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5 erros de “A Lei do Amor” corrigidos em “A Força do Querer”

Nilson Xavier

09/04/2017 07h00

Marco Pigossi e Ísis Valverde (Foto: Estevam Avellar/TV Globo)

O público tem respondido bem à nova novela de Glória Perez: os 4 primeiros capítulos cravaram 32 pontos no Ibope da Grande SP, contra 28 na primeira semana de "A Lei do Amor" (leia no parágrafo final). São duas produções diferentes, com abordagens e propostas estéticas diferentes. E já é possível traçar um paralelo entre o que não funcionou em "A Lei do Amor" e foi corrigido em "A Força do Querer".

Os itens abaixo não são "regras de boa teledramaturgia" – haja vista, por exemplo, novelas com primeira fase longa que foram bem sucedidas. São apenas questões que não funcionaram ou ficaram devendo na novela anterior e que foram sanadas na nova produção.

1. Primeira fase

A primeira fase de "A Lei do Amor" durou uma semana (mudou na sexta): apresentou os antecedentes de muitos personagens e o elenco foi quase todo trocado na passagem para a fase definitiva. Começaram então a pipocar as dúvidas (quem foi quem na fase anterior), principalmente por conta do elenco numeroso. "A Força do Querer" teve uma primeira fase que durou metade do primeiro capítulo. Se é que dá para chamar de "primeira fase": foram introduzidos os núcleos de Zeca e Ruy (então crianças) e o triângulo Caio-Bibi-Rubinho. Apenas.

2. Elenco

"A Força do Querer" tem um elenco enxuto para os padrões atuais das novelas das 21h da Globo: por volta de 40 atores, a maioria conhecidos do público. "A Lei do Amor" tinha cerca de 55 personagens, sem contar os da primeira fase, e a metade formada por atores jovens e desconhecidos. Diante de um emaranhado de núcleos familiares, o público de "A Lei do Amor" precisou de uns três meses para decorar os nomes e saber quem era filho de quem – mesmo após o fim da novela, há quem não saiba que Thiago, Analu e Camila eram filhos de Hércules e Carmem (quem eram Camila e Carmem mesmo?).

3. Trama

Elenco maior significa mais tramas e mais possibilidades para os autores trabalharem de acordo com o termômetro da audiência. A própria Glória Perez já abusou do número de personagens em trabalhos anteriores. Elenco menor resulta em mais objetividade do autor. Enquanto "A Lei do Amor" confundiu o público e acabou retalhada (novela Frankenstein) na tentativa de se adequar à audiência, a trama de "A Força do Querer" é concisa e objetiva: em uma semana, as histórias centrais já estão entendidas pelo público. Também, lá no primeiro capítulo, já foi jogada a "cota polêmica": a novela promete pegar fogo com a discussão sobre identidade de gênero, através da personagem Ivana (Caroline Duarte), de acordo com sua descrição, um "menino aprisionado num corpo de menina". "A Lei do Amor" não usou nenhum tema polêmico para chamar a atenção.

Juliana Paes e Rodrigo Lombardi (Foto: Raquel Cunha/TV Globo)

4. Estética

Convenhamos, a estética de "A Força do Querer" é mais bonita e atraente do que era a de "A Lei do Amor". Não apenas por sair do eixo Rio-SP e explorar o Pará (*), com paisagens exuberantes e locações quase exóticas. Refiro-me também – e principalmente – à iluminação da novela, com filtro em cores fortes e uma plasticidade bonita e agradável. Não fere os olhos como "Velho Chico" (**), tampouco é aquela imagem borrada e esfumaçada de "A Lei do Amor". A "fotografia" de "A Força do Querer" a deixa com cara de novela.

5. Direção

Talvez o maior diferencial entre essa e as outras novelas de Glória Perez. Rogério Gomes refresca o horário com uma direção que prima pela estética, tomadas criativas e cenas arrebatadoras que, combinadas ao elenco gabaritado e ao ótimo texto que a autora vem apresentando, traduzem na tela belos momentos de dramaturgia. Uma direção como a de "A Força do Querer" fez falta em "A Lei do Amor" e na novela anterior de Glória, "Salve Jorge" (2012-2013).

Audiência: "A Força do Querer" tem se saído bem, principalmente se comparada com a primeira semana da novela antecessora – ainda que, atualmente, a TV a cabo esteja sem o sinal da Record-SBT-RedeTV em São Paulo. Os primeiros 4 capítulos (os números consolidados de sexta e sábado só saem na segunda-feira ao meio-dia) cravaram 32 pontos no Ibope da Grande SP, enquanto "A Lei do Amor" fechou com 28. Lembrando que "A Lei do Amor" entregou o horário em baixa para a nova novela (média final: 27 pontos, fonte dos dados: Fabio Dias).

(*) "A Força do Querer" tem núcleos no Pará e também no Rio de Janeiro.
(**) Nada contra "as imagens que feriam os olhos" em "Velho Chico". Pelo contrário, eu gostava muito!
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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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