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Ator também tem contas para pagar, vide o elenco de O Outro Lado do Paraíso

Nilson Xavier

13/04/2018 00h28

Emílio de Mello, Glória Pires e Bárbara Paz (foto: reprodução)

A novela das 9 da Globo é um sucesso de audiência. Pena que artisticamente deixe tanto a desejar. Entre suas tramas absurdas e inverossímeis, o capítulo dessa quinta-feira (12/04) exibiu uma cena que chamou a atenção: um diálogo corriqueiro entre Patrick (Thiago Fragoso) – "o melhor advogado criminalista do país" – e um colega de profissão, no café de um hotel. Dava perfeitamente para imaginar as falas dos atores escritas no roteiro, seguidas à risca. Totalmente declamadas na novela. Uma cena, no mínimo, mal dirigida. Sem tirar nem por, pareceu jogral de escola.

Pouco antes desta, houve a sequência em que a personagem de Glória Pires implora para que a de Bárbara Paz doe um rim para a sua filha. Uma encenação digna dos piores dramalhões latinos, tanto pelo texto, quanto pelo entrecho. A atuação também deixou a desejar. Faz tempo que Glória parece pouco à vontade na novela. Lembra da morte do personagem de Juca de Oliveira? Foi outro momento constrangedor de "O Outro Lado do Paraíso" em que os atores não conseguiram escapar do texto raso e da direção, digamos, frouxa. Ou pouco cuidadosa.

Em contrapartida 1 a direção já teve resoluções criativas e bem administradas para o texto ingrato de Walcyr Carrasco: quase toda a primeira fase da novela, a fuga de Clara do manicômio, sua aparição triunfal na festa em Palmas, o julgamento do pedófilo e o casamento de Mercedes e Josafá, por exemplo.

Thiago Fragoso | Julia Dalavia (foto: reprodução)

Se a tarimbada Glória Pires escorrega no texto pouco natural de Carrasco, imagina atores jovens cujas cenas exigem estofo. Neste quesito, patinam feio Caio Paduan e Érika Januza – que parecem demandar mais trabalho da direção. Da novela, saem manchadas Bianca Bin – ótima na primeira fase da trama, caiu na armadilha da cara de paisagem para justificar uma personagem fria e vingativa -; e Julia Dalavia – elogiada em seus trabalhos anteriores, aqui está limitada a uma personagem ruim (a coach Adriana), sem camadas. Como a maioria dos personagens, aliás.

Em contrapartida 2 brilham nomes como Marieta Severo, Eliane Giardini e Juliano Cazarré, e a novata Bella Piero (a Laura), dos poucos que conseguem sair ilesos do texto de Carrasco e se destacar na novela.

Artisticamente, "O Outro Lado do Paraíso" não agrega nada. Hoje, às vésperas do seu fim, sabemos que talvez essa nunca tenha sido uma pretensão – se foi lá no começo, acabou abandonada. A trama, nada original, é um remendo mal alinhavado de tudo o que o autor já fez – sem contar os exemplos de desserviço e irresponsabilidade social (vide links abaixo).

Os atores novatos devem estar felizes com a repercussão e com a oportunidade. Os mais experientes, eles também têm boletos e contas para pagar. Quanto à direção, parece que largou a mão, afinal, a audiência está ótima. Missão cumprida? Comercialmente sim.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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