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“A maior dificuldade foram os sotaques”, diz Vinícius Coimbra, diretor de “Novo Mundo”

Nilson Xavier

02/08/2017 07h00

Vinícius Coimbra dirige Isabelle Drummond (Foto: Estevam Avellar/TV Globo)

Estive no Rio a convite da Globo e bati um papo com Vinícius Coimbra, diretor artístico de "Novo Mundo", a novela das seis que é sucesso de público e crítica. Ele me disse que prefere o trabalho com os atores, que imaginou uma novela cinematográfica, e que apostou na sinopse, porém achava uma temeridade falar de um Brasil político no horário. Também revelou que a maior dificuldade foi com os sotaques: "O maior risco que tomamos!"

Diretor de TV e cinema, Vinícius Coimbra está há 18 anos na Globo, onde ingressou através de uma oficina de direção. Dirigiu no cinema os filmes "A Hora e a Vez de Augusto Matraga" (2016) e "A Floresta que se Move" (2015), e foi assistente de direção em "Central do Brasil" (1998), de Walter Salles, e "A Hora Mágica" (1999), de Guilherme de Almeida Prado. Na TV, tem experiência em produções de época como "Lado a Lado" (2012-2013), "Ligações Perigosas" (2016) e "Liberdade, Liberdade" (2016) – as duas últimas já assinando como diretor artístico. Também trabalhou nas novelas e minisséries "Celebridade" (2003-2004), "JK" (2006), "Queridos Amigos" (2008) e "Insensato Coração" (2011), entre outras.

Sobre os sotaques em "Novo Mundo": "Uma novela de muitos núcleos com sotaques diferentes: índios, negros, europeus (ingleses, austríacos, portugueses, espanhóis). As pessoas não falavam sem sotaque naquele tempo. Eu queria um mínimo de veracidade. A premissa era de que fosse bem feito. Letícia Colin fez o seu teste já com sotaque. Alguns tiveram dificuldade no começo. E depois ainda precisamos fazer alguns ajustes. Caio Castro e Ingrid Guimarães (por exemplo) estavam falando rápido demais."

Vinícius com Felipe Camargo e Letícia Colin (Foto: Paulo Belote/TV Globo)

Sobre a estética da novela, o diretor buscou inspiração nas pinturas de Debret (francês que pintou o cotidiano da corte no século 19) para a fotografia, figurino e cenografia: "Me encantei muito com o trabalho de Debret. Ele usa uma paleta de cores mais fria. (…) Existe um padrão no uso das lentes, da luz, do colorimetria. E restringi o uso das lentes: fizemos a novela muito próxima do olho humano."

Sobre o trabalho com os atores, Vinícius incitou o elenco: "Digo para o ator: vá no caminho contrário ao da cena, ao que o texto está indicando."

"Márcia Cabrita ia viver Germana, mas ficou doente. E eu não estava querendo que fosse uma comediante, porque o comediante vai fazer o que já é esperado. Se é um ator com recursos, ele vai fazer a comédia de outro jeito. Chamei Vivianne Pasmanter."

"Gosto muito de ensaiar com eles. O ator tem que ser uma massa de modelar, flexível, não pode ser uma coisa rígida. Ele não pode encontrar o personagem dentro do set. Já tem que ter encontrado lá atrás, antes. O set deve ser um trampolim. O ator já tem que chegar seguro. Se não der material para ele antes, fica perdido. Ou então, o que é pior, faz o que fez na novela anterior."

"Para mim, a composição do personagem é o mais importante, é o que vejo mais graça. Os atores se desafiaram muito. Todos saíram do conforto, todos se expuseram, se arriscaram. Caio já estava cansado de ser o bad boy, Ingrid de fazer a Sarah Jessica Parker, Vivianne de ser a mulher de família. Todo mundo ficou muito feliz com o que alcançou."

Novela de personagens complexos, multidimensionais: "Leopoldina poderia ser uma chata. Uma mulher politicamente correta, que sofre, submissa, aceita as traições do marido. Mas Letícia Colin faz com tanto encanto que reverteu essa situação. Pedro é um adúltero, mas é uma figura humana, ama os filhos. E as pessoas perdoam."

Vinícius com Daniel Dantas e Isabelle Drummond (Foto: Maurício Fidalgo/TV Globo)

Por que aceitou esse projeto: "Apostei na sinopse. Eu não tinha certeza do que ia dar, mas tinha uma boa sinopse. (…) Queria algo cinematográfico. Defendia que parte da novela fosse inspirada em "Piratas do Caribe". Mas uma novela não é um filme."

"Tínhamos medo de contar essa história. Colocar no enredo temas políticos é perigoso e pode deixar a novela enfadonha. 'Novo Mundo' teve esse mérito: levou a História do Brasil e as pessoas gostaram."

O próximo projeto de Vinícius Coimbra é no cinema: com previsão de começar a produzir entre março e abril de 2018, ele tem um projeto baseado no livro "Oeste, A Guerra do Jogo do Bicho", de Alexandre Fraga. O novo trabalho envolve a Globo Filmes e deve virar uma minissérie de quatro episódios. Vinícius quer Rodrigo Santoro para viver o protagonista.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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