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“Novo Mundo”: Assédio de Dom Pedro contra Anna remete ao caso José Mayer

Nilson Xavier

07/04/2017 11h10

Anna (Isabelle Drummond) | Dom Pedro (Caio Castro) (Foto: divulgação/TV Globo)

Em uma semana em que se falou tanto sobre assédio, tema motivado pela repercussão do caso José Mayer (leia AQUI), a novela "Novo Mundo", curiosa e coincidentemente, está exibindo um entrecho sobre a questão, envolvendo a heroína Anna Millman (Isabelle Drummond) e o personagem real Dom Pedro (Caio Castro), que assedia a jovem insistentemente.

Anna tem se revelado uma mocinha clássica de folhetim. Apesar de já demonstrado, em algumas situações, uma personalidade forte, a moça tem servido apenas de joguete nas mãos de personagens masculinos inescrupulosos. Ao ser afastada de seu amor, Joaquim (Chay Suede), Anna ficou à mercê de Dom Pedro e do vilão Thomas (Gabriel Braga Nunes), que deseja desposá-la custe o que custar.

Apesar de não ter cedido ao cerco de Pedro, Anna fraquejou ao não denunciar o príncipe à mulher, Leopoldina (Letícia Colin) – o que vai na contramão do que se discute em nossa realidade atual. De certa forma, Anna reflete o caso de muitas mulheres em posições hierárquicas inferiores aos seus assediadores. Ela, uma súdita de sua alteza, teme pelo que possa lhe acontecer.

Foto: Ellen Soares/TV Globo

Qual a saída da personagem para fugir de seu algoz? Inventou um namoro de fachada com Thomas, que ela pensa ser seu amigo. Mas Pedro continuará usando de seu poder e influência para conseguir o que deseja. Ele não desistirá tão fácil. Seu próximo passo será afastar Thomas de Anna – como Thomas fez com Joaquim, diga-se de passagem.

O Dom Pedro da História tem fama de conquistador. O da novela, igualmente, parece não ter outros afazeres a não ser correr atrás de rabos-de-saia. Mesmo casado com Leopoldina, o homem "não se emenda" (citando Letícia Sabatella). Foi também assim retratado na minissérie "O Quinto dos Infernos" (2002), na qual o personagem era defendido por Marcos Pasquim.

É do senso comum referir-se a Dom Pedro como um "conquistador", haja vista sua fama de homem com muitas amantes e filhos fora do casamento. Em dias atuais, esse adjetivo pode ganhar novas dimensões. Afinal, qual a linha que separa o conquistador do assediador? O consentimento da outra parte – quando ele de fato existir.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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