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Plágio, acidente, prêmio repassado: 10 curiosidades sobre Mulheres de Areia

Nilson Xavier

26/03/2018 07h00

Carlos Zara (Marcos), Gianfrancesco Guarnieri (Tonho da Lua) e Eva Wilma (Ruth)

A novela "Mulheres de Areia" – a versão original da TV Tupi, com Eva Wilma como as gêmeas Ruth e Raquel – está completando 45 anos de estreia. Foi um dos maiores sucessos da história da emissora, basicamente calcado no texto de Ivani Ribeiro e no trabalho duplo de Eva Wilma. Ivani reescreveu "Mulheres de Areia" para a Globo vinte anos depois, em 1993, repetindo o sucesso da primeira versão. Glória Pires viveu, com igual repercussão, as gêmeas. Destaco 10 curiosidades sobre esse clássico da TV brasileira.

01. Sucesso de audiência

A novela conquistou índices de audiência que há muito não eram vistos pela Tupi: picos de 26 a 29% contra uma média anterior que ficava em torno dos 5%. O sucesso fez a autora espichar a novela o máximo que pôde. "Mulheres de Areia" teve 253 capítulos, permanecendo quase um ano no ar, de março de 1973 a fevereiro de 1974.

Bette Davis como as gêmeas no filme "Uma Vida Roubada"

02. Inspirações

Para escrever a novela, Ivani Ribeiro baseou-se em uma antiga radionovela de sua autoria, "As Noivas Morrem no Mar", de 1965, que, por sua vez, foi inspirada no filme "Uma Vida Roubada" ("Stolen Life", de 1946, com Bette Davis no papel das gêmeas), que trazia praticamente a mesma história até o ponto em que acontece o acidente no mar e a irmã sobrevivente ocupa a vida da falecida. Para render uma novela de televisão, Ivani deu continuidade à trama com um gancho irresistível: uma das gêmeas não morreu e prepara uma vingança contra a irmã que lhe tomou seu lugar – ou, que lhe roubou a vida, como sugere o título do filme original.

03. Plágio?

Curiosamente, enquanto a Tupi exibia "Mulheres de Areia", a Globo apresentava no horário concorrente uma história muito semelhante: em "O Semideus", novela de Janete Clair, Tarcísio Meira vivia um homem poderoso vítima de um atentado no mar que foi dado como morto e em seu lugar foi colocado um sósia impostor. Igualmente, em "Mulheres de Areia", Ruth assumiu a identidade da irmã Raquel após o acidente no mar em que se acreditava que a gêmea má estivesse morta.

Eva Wilma como as gêmeas Ruth e Raquel

04. Tecnologia da época

Eva Wilma narrou sobre as dificuldades de gravar as gêmeas, já que não existia à época tecnologia para mostrar as irmãs juntas em uma mesma cena: "Quando Ruth e Raquel tinham de ficar frente a frente, o diretor gravava duas vezes. Primeiro com um lado da câmera tampado. Depois com o outro. Como as cenas se acumulavam, nós entramos num acordo para facilitar o trabalho. Dávamos prioridade a closes e imagens duplas". A atriz também tinha uma dublê, quando umas das gêmeas era vista de costas.

05. Prêmio repassado

Até 1975, o programa de Silvio Santos era exibido na Globo e o apresentador já tinha exclusividade em transmitir o Troféu Imprensa. Em 1974, na entrega do prêmio aos melhores da televisão de 1973, Regina Duarte, eleita melhor atriz por seu trabalho em "Carinhoso" (novela da Globo), surpreendeu a todos: repassou o troféu a Eva Wilma em reconhecimento à brilhante atuação da atriz em "Mulheres de Areia". O ato generoso de Regina entrou para a história de nossa televisão.

A estátua em Itanhaém | Gianfrancesco Guarnieri (Tonho), Ana Rosa (Alzira) e Eva Wilma (Ruth)

06. Estátua em Itanhaém

As mulheres de areia que Tonho da Lua (Gianfrancesco Guarnieri) esculpia eram, na realidade, de autoria do ator Serafim Gonzalez, que atuava na novela como Alemão, dono de um bar, amigo dos pescadores. Ele também esculpiu uma estátua ao estilo das que eram usadas na novela, ficando como lembrança da equipe para a cidade de Itanhaém, onde eram gravadas as externas. Foi uma forma da Tupi agradecer a hospitalidade do povo da cidadezinha que recebeu tão bem a produção durante os meses em que a novela foi gravada. O sucesso de "Mulheres de Areia" trouxe uma grande quantidade de turistas para Itanhaém, que iam na esperança de acompanhar as gravações ou tirar fotos com os atores do elenco. No remake da Globo, vinte anos depois, novamente Serafim Gonzalez esculpiu as mulheres de areia para a produção.

07. Merchandising social

Engana-se quem acha que o merchandising social começou nas novelas de Glória Perez e Manoel Carlos da década de 1990. Existia desde os anos 1970, só não tinha esse nome. "Mulheres de Areia" levantou boas campanhas. Com as denúncias que o texto apresentava a favor dos pescadores que eram vítimas da exploração comercial, foi criada uma cooperativa reivindicatória do seus direitos em Itanhaém. Outro tema social abordado foi a alfabetização. Alzira (Ana Rosa), apaixonada por Tonho da Lua (Gianfrancesco Guarnieri), era analfabeta e, como pretexto para passar mais tempo perto do amado, pediu que ele lhe ensinasse a ler e escrever. A professora Ruth (Eva Wilma), quando soube dessa iniciativa, teve a ideia de expandir esse benefício aos pescadores que também quisessem aprender. Na época, o Governo Federal fazia um imenso alarde por conta do MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização -, que visava erradicar o analfabetismo no país.

Entre outros, Márcia Maria (Andreia), Silvio Rocha (Floriano), Maria Estela (Arlete), Antônio Fagundes (Alaor) e Maria Isabel de Lizandra (Malu)

08. Ficção x realidade

Não é só a Globo que usa seus programas para divulgar suas novelas, através de crossovers. Essa é outra prática antiga de nossa televisão. Misturando ficção e realidade, os personagens de "Mulheres de Areia" foram parar nos programas da Tupi. Malu (Maria Isabel de Lizandra), com a intenção de afrontar o pai, Virgílio (Cláudio Corrêa e Castro), teve um dia de chacrete, participando da "Discoteca do Chacrinha". E Tonho da Lua (Gianfrancesco Guarnieri) foi receber um prêmio no "Almoço com as Estrelas", programa comandado pelo casal Ayrton e Lolita Rodrigues. Também o costureiro Clodovil Hernandez participou da novela como ele mesmo, quando Raquel foi fazer seu vestido de noiva.

09. Acidente com Eva Wilma

Em novembro de 1973, a atriz sofreu um acidente quando dirigia seu carro rumo a Itanhaém para gravações da novela. Ela ficou com escoriações nos braços e pernas e teve que fazer uma cirurgia plástica para corrigir uma cicatriz no rosto. Doze dias após o sinistro, retornou ao trabalho. Durante algum tempo, Eva Wilma usou o cabelo para esconder a cicatriz no rosto. Raquel já tinha o cabelo solto e desgrenhado, o que diferenciava da caracterização de Ruth, que trazia o cabelo sempre penteado para trás. Como era a fase em que Ruth se passava por Raquel, a atriz aparecia o tempo todo com o cabelo sobre a cicatriz.

Quando Regina Duarte repassou o Troféu Imprensa a Eva Wilma

10. O pescador que virou ator

Para as cenas de pesca, a Tupi contratou os serviços de um pescador de Itanhaém, que prestava assessoria à novela: Servílio Batista. Daí surgiu a ideia de usá-lo como ator na trama. Servílio ganhou um personagem com seu nome, um pescador casado com a bela Vilma (Thereza Santos) e que morria de ciúmes da mulher. Com o fim da novela, terminou também a carreira de ator de Servílio Batista, que preferiu continuar sua vida em Itanhaém colhendo os louros da fama de ator de "Mulheres de Areia" entre seus conterrâneos.

AQUI tem tudo sobre "Mulheres de Areia": trama, personagens, elenco completo, trilha sonora e mais curiosidades.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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