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Balanço 2016: “Justiça” foi o destaque entre séries nacionais de pouca repercussão

Nilson Xavier

25/12/2016 07h00

Elenco de

Elenco de "Justiça" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Um dos maiores sucessos na TV brasileira em 2016, a série "Justiça" (roteiro de Manuela Dias, direção artística de José Luiz Villamarim) trouxe uma trama original numa produção de qualidade artística que nos faz sentir orgulho de nossa televisão. Quatro histórias que se intercalavam diariamente, mas que se fundiam, tendo a justiça como tema – não a das leis dos homens, mas a pessoal, de cada protagonista. Ainda que com um ou outro furo ou discrepância no roteiro, a atração prendeu e emocionou o público, principalmente por conta das interpretações marcantes de Adriana Esteves, Débora Bloch, Jesuíta Barbosa, Camila Márdila, Enrique Diaz, Leandra Leal, Jéssica Ellen, Luísa Arraes, Júlio Andrade, Antônio Calloni e Drica Moraes. Hallellujah!

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Da mesma Manuela Dias de "Justiça", a Globo exibiu no início do ano a minissérie "Ligações Perigosas", versão brazuca para o clássico de Choderlos de Laclos, mais conhecido por suas versões cinematográficas. Outro trabalho irretocável de Patrícia Pillar, que brilhou ao lado de Selton Mello, Marjorie Estiano e Alice Wegman, numa produção requintada, sofisticada, charmosa, como pede o roteiro original.

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Elenco de "Supermax" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Neste final de ano, a Globo apresentou "Nada Será Como Antes" (direção de José Luiz Villamarim, de "Justiça") e "Supermax" (direção de José Alvarenga Jr.). A primeira pedia uma exibição diária, por conta de sua narrativa: exibir uma vez por semana revelou-se um erro estratégico da emissora. Os destaques foram Bruna Marquezine, a direção de arte e a fotografia, com a recriação dos primórdios da televisão no Brasil, na década de 1950. Achei que poderiam ter aproveitado a produção para se aprofundar na História da TV, porém entendo que essa não era a sua proposta principal.

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"Supermax" foi uma boa novidade do ano. Uma série de terror e suspense, como nunca se viu na TV aberta brasileira. Valeu pela ousadia da emissora e como experiência. O público torceu o nariz e não respondeu (a audiência foi baixa). Eu, particularmente, curti muito. Mas a série só prendeu mesmo após o quarto episódio. Até então, a direção errou a mão algumas vezes. Uma falha chamar Pedro Bial para apresentar o reality-show dentro programa. "Supermax" não tinha a pretensão de ser uma atração popular. Misturar as estações confundiu e afugentou tanto a parte do público que gosta de realities quanto a parte ávida por terror.

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Elenco de "3%" (Foto: Divulgação/Netflix)

Coprodução do SBT com a Mixer e a Fox, a série "A Garota da Moto" tem uma proposta até interessante (a segunda temporada está garantida para 2017). Mas a realização deixou a desejar. Texto puxado para o melodrama em um elenco meio a meio, entre boas atuações e outras nem tanto. Chris Ubach mandou bem como a protagonista Joana. O mesmo não se pode dizer de Daniela Escobar, como a vilã maniqueísta que parecia saída de uma novela mexicana. Fora o núcleo do escritório de moto-entregas, que se pretendia engraçado… só que não.

A Netflix levou ao ar sua primeira produção brasileira, "3%", com segunda temporada garantida – precisava? Produção, cenários e figurinos capengas e elenco do qual se salvam apenas Bianca Comparato (Michele), Vaneza Oliveira (Joana) e Michel Gomes (Fernando). Nem a presença de alguns atores veteranos convencem perder o tempo em assistir.

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Chris Ubach em "A Garota da Moto" / Lázaro Ramos e Taís Araújo em "Mister Brau" (Fotos: Divulgação)

Já a segunda temporada de "Mister Brau" manteve a qualidade e o texto afiadíssimo da primeira (e terá terceira em 2017), com as interpretações estimulantes de Lázaro Ramos e Taís Araújo em total sintonia com o elenco coadjuvante. Na pauta, assuntos pertinentes (machismo, racismo, etc) tratados com fino humor e irreverência. Um luxo de texto. Essa merece continuar!

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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