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Por que as novelas das seis são as melhores?

Nilson Xavier

09/05/2018 07h00

Nathalia Dill em "Orgulho e Paixão" – foto: reprodução

Considere a divisão das novelas da TV Globo por faixa horária – 6, 7 e 9 da noite -, tomando as suas características, público alvo e expectativa de audiência. É possível afirmar que o horário das seis é o que vem ofertando uma maior diversidade de tramas e produções quando comparadas às atrações das outras faixas (tradicionalmente as comédias às sete e os dramas mais pesados às nove).

Vemos às seis histórias com ambientações mais variadas (por abranger uma faixa etária mais ampla), em produções luxuosas (pela maioria delas ser de época), sem pretensões de inovação ou polêmicas. Não há distinção de profissionais envolvidos, já que muitos dos melhores são deslocados para a faixa. Ao tratar de qualidade, vamos descartar a audiência, afinal, como há menos público disponível no horário, há menos ibope. Mesmo porque, audiência e qualidade nem sempre andam juntas (vide "O Outro Lado do Paraíso").

Neste cenário, a título de amostragem, são exemplos bem sucedidos: "Orgulho e Paixão", "Tempo de Amar", "Novo Mundo", "Eta Mundo Bom!", "Além do Tempo", "Sete Vidas", "Meu Pedacinho de Chão", "Lado a Lado", "A Vida da Gente" e "Cordel Encantando", todas com ótimas avaliações pelo público e/ou crítica especializada, com abordagens que vão da comédia ao drama, romance, aventura, infanto-juvenil, diferentes épocas, ambientações e propostas estéticas.

Jayme Matarazzo e Isabelle Drummond em "Sete Vidas" | Bianca Bin e Cauã Reymond em "Cordel Encantado" – divulgação/TV Globo

Você também já ouviu alguém comentando que atualmente as novelas das seis são as melhores?

Se comparado a décadas anteriores, as produções do horário da seis da Globo dos últimos anos refletem o bom momento que a faixa vem passando. É como se elas tivessem se tornado "a menina dos olhos" da emissora – ainda que as produções das nove sejam as de maior retorno em audiência e faturamento e as de maior alcance e repercussão. Mas nada é por acaso. O olhar mais atento da emissora sobre a faixa das seis se explica justamente pela audiência.

Os folhetins das 18h são hoje vistos como um trampolim poderoso para o horário nobre. Na verdade, esse impulso no ibope deveria começar antes, no Vale a Pena Ver de Novo, passar por Malhação e a novela das seis e ter o ápice no Jornal Nacional, para que a trama das nove (no horário mais nobre) chegue arrebentando. Este é o cenário ideal. Claro que nem tudo (nem sempre) é tão orgânico e funciona desse modo. Mas já aconteceu, na temporada 2017: "Senhora do Destino" no Vale a Pena, "Viva a Diferença" na Malhação, "Novo Mundo", "Pega Pega" (pelo menos pela audiência alta) e "A Força do Querer".

Caio Castro e Letícia Colin em "Novo Mundo" | Marco Nanini e Sérgio Guizé em "Eta Mundo Bom!" – divulgação/TV Globo

Percebe-se a variedade nas temáticas às seis tendo por base as novelas das nove, que se propõem exclusivamente aos dramas urbanos mais robustos e realistas, enquanto as das sete focam na comédia. Logicamente há exceções, em todas as faixas. Atualmente o horário das sete apresenta uma trama dita "medieval" de teor aventuresco ("Deus Salve o Rei"), uma novidade. Às nove, tivemos recentemente "Velho Chico", ambientada no interior do Nordeste, com uma estética muito específica. Ao mesmo tempo, a faixa das seis não está livre das tramas urbanas, características dos demais horários.

Vale ressaltar que nem sempre foi assim. Até a década de 1980, o horário das seis era considerado "menor", visto com certo preconceito até dentro da emissora. Havia um menor investimento, tanto em produção quanto em profissionais envolvidos (atores de peso, como Tarcísio Meira e Regina Duarte, nunca eram escalados para as seis). Só a partir dos anos 90 é que isso foi mudando, ainda que gradativamente.

Bem, aqueles eram outros tempos, em que a Globo reinava absoluta, nadava de braçada, sem concorrência com outras tecnologias e formas de entretenimento, sem redes sociais, sem plataformas on-demand, sem Netflix, etc. Há 30 anos, tudo era diferente. A administração da grade hoje requer um outro olhar sobre a televisão. Daí tantas ótimas e variadas produções às seis horas.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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