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Série “Sem Volta” chega à última semana com mais cenas de ação do que história

Nilson Xavier

16/01/2017 07h00

Roger Gobeth e Juliana Schalch entre os destaques de

Roger Gobeth e Juliana Schalch entre os destaques de "Sem Volta" (Foto: Munir Chatack/Record)

A série "Sem Volta", da Record (coprodução com Panorâmica e Chatrone), foi anunciada com referências às americanas "Lost" e "The Walking Dead". O roteiro é assinado por Gustavo Lipsztein e a direção é de Edgard Miranda. Passados 8 de seus 13 episódios, não há sinal de "The Walking Dead" – a não ser  a insistência em focalizar uma fratura exposta na perna do personagem de Silvio Guindane, já interrompida porque a perna do rapaz acabou amputada.

Lembra "Lost", afinal trata-se de um grupo de pessoas perdidas na mata passando por dificuldades. E a referência acaba aí. A bem da verdade, mais da metade de "Sem Volta" já foi exibida e o roteiro ainda não disse a que veio. A história não evolui. A trama não passa dos perrengues do grupo no meio da floresta, em cenas entremeadas com flashbacks dos personagens e com o núcleo que providencia o resgate. Só que o resgate, de fato, só começou no oitavo capítulo.

Se a intenção era deixar o melhor para a última semana, que fosse editada para 10, 8 episódios, ao invés de 13. A produção então compensa com sequências de ação que nada contribuem para a história. E ainda: para fazer a cena de ação parecer maior do que ela realmente é, a trilha sonora é retumbante e exagerada. A trilha é sempre importante, mas não mais que a ação em si.

Um exemplo de sequência camuflada de ação que nada agrega à narrativa: a personagem de Rhaisa Batista, num ímpeto de coragem e irresponsabilidade, resolve ajudar o amigo que não conseguia fazer a travessia do precipício em uma corda, mesmo sabendo do grande risco da corda arrebentar com o peso dos dois. Sinceramente, eu esperava que o roteiro me surpreendesse e eles caíssem – justificaria a sequência. Mas não. Foi mais uma "cena de ação" que só serviu para encher linguiça – e nem ficou boa.

Ainda assim, "Sem Volta" tem muitas qualidades. As locações reais fazem toda a diferença (Serra dos Órgãos, em Teresópolis, RJ). O elenco é bom, com destaque para as ótimas interpretações de Roger Gobeth, Juliana SchalchSilvio Guindane e Flávia Monteiro, que vivem personagens intensos e interessantes.

Tecnicamente falando, "Sem Volta" faz bonito. A produção usa todos os recursos e efeitos possíveis, e se dá bem, mesmo o público sabendo que foi usado cromaqui ou dublagem. Apesar das sequências que só enchem o roteiro, existem outras bem boladas e até criativas – como a queda da personagem de Flavia Monteiro num precipício por causa de uma pedrada – a melhor cena da série.

"Sem Volta" representa um avanço louvável nesse segmento (a dramaturgia de ação) em nossa televisão, ainda mais por se tratar de TV aberta. Só que cena de ação por cena de ação (ainda que bem feita) não prende público. O sucesso de "Lost" e "The Walking Dead" se deve bem mais às suas tramas do que exclusivamente às cenas de ação ou efeitos especiais. "Sem Volta" entra em sua última semana com mais "cenas de ação" do que história.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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