Topo

Público reclama da cena de luta a la “Matrix” em “Novo Mundo”

Nilson Xavier

08/07/2017 11h14

Luana Tanaka e Giullia Buscaccio em "Novo Mundo" (Foto: Ellen Soares/TV Globo)

A novela "Novo Mundo", após algumas semanas com certo marasmo (muito focada no martírio da mocinha Anna/Isabelle Drummond), deu um gás e tanto na semana que passou, com muitos acontecimentos. O ápice foi o excelente capítulo de sexta-feira (07/07), que terminou com a fuga dos mocinhos em um balão. Pareceu último capítulo de novela.

Li algumas reclamações nas redes sociais com relação às liberdades no roteiro, mais especificamente por causa da sequência de luta a la "Matrix" (remete também a "Kill Bill") entre a chinesa Miss Liu e a índia Jacira (Luana Tanaka e Giullia Buscaccio). Ora, se pode no cinema (o filme "O Tigre e o Dragão", por exemplo, cuja trama também se passa no século 19), por que não pode na novela?

Surrealismo dentro da ficção é subjetivo e pode ser controverso. É permitido, desde que bem produzido e dentro de um contexto. Se Miss Liu é uma chinesa lutadora e Jacira é uma índia guerreira, e o resultado na tela ficou bom, tá valendo! Achei ótima!

* * * *

"Malhação, Viva a Diferença" teve uma cena excelente na semana que passou: um pequeno surto de Benê (Daphne Bozaski). A personagem, que sofre de um tipo de autismo, perdeu o controle quando o amigo Guto (Bruno Gadiol) tentou abraçá-la. Seguiu-se uma discussão sobre aceitar ou não abraços. Benê, que desde o início dá mostras de ser diferente, começa a ter sua história desenvolvida mais a fundo. E a atriz é espetacular. Guardem esse nome: Daphne Bozaski.

* * * *

Colegas críticos avaliaram a trama de "Pega Pega" como infantil. Discordo parcialmente. Acho que o apelo é mais adolescente. Claro que a novela tem elementos infantis, nos núcleos de Bebeth (Valentina Herszage) e sua canguru e do teatro de bonecos. Mas o imbróglio que cerca o roubo do hotel me remete ao livro "O Mistério do Cinco-estrelas" (de Marcos Rey, da coleção Vaga-lume).

Acho a trama central mal alinhavada, confusa. Luiza (Camila Queiroz) não tem estofo para protagonista de novela. Mateus Solano, um ator carismático, está absolutamente desprovido de qualquer carisma na pele de Erick Ribeiro. Sempre de cara amarrada, sisudo, nunca sorri. Fora que o terno escuro só faz lembrar o Félix de "Amor à Vida". Já chamei a atenção para a falta de química entre o casal protagonista em meu texto na estreia da novela  Em contrapartida, os pares Sandra Helena e Aguinaldo (Nanda Costa e João Baldasserini) e Malagueta e Maria Pia (casal que está se formando, Marcelo Serrado e Mariana Santos) rendem e os atores arrasam!

Irene Ravache e Ângela Vieira em "Pega Pega" (Foto: Isabella Pinheiro/TV Globo)

No capítulo de sábado de "Pega Pega", Sabine e Lígia (Irene Ravache e Ângela Vieira) aparecem em uma festa com o mesmo figurino. Todo novelomaníaco sabe que esse recurso é batido. Mas é bom. A própria Irene Ravache já viveu a situação: em "Sassaricando" (1987), sua personagem, Leonora, ia sair para uma festa usando a mesma roupa que a empregada Dinalda (Stella Freitas) usava. Também em "Roque Santeiro" (1985), Porcina e Matilde (Regina Duarte e Yoná Magalhães) aparecem em uma recepção trajando o mesmo vestido, e em "Rainha da Sucata" (1990), Maria do Carmo e Isabelle (Regina de novo e Cleyde Yáconis).

* * * *

A Globo festeja os números de audiência de suas novelas, lá no topo. Mas audiência e qualidade nem sempre andam juntas. É sabido que a crise econômica e o inverno (que faz as pessoas ficarem em casa à noite, diferente do verão) contribuem para mais televisores ligados. Outro fator importante: a grade bem construída.

O prime-time, no caso da Globo, já começa a ser levantado no final da tarde. É um efeito dominó: inicia com as excelentes "Malhação" e "Novo Mundo", reforça com "Pega Pega", que a essa hora acumulou mais telespectadores, e tem o ápice com "A Força do Querer", o grande sucesso da TV no momento. O que vem depois, desfruta desses números todos. Só isso explica a ótima audiência das medianas "Pega Pega" e "Os Dias Eram Assim".

* * * *

Chamou a minha atenção uma entrevista de Susana Vieira em que a atriz afirma que se não aparece em "Os Dias Eram Assim", ela troca de canal. Então me dei conta que Cora é uma personagem onipresente na supersérie – apesar de ter pouca função na trama! Cora serve apenas para insuflar os vilões Vitor e Amaral (Daniel de Oliveira e Marco Ricca). E aparece muito. No capítulo de sexta teve uma cena desnecessária de um stripper se despindo para ela.

Bem, a supersérie tem que render até setembro, e sua trama acabou com a morte de Arnaldo (Antônio Calloni) e a descoberta de Alice (Sophie Charlotte) de que Renato (Renato Góes) estava vivo. Daqui até o final, pelo visto, vai ser só esse rame-rame de relações mal resolvidas.

Perdoem a trama mal amarrada  / Perdoem a falta de história  / Os dias não eram assim….

* * * *

No capítulo de sexta de "A Força do Querer", revelou-se que a mãe de Zeca (Marco Pigossi) será interpretada por Fafá de Belém. Lembrei de uma das músicas que a cantora gravou que mais gosto, "Sereia" (de Lulu Santos e Nelson Motta), da trilha do especial infantil "Plunct-Plact-Zum", dos anos 80. "Luz do divinal querer / seria uma sereia ou seria só…"

Elizângela brilhou essa semana como a mãe sofredora de Bibi (Juliana Paes) em "A Força do Querer". A atriz causou uma verdadeira comoção nas redes sociais. Talentosa, carismática e querida do público, é um dos grandes acertos da novela de Glória Perez.

O tweet da semana é da amiga Monique Andrade: É CULPA DA JEIZA!

Leia também: "Se começo a ver e não apareço, troco de canal, diz Susana Vieira".
Maurício Stycer: "O que explica o sucesso de uma novela boba e com cara de velha como Pega Pega".

Siga no FacebookTwitterInstagram

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier