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"Os Melhores Anos das Nossas Vidas" diverte, mas precisa de ajustes

Nilson Xavier

15/11/2018 23h53

Lúcio Mauro Filho, Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães (foto: divulgação/TV Globo)

A premissa do programa "Os Melhores Anos das Nossas Vidas" (às quintas-feiras à noite na Globo) é interessante: um gameshow em que, a cada episódio, duas décadas se confrontam, representadas por grupos com um líder, com apresentações performáticas de música, dança, entrevistas e matérias jornalísticas que remetem ao período representado. Na plateia, 100 jovens entre 18 e 20 anos escolhem a melhores apresentações por meio de um sistema de votação. Cada programa elege uma década vencedora e as duas melhores disputam a grande final. A ideia não é original: o formato é adaptado do programa "I Migliori Anni", da Endemol italiana.

A proposta é que cada equipe convença os votantes que é a "melhor". Para isso, dependem do carisma do líder e do apelo e desempenho da equipe em cada prova. Naturalmente, os jovens que votam têm uma tendência maior a escolher as duas últimas décadas (1990 e 2000), das quais conhecem referências ou têm alguma relação afetiva com elas. A década de 1990, por exemplo, nas primeiras duas ocasiões em que concorreu, ganhou. Já os anos 2000 perderam para a mítica década de 60, no segundo programa, para depois ganhar dos cultuados anos 80, num programa seguinte, e dos 90 nesta quinta-feira (15/11).

Se eu (quase um cinquentão) participasse da votação, seria preciso um esforço maior das equipes para me convencer que os anos 1990 ou 2000 (décadas que pouco mexem com minha memória afetiva) são melhores. Minha inclinação será sempre pelos anos 60, 70 ou 80. Tanto que o programa que mais gostei foi o da semana passada (de 08/11), em que anos 60 e 70 concorreram, repleto de referências que conheço e cultuo, em música, fatos, comportamento e artes em geral.

O programa dessa quinta, 15/11, foi o que menos me despertou interesse: anos 1990 vs. anos 2000. "Os Melhores Anos das Nossas Vidas" atrai o público quando provoca o saudosismo e aquele sentimento de que o seu passado era melhor. Uma disputa despretensiosa que pode divertir. O programa funciona, mas precisa de alguns ajustes.

Rafa Brittes (foto: reprodução)

Seria mais envolvente – e até para atestar maior credibilidade – que os líderes de cada década fossem representantes que viveram plenamente os períodos que defendem. É duro ver, por exemplo, Marco Luque ler um roteiro pronto ou decorado com uma propriedade forçada sobre fatos e momentos que ele mal viveu (no caso, década de 70, quando foi criança). Marcos Veras é um caso ainda mais gritante: lidera a equipe dos anos 60, mas ele nasceu em 1980 (ainda assim, ressalta-se seu carisma e traquejo no palco).

Por ser gravado, o programa tem problemas de edição, que corta abruptamente o seguimento da ação. As intervenções com os entrevistados, por exemplo, nunca são fluidas. Outro dia, Edney Silvestre entrou para um depoimento sobre o 11 de Setembro. Foi super bem recepcionado, mas falou duas palavrinhas e saiu. Os cortes bruscos fizeram a participação do jornalista parecer truncada.

Lázaro Ramos está muito bem como apresentador, apesar de também ser vítima da tesoura da edição. Marcos Veras (anos 60) e Lúcio Mauro Filho (anos 80) são os melhores líderes, mais desenvoltos no palco e mais carismáticos. Já Rafa Brittes (anos 2000) perde todos os confrontos quando comparada aos seus adversários de liderança. Há ainda Ingrid Guimarães, responsável pela década de 90.

O melhor momento é quando as equipes dançam uma espécie de batalha de coreografias: eletrizantes, divertidas. Ainda mais uma ressalva: o horário ingrato. "Os Melhores Anos das Nossas Vidas" avança a meia-noite. É um tipo de entretenimento que caberia melhor após a novela das nove ou nas tardes de sábado ou domingo.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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