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Os Dias (não) Eram Assim: figurinos da supersérie não condizem com a época retratada

Nilson Xavier

08/06/2017 07h00

Susana Vieira e Sophie Charlotte (Foto: divulgação/TV Globo)

Recentemente, a supersérie "Os Dias Eram Assim" teve uma passagem de tempo e entrou em uma nova fase: saiu do início dos anos 1970, de uma ambientação soturna dos Anos de Chumbo, com muito sofrimento para os protagonistas, e saltou para o ano de 1979, com a Anistia e um período de esperança e maior liberdade (ainda que vigiada). Logo avançará para 1984, ano da campanha Diretas Já.

Apesar dos fatos históricos abordados, da trilha sonora nostálgica, com muitos sucessos nacionais do período, e dos cenários com referências às épocas retratadas (aparelhos de TV, automóveis, etc), é praticamente impossível identificar em qual ano está a trama quando nos restringimos aos figurinos e caracterizações do atores.

A proposta estética atemporal para os personagens é intencional. Sophie Charlotte é a única atriz que entrega o ano através de roupas, cabelo e maquiagem. O resto do elenco mistura referências discretas do passado com roupas contemporâneas. Ou seja, são roupas, acessórios, maquiagem e cortes de cabelo que servem para qualquer época.

De acordo com os figurinistas Marília Carneiro e Reinaldo Machado e o caracterizador Rubens Libório, a ideia foi fugir dos clichês dos anos 70 e 80 e optar por visuais que façam referências mas que não demarquem de forma definitiva os períodos retratados. "É uma interpretação menos lúdica da moda da época", resumiu Marília Carneiro no material de divulgação da supersérie.

Julia Dalávia e Sophie Charlotte (Foto: Raphael Dias/Gshow)

Falta de sutileza e excesso de referências prejudicam um trabalho de reconstituição de época. No entanto, a proposta atemporal na caracterização do elenco de "Os Dias Eram Assim" não é feliz diante da pretensão de reconstituir fatos históricos com o resultado de pesquisas que revelam que o público desconhece os fatos abordados.

Não há obrigação de ser didática. Mas há de gerar identificação no público, sendo clara, objetiva e pontual. A discrição nas referências – neste caso – mais confunde, gera dúvida e prejudica a assimilação do público do que funciona como "proposta estética". Os dias não eram vestidos assim.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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