Os truques de “Os Dias Eram Assim” para disfarçar sua trama central fraca
A novela das seis da Globo, "Novo Mundo", parece ter em suas reservas um arsenal inesgotável de boas ideias. Um exemplo de história que não cansa, se reinventa, corre na dianteira e não perde o fôlego. Ainda que faça uso de clichês surrados em vários entrechos, segue firme e forte em sua reta final sem o menor sinal de barriga. Estreia feliz de Thereza Falcão e Alessandro Marson como autores solo.
Na contramão, corre "Os Dias Eram Assim", a atração das onze da noite. A supersérie tem seus momentos fortes, como a abordagem à AIDS através da personagem Nanda (Julia Dalavia) (escrevi AQUI), bem conduzida pelas autoras Ângela Chaves e Alessandra Poggi. E um elenco de respeito: Marco Ricca, Natália do Valle, Cássia Kiss e outros.
No entanto, não se pode dizer o mesmo da trama central, a que a sustenta e na qual está o foco na maior parte do tempo. As relações dos casais protagonistas Vitor-Alice-Renato-Rimena-Gustavo se esgotaram há muito tempo, quando Alice descobriu que Renato estava vivo. Só sobraram mesmo os clichês mais batidos, ali usados descaradamente.
Já acusei anteriormente as duas novelas de usarem tramas muito parecidas. Mas são dois exemplos díspares do uso do clichê folhetinesco. "Novo Mundo" o faz a seu favor porque ele está envolto em boas ideias, em meio a personagens carismáticos e humanos. Além de cercada de personagens maniqueístas e, digamos, chatos, a trama de "Os Dias Eram Assim" padece de estofo, de "sustança".
Para disfarçar uma história central previsível e que não se sustenta sozinha, "Os Dias Eram Assim" faz uso de alguns recursos. A trilha sonora repleta de clássicos da MPB arregimenta os amantes de boa música. As imagens de arquivo mexem com a memória afetiva do público. E abordagens pontuais a temas considerados tabu geram algum buchicho momentâneo – como as arbitrariedades dos Anos de Chumbo e, agora, os primeiros anos da AIDS.
No mais, a "supersérie" de super não tem nada.
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