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Relembre mocinhas politicamente incorretas de Gloria Perez, como Ritinha de A Força do Querer

Nilson Xavier

05/05/2017 12h06

O perfil de Ritinha, a personagem sereia de "A Força do Querer" interpretada por Ísis Valverde, a descreve assim: "É sedutora, assim como as sereias. Vive a euforia da juventude. Deseja experimentar de tudo, conhecer outros lugares, aproveitar o que a vida tem para oferecer". Tudo isso para justificar seu comportamento politicamente incorreto: para alcançar seus objetivos, Ritinha também mente, dissimula, finge, engana, passa por cima dos outros, inclusive do homem que ama e da própria família.

Ritinha é uma personagem recorrente na obra da autora Glória Perez. Quase todas as suas protagonistas de novelas têm esses traços. Relaciono outras Ritinhas de novelas de Glória, todas com muitas características em comum (até trajetórias) com a protagonista da atual novela das nove da Globo.

Clara – Claudia Abreu em "Barriga de Aluguel" (1990-1991): uma ingênua que se achava espertíssima. Com imensa capacidade afetiva, arrojada e audaciosa. Um dos seus traços mais marcantes era a capacidade de acreditar, de manter intocáveis as esperanças em meio a todos os desastres. Mesmo mentindo e enganando, simbolizava a pureza, o lúdico. Ritinha né gente!

Clara de "Barriga de Aluguel" | Dara de "Explode Coração"

Dara – Tereza Seiblitz em "Explode Coração" (1995-1996): jovem cigana que vivia em conflito com seu povo. Não porque se envergonhasse dele – ao contrário, tinha orgulho de ser cigana. Mas não admitia a ideia de se submeter às suas leis, que determinavam, entre outras restrições, que a mulher não estudasse nem trabalhasse, que se casasse virgem com o cigano que os pais escolhessem e que servisse ao marido. Ela queria liberdade, o que não significava que estivesse rejeitando a sua condição de cigana. Ritinha de novo!

Jade – Giovanna Antonelli em "O Clone" (2001-2002): de temperamento forte e decidido, carregava o conflito de estar entre dois mundos, duas culturas diferentes. Não conseguia se sentir muçulmana nem brasileira. Romântica, astuta, esperta, vivia as dificuldades de uma mulher em busca da realização pessoal. Apaixonada por um ocidental, enfrentou a família muçulmana em nome desse amor. Para isso, foi capaz de mentir e dissimular. Ritinha!

Jade de "O Clone" | Sol de "América"

Sol – Deborah Secco em "América" (2005): Impetuosa e extrovertida, dona de temperamento fantasioso. Do tipo capaz de correr todos os riscos por causas nitidamente perdidas. E nunca se deixava abater. Tinha sede de vida, de emoções, não queria se prender a nada nem a ninguém que a desviasse de seu projeto de vencer na vida. Acreditava-se muito cerebral, mas o coração a atropelava sempre. Ritinha, né mores!

Maya – Juliana Paes em "Caminho das Índias" (2009): forte e alegre, pertencia a uma tradicional família da casta de comerciantes indianos. Os pais escolheram um marido ideal, mas ela, a princípio, se apaixonou por outro. Capaz de ultrapassar todas as barreiras para seguir os seus desejos. Olha a Ritinha de novo aí gente!

Maya de "Caminho das Índias" | Morena de "Salve Jorge"

Morena – Nanda Costa em "Salve Jorge": vivaz e de personalidade forte, amadureceu cedo. Mas não ouviu ninguém quando decidiu correr atrás de seu sonho, nem o namorado que amava. Nessa busca, acabou vítima de sua própria impetuosidade. Ritinha cuspida e escarrada!

E encontramos características de Ritinha ainda em Carmem (Lucélia Santos) da novela "Carmem" (1987-1988), Anna de Assis (Vera Fischer) da minissérie "Desejo" (1990), Hilda (Ana Paula Arósio) da minissérie "Hilda Furacão" (1998) e Delzuíte (Giovanna Antonelli) da minissérie "Amazônia, de Galvez a Chico Mendes" (2007).

Leia também, Stycer: "Novela sobre mulheres fortes, A Força do Querer tem o melhor início desde 2013".
Fotos: Acervo Globo. Fonte: Memória Globo.
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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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