, envolvendo uma família, prendeu o público ao longo de seus dez capítulos. Mas o que deu o que falar mesmo – e pelo que a produção será sempre lembrada – foi a nudez de Paolla Oliveira, inesquecível como a prostituta Danny Bond. Em dezembro, a Globo Marcas lançou o DVD da minissérie, num box com 3 discos e cerca de 6 horas e meia de duração.

Ainda: TOP 10 Séries nacionais que se destacaram em 2015.

Leia também as críticas finais com os balanços de
"Império": Bom elenco e direção não conseguiram livrar a novela da trama irregular.
"Alto Astral": Trama simples levantou o moral do horário das sete da Globo.
"Babilônia": Provocativa e pretensiosa, novela afastou-se do folhetim e fracassou.
"Sete Vidas": A TV precisa de mais bons roteiros e sutileza como em "Sete Vidas".
"Verdades Secretas": Bom exemplo de união entre roteiro, direção e elenco.
"Os Dez Mandamentos": Pirotecnia desviou atenção da fraca direção de elenco.
"I Love Paraisópolis": Coadjuvantes carregaram a novela "nas costas".

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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