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“Haja Coração” atira para todos os lados a fim de atingir um público maior

Nilson Xavier

07/10/2016 11h23

Werner Schünemann e Betty Gofman (Foto: Ellen Soares/TV Globo)

Werner Schünemann e Betty Gofman (Foto: Ellen Soares/TV Globo)

Faltando um mês para o término da novela "Haja Coração", seu autor, Daniel Ortiz, deu um novo gás à história com a entrada de novos personagens (a maioria prometidos desde o início) e o desembaraço de várias tramas. E o público vem respondendo muito bem à produção. A novela tem até o momento uma média de 27 pontos no Ibope da Grande São Paulo, superior à do último sucesso da faixa, "Totalmente Demais" (25 pontos até o capítulo 106).

Nesta reta final, vários entrechos aguardados tomaram forma finalmente: o despertar do amor de Tancinha (Mariana Ximenes) por Beto (João Baldasserini) e de Rebeca (Malu Mader) por Aparício (Alexandre Borges), o envolvimento de Apolo (Malvino Salvador) com Tamara (Cléo Pires), a volta da Camila Má (Ágatha Moreira), e a chegada de Vitória (Betty Gofman) e Guido (Werner Schünemann) com a descoberta de que eles são casados.

A participação de Cristina Pereira (como Safira Abdala) deu uma ótima reciclada no núcleo de Fedora (Tatá Werneck) e Leozinho (Gabriel Godoy), que, por sua vez, andava chato e repetitivo. Cristina, tantos anos sem uma grande personagem de humor em novelas, voltou com tudo, nos fazendo lembrar de seus papeis divertidos do passado (em "Sassaricando", "Vereda Tropical", "Guerra dos Sexos", "TV Pirata"). Novelistas, escrevam mais para ela! Safira saiu de cena para a volta de Teodora (Grace Gianoukas), mas poderá retornar até o fim da trama.

"Haja Coração" é uma novela bastante diversificada, até em suas abordagens e narrativa. Tem umas tramas fáceis demais, rasas, com um texto escapista – como #Shirlipe, o amor de Shirlei e Felipe (Sabrina Petraglia e Marcos Pitombo). É uma historinha piegas. O autor sabe disso e sabe que existe um público ávido por consumir esse tipo de narrativa. Concordo com o colega Maurício Stycer, que tachou a novela de infantil (assista AQUI). #Shirlipe vai de encontro ao anseio infanto-juvenil com a reprodução do mais clássico dos contos de fadas. Outro exemplo de que algumas situações parecem escritas para crianças está nas aulas de balé de Tancinha. Ela sofre bullying das colegas… que parecem ter o que… 8 anos?

Renata Augusto e Ellen Roche (Foto: Divulgação/TV Globo)

Renata Augusto e Ellen Roche (Foto: Divulgação/TV Globo)

Ao mesmo tempo, em outras tramas, "Haja Coração" apresenta um humor mais sofisticado. Continuo achando o núcleo das três amigas – Rebeca, Penélope e Leonora (Malu Mader, Carolina Ferraz e Ellen Roche) o melhor de todos, disparado. Malu Mader divide bem cenas de humor com Marcelo Médici (o Agilson). Ellen Roche está muito divertida, é uma das melhores personagens da novela e o texto do autor é especialmente afiado para a atriz. A dobradinha com Renata Augusto (a empregada Dinalda) é excelente.

Talvez o maior mérito de "Haja Coração" seja exatamente esse, atirar para todos os lados a fim de atingir um número maior de público. O telespectador do horário das sete da noite é o mais diversificado, o que engloba todas as faixas: crianças, adolescentes, adultos e idosos. Daniel Ortiz tenta encontrar a medida equilibrada para entregar um produto que agrade a gregos e troianos. "Totalmente Demais", o sucesso anterior, também era a reprodução da Cinderela, em um texto sofisticado. Quem sabe uma tendência para o horário, conhecido como o mais difícil de todos.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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