A telenovela resistirá aos modernos meios de consumo de televisão?
A telenovela brasileira sempre adequou-se à evolução dos tempos, acompanhando as novidades, às vezes trazendo à baila assuntos efervescentes e de interesse social. Quando não ditou modas e modismos, foi a maior vitrine para tendências, de mercado ou de comportamento. Durante décadas, o brasileiro se viu retratado e se espelhou por meio de nossa teleficção, considerada por alguns formadora de opinião e, por outros, alienadora. Embora sempre tenha sido claro que o seu principal objetivo é o entretenimento.
Atualmente, a telenovela é vítima dos tempos modernos. Na ânsia de se reciclar, vai perdendo cada vez mais espaço para as novidades que vão surgindo. Será?
Nas décadas de 1950 e 1960, a TV foi fator de socialização: quem podia adquirir um televisor atraía a vizinhança, os "televizinhos". Nos anos 1970, com o barateamento dos aparelhos, os núcleos familiares passaram à sala de estar para acompanhar uma novela, se informar com os telejornais, torcer por um time ou assistir a um filme. Com o passar do tempo, essas velhas formas de audiência foram se transformando.
A popularização do controle remoto, nos anos 1980, causou uma verdadeira revolução nas audiências: a prática do zapping. Na década de 1990, o boom da venda de televisores pulverizou a audiência como nunca. Dois, três aparelhos numa mesma residência permitiu a segmentação: cada membro da família assistindo a um tipo de programa. Nos anos 2000, a TV aberta viu ganhar força um novo concorrente: a TV a cabo.
Hoje, a televisão se desdobra para concorrer com internet, redes sociais, games, séries estrangeiras, serviços de streaming. Já que não pode lutar contra, nada mais natural do que aliar-se aos seus concorrentes. Novas produções são pensadas de forma a alimentar ou atender os anseios do público conectado: ações de transmídia, cross-media, social TV, conteúdo para outras plataformas e segunda e terceira telas, produções que estreiam on demand, etc.
Com esses aparatos todos, estaria o velho modelo de medição de Ibope ficando obsoleto? Seria exagero afirmar que apenas o perfil de público mais resistente às novidades obedece à grade horizontal, acompanhando, por exemplo, uma novela diariamente em um mesmo horário? Como fica a aferição de audiência quando o espectador tem a opção de assistir ao capítulo na internet, à hora que quiser, posteriormente à sua exibição na TV? Não teria o "Ibope da Grande São Paulo" o mesmo peso que a repercussão reverberada por meio da segunda tela, nas rede sociais (Twitter, Facebook, etc), gerando memes, mentions e posições nos Trending Topics, etc?
Um dado alarmante para a velha TV: há pouca renovação de público. A audiência tradicional está envelhecendo, já que os jovens, cada vez mais, deixam de consumir televisão da maneira como seus pais faziam. Dispersos em outras plataformas (que não a TV) ou em concorrentes (games, séries por streaming ou em canais a cabo), se negam a obedecer as grades fixas das emissoras. É um público que não conhece TV aberta, que consome televisão na plataforma que quiser, à hora que bem entender, que não se prende às grades engessadas. Uma geração que não cria laços afetivos com a TV tradicional.
A queda vertiginosa da audiência na TV aberta de uma década para cá, em todos os horários, emissoras e programas, aponta uma revolução em seu consumo. Porém, o interesse pela televisão e seu conteúdo persiste. Ninguém deixou de ver e comentar, seja ficção (séries, novelas, filmes) ou realidade (jornalismo, esporte, documentários). Apenas houve um modernização na maneira de consumi-la. Mais que cumprir o papel de entreter, a TV continua socializando (como nos anos 1950 e 1960). Só que de uma forma mais moderna do que naqueles tempos dos televizinhos.
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