“Boogie Oogie” une velhos clichês do folhetim a recursos de produção atuais
A nova novela das seis da Globo, "Boogie Oogie" (de Rui Vilhena, direção de núcleo de Ricardo Waddington, que estreou nesta segunda, 04/08), já despertou curiosidade nas bonitas chamadas, que apelaram para a nostalgia musical. A história se passa no mítico ano de 1978, em que as discotecas proliferaram Brasil afora como reflexo da repercussão do filme "Os Embalos de Sábado à Noite" e da novela "Dancin´ Days". Uma época riquíssima em referências, que dá margem a infinitas possibilidades.
Não foi o primeiro folhetim contemporâneo que retratou a Era Disco para contar uma história: "Pecado Mortal" – que terminou na Record nem faz tanto tempo – também se passava em 1978. Os anos 1970 já haviam sido visitados na Teledramaturgia pela novela "Amor e Revolução" (2011), do SBT, e pela minissérie "Anos Rebeldes" (1992), na Globo. E para aumentar as comparações, a clássica "Dancin´ Days" está sendo reprisada no canal Viva.
Visando cativar o público de imediato nesta estreia, a produção de "Boogie Oogie" usou e abusou da trilha sonora para despertar o John Travolta adormecido em cada um. O primeiro capítulo pareceu um longo anúncio de disco da Som Livre: a cada cena, um pedacinho de algum grande hit da Era Disco. E melhor de tudo: em gravações originais. Vários personagens foram apresentados, com grande destaque para Alessandra Negrini, ótima já no pouco que se viu de sua personagem. Betty Faria também já "chegou chegando". E Marco Pigossi e Ísis Valverde, pelo visto, vão exalar química pelos próximos seis, sete meses.
A estreia de "Boogie Oogie" deixou uma boa impressão, talvez embalada pela novidade. Entretanto, o que temos pela frente, não é nada novo: a novela promete um folhetim rasgado. Na trama central, o batidíssimo clichê da troca de bebês em maternidade. Remete aos novelões de antigamente, da década de setenta e de antes. O fato da história ser ambientada há quase quarenta anos, aumenta a sensação de trama requentada. Mas para agradar a todos os públicos, a novela usa recursos bem modernos de fotografia, edição e direção.
O primeiro capítulo ficou assim: uma cena de impacto, em que um acidente de avião vitima um noivo no dia de seu casamento. A ação volta no tempo, para os antecedentes do casório. Por fim, o capítulo culmina na cena inicial, da tragédia. Desperdiçou-se o gancho do acidente, afinal, pelas chamadas e releases, já sabemos que o noivo morre. O gancho para amanhã é a reação da noiva ao saber que não se casará mais, e os desdobramentos dessa tragédia em sua vida.
Travestida de antiga, fica claro que "Boogie Oogie" tenta juntar o velho ao novo. Os detalhistas de plantão já tomaram nota das discrepâncias de reconstituição de época: figurinos, cabelos e caracterizações que não condizem com 1978, bem como algumas músicas que foram lançadas depois deste ano. Nada disso compromete a história. Afinal, o importante não é a precisão da reconstituição da época, que percebe-se num primeiro contato – mas a trama a ser contada nos próximos meses. Já que esta promete ser uma salada de clichês, clichê por clichê: novela é novela, não é documentário.
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