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Roberval humilha a patroa para a mãe: uma das melhores cenas de Segundo Sol

Nilson Xavier

04/07/2018 10h55

Cláudia di Moura e Fabrício Boliveira (foto: reprodução)

Tenho criticado o marasmo que se tornou a novela "Segundo Sol" neste período de Copa: o protagonista Beto Falcão praticamente sumiu da novela, juntamente com sua trama; Luzia está servindo de escada para os filhos destrambelhados; Laureta emburreceu quando apaixonou-se pelo novinho; e a família de Dodô e Naná, com a chegada de Gorete, está tendo mais cenas que os protagonistas.

Ao mesmo tempo, o autor vai temperando outros núcleos. O capítulo desta terça-feira (03/07) foi marcado por duas sequências impactantes: a mãe descobre, por meio da secretária eletrônica, a relação da filha com a vizinha; e o jantar que Roberval oferece à mãe e à namorada para humilhar a família Athayde: fazendo de Karen a empregada, invertendo os papeis já que Zefa serve à rica família.

A cena remete a outra, exibida em "Avenida Brasil": quando Nina troca de lugar com Carminha e exige que ela a sirva à mesa: ME SERVE VADIA, ME SERVE!

Temos aí um dos entrechos mais interessantes de "Segundo Sol". Nao me refiro à suposta vingança do revoltado Roberval. Mas o que o motiva a isso. De um lado, o filho que se rebela contra o tratamento que ele e sua mãe sempre tiveram na mansão dos Athayde, na condição de serviçais – principalmente da mãe, que sempre serviu à mesa e à cama do patrão.

Fabíula Nascimento, Fabrício Boliveira, Maria Luísa Mendonça e Cláudia di Moura (foto: reprodução)

Do outro lado, a mãe, que, em um primeiro momento, parece conformada com sua condição de "escrava de dentro". Mas Zefa tem muito mais camadas do que sugere a personagem. Para ela, não se trata de conformismo ou subserviência. Tampouco Zefa compactua passivamente com os Athayde – como sugeriu o filho em seu discurso: "uma lavagem cerebral".

Diante do apresentado ao público até agora, chega a ser revoltante a empregada defendendo a família. Mas a relação de Zefa vai além. Ainda que para o clã ela não passe da empregada, Zefa é mãe de Edgar e se acha "da família", já que sua vida se limita aos muros da casa grande. Roberval tenta abrir os olhos da mãe, mas da pior maneira possível. É um personagem torto que busca no ataque e humilhação uma forma de compensar seu sofrimento.

Como disse Cacau ao final da cena, Zefa não está interessada no dinheiro e condição social do filho, mas apenas em seu amor e afeto. São personagens – a mãe e o filho – com longos caminhos a percorrer para se ajustarem. Ela precisa reavaliar sua condição dentro da família que ama tanto. E ele, reavaliar seus métodos. Vamos ver como o autor desenvolverá essa trama.

A sequência do jantar foi uma das melhores da novela até agora. E merecem elogios os ótimos Cláudia di Moura (Zefa), Fabrício Boliveira (Roberval), Maria Luísa Mendonça (Karen) e Fabíula Nascimento (Cacau).

Leia também: "Segundo Sol deve estar na Rússia, já que a novela parou com a Copa";
Cristina Padiglione: "Segundo Sol resgata o uso da secretária eletrônica do telefone fixo".

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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