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70 Anos de Regina Duarte: 10 fatos que você não sabe sobre a carreira da atriz

Nilson Xavier

05/02/2017 07h00

Regina Duarte como Clô Hayalla em

Regina Duarte como Clô Hayalla em "O Astro"

A Namoradinha do Brasil completa 70 anos neste dia 5 de fevereiro – 55 dos quais de carreira, nos palcos, no cinema e, principalmente, na televisão. Carismática, através de suas personagens e popularidade, Regina tornou-se uma figura icônica para as Artes do país. Abaixo, listo 10 fatos de sua carreira televisiva que talvez você desconheça.

1. Descoberta num comercial de geladeira

Com 16 anos, Regina Duarte já fazia publicidade. Também teatro amador, mas nunca havia atuado profissionalmente. Em 1965, Walter Avancini, então diretor da TV Excelsior, viu a garota num comercial do refrigerador Frigidaire – "não era nem a minha voz, eu era dublada". O diretor estava escalando para uma novela e fez uma entrevista rápida. Regina contou para o livro "Walter Avancini, o último artesão" (de Ângela Britto):
"- Eu queria que você lesse um texto – pediu.
Li apenas quatro ou cinco linhas e ele interrompeu.
– Pode parar. Tem um timbre de voz bonito. Um bom timbre e boa dicção. Faz teatro?
– Faço – respondi. (…)
Conversamos um pouco e ele disse:
– Pode passar na produção, eles vão dar um dia que você terá que vir aqui provar a roupa. Estamos em cima da hora e quero que você faça o papel. (…)
A partir daí, foi um tumulto em minha vida."
A novela era "A Deusa Vencida", de Ivani Ribeiro, o papel era Malu, uma moça sonsa que se fazia de doente e escrevia cartas anônimas ameaçando os demais personagens. Foi sua estreia na televisão e seu primeiro sucesso.

2. Traumatizada pelo diretor

Semanas antes do término das gravações de "A Deusa Vencida", Walter Avanicni avisou Regina que ela teria uma grande cena no último capítulo. Avancini era um profissional exigente, enérgico e temido por todos. Regina contou ao livro "Walter Avancini, o último artesão":
"Passei por uma experiência traumática, terrível, com ele (…) Era um grande monólogo, de vinte e tantas páginas (…) Até então, nunca tinha tido mais do que oito, dez falinhas de uma linha (…) Recebi o texto numa quarta para gravar na segunda. Entrei em pânico, não conseguia decorar, me deu um bloqueio (…) Ele começou a gravar a minha cena às 18h e às 22h eu ainda não tinha conseguido. Avancini não queria parar, queria que eu dissesse as vinte e tantas páginas direto (…) Tive um surto, uma coisa terrível, um elenco inteiro me olhando…".
Diante da incapacidade da atriz, Avancini tentou gravar a cena por partes, mas nem assim Regina conseguiu. No momento em que sua personagem tinha que chorar, o diretor exigiu mais e mais emoção, até que ela, estafada, perdeu o controle e caiu num choro compulsivo. O diretor finalmente mandou parar a gravação para continuar no dia seguinte. Regina conta que chorou sem parar duas horas seguidas.

Com Tarcísio Meira, em

Com Tarcísio Meira, em "A Deusa Vencida" – a primeira novela

3. Papel de ET

Em 1969, ano em que o homem pisou na Lua pela primeira vez, Ivani Ribeiro apresentou na TV Excelsior a novela "Os Estranhos", sobre seres extraterrestres que vinham à Terra para ajudar os homens a resolver seus problemas. Regina era a ET Melissa, com direito a figurino especialmente confeccionado e condizente com sua condição de ser de outro planeta. Rosamaria Murtinho, Cláudio Corrêa e Castro, e outros, também eram ETs. Uma curiosidade: o rei Pelé atuou nessa novela, no papel de um escritor, sem se comprometer muito, já que seu personagem tinha poucas falas.

Com Stênio Garcia e Pelé, em

Regina como uma ET, com Stênio Garcia e Pelé, em "Os Estranhos"

4. Abandonou a novela pela metade para ir para a Globo

Foi em 1969, durante a novela "Dez Vidas", de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior. A emissora paulista passava por sua derradeira crise. Diante de pagamentos atrasados, Regina não teve dúvida: aceitou o convite de Boni para mudar-se para a Globo e abandonou as gravações de "Dez Vidas", em que interpretava a personagem Pompom. Foi substituída na novela por Leila Diniz. Eram tempos em que os contratos dos atores eram menos rígidos que hoje. Na Globo, Regina foi recebida com status de estrela: foi protagonizar a novela "Véu de Noiva", de Janete Clair, no papel de Andreia, com direito a menção nas chamadas: "Só mesmo Andreia traria Regina Duarte para a Globo!"

Em

Em "Véu de Noiva", estreia na Globo

5. O título "Namoradinha do Brasil" veio depois

Atribui-se o apelido às personagens cândidas e românticas que Regina interpretou entre os anos de 1960 e início dos 70, sendo o auge a sua atuação na novela "Minha Doce Namorada", em 1971. Mas o título não surgiu nessa época. Em depoimento ao Memória Globo, Regina afirmou que só depois passou a ser chamada de "Namoradinha do Brasil", quando já havia decidido dar um rumo diferente à sua carreira, de forma a se afastar da imagem de mocinha romântica e sofredora. Foi em 1975, em uma entrevista às "páginas amarelas" da Veja, por ocasião da peça "Réveillon", em que viveu uma prostituta. O título da reportagem era "A EX-NAMORADINHA DO BRASIL". "O título da novela ['Minha Doce Namorada'] veio a inspirar a imprensa, anos depois, a me chamar de 'Namoradinha do Brasil' (…) Mas já como 'ex' porque eu já estava rompendo com essa imagem…".

Com Cláudio Marzo, em

Com Cláudio Marzo, em "Minha Doce Namorada"

6. As gravidezes que atrapalharam as novelas

Regina tem três filhos: André, Gabriela e João Ricardo. As gravidezes dos dois primeiros aconteceram enquanto atuava na televisão. Regina ficou grávida de André quando vivia a personagem Ritinha de "Irmãos Coragem" (1970-1971). Como saída, a autora, Janete Clair, fez com que a personagem ficasse também grávida. Na novela, Ritinha dá a luz a uma menina e a batiza de Gabriela. Na vida real, nasceu André. Em 1973, Regina estava na novela "Carinhoso", de Lauro César Muniz, quando ficou grávida pela segunda vez. Neste caso, a gravidez da atriz interrompeu a produção, pois se sua personagem (Cecília) engravidasse, acabaria a história dela. Assim, "Carinhoso" teve que ser encurtada. Nos últimos capítulos, a câmera tentava esconder ou disfarçar o barrigão da atriz. Regina deu a luz a uma menina e usou o nome da filha de Ritinha de "Irmãos Coragem": Gabriela. João Ricardo nasceu em 1981, ano em que a atriz estava fora da televisão.

Com Cláudio Marzo, em

Com Cláudio Marzo, em "Carinhoso" – barriga de grávida escondida

7. Prêmio recusado

Até 1975, Silvio Santos exibia seu programa dominical na Globo e todo ano promovia o Troféu Imprensa, com a presença do elenco da emissora (como Faustão faz hoje com o Melhores do Ano). Regina Duarte foi eleita a Melhor Atriz de 1973 por sua atuação em "Carinhoso". Mas na hora de receber o prêmio, num gesto de generosidade, a atriz fez um discurso em que repassava a estatueta à sua colega Eva Wilma, em reconhecimento pelo trabalho dela na novela "Mulheres de Areia", da concorrente TV Tupi.

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8. Fora da Globo

joanaAconteceu em 1984. A atriz deixou a Vênus Platinada para protagonizar uma produção independente do diretor Guga de Oliveira (irmão do Boni): o seriado "Joana", que foi exibido na TV Manchete e, no ano seguinte, no SBT. Essa foi a única vez em que Regina, depois de ter sido contratada pela Globo (em 1969), foi vista em outro canal. A proposta do seriado era muito parecida com a de "Malu Mulher": as protagonistas eram mulheres "empoderadas", em conflitos com os seus respectivos filhos e ex-maridos.

9. Regina custou para encontrar o tom da Viúva Porcina

Com a recusa de Betty Faria para interpretar a Viúva Porcina (ela foi a Porcina original, da versão censurada de "Roque Santeiro", em 1975), algumas atrizes foram cogitadas para a nova versão, de 1985: Marília Pêra, Vera Fischer, Sônia Braga e Natália do Valle. Só depois veio o nome de Regina Duarte. Em princípio, os diretores Daniel Filho e Paulo Ubiratan ficaram apreensivos: como fazer a ex-namoradinha do Brasil se transformar na caricata amante nacional? Mas Ubiratan apostou nela. Ao dirigir as primeiras cenas, o diretor não ficou satisfeito com o tom de voz da atriz e trancou-se com ela no estúdio por uma hora, mais ou menos. Quando retornaram, Regina havia incorporado a Viúva Porcina que ficamos conhecendo – vários tons acima – e que se tornou uma das personagens mais emblemáticas da televisão.

Com Lima Duarte, em

Com Lima Duarte, em "Roque Santeiro", de namoradinha do Brasil a amante nacional

10. Não queria que a novela acabasse

"'História de Amor' eu não queria que acabasse nunca! Cheguei a dizer para o Boni: 'Não dá para ficar como aqueles seriados de antigamente, que duravam cinco, dez, quinze anos?' Eu queria ficar fazendo 'História de Amor' para sempre! Ele ria e dizia: 'Não. Tem que acabar. Mas a gente faz outra depois'. E, realmente, um ano depois, ele me chamou para fazer o que, para mim, era 'História de Amor 2', mas que teve o nome de 'Por Amor'. E ainda chamou a Gabriela para fazer a minha filha. Foi o máximo!", declarou Regina para o Memória Globo.
A Helena de "História de Amor" (1995-1996) é a minha preferida das Helenas do novelista Manoel Carlos. Além desta e a de "Por Amor" (1997-1998), Regina viveu ainda a Helena de "Páginas da Vida" (2006).

Com José Mayer, em

Com José Mayer, em "História de Amor", a melhor Helena

Leia também: 7 momentos dos 70 anos de Regina Duarte.
Fotos: divulgação.
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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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