Falta de sutileza empobrece narrativa de “Boogie Oogie”
Despudorada. Assim poderíamos qualificar a novela das seis da Globo, "Boogie Oogie". Sem se preocupar muito com verossimilhança, a trama de Rui Vilhena não tem pudor algum na hora de se enveredar pelos ganchos mais safados para justificar o rumo de sua história. Falta pudor, falta sutileza. Novelinha safada essa!
O clichê é característica master do folhetim e não está em discussão aqui. Tampouco uma novela precisa emular a realidade. Porém, para justificar o seguimento da ação, o autor faz uso de recursos mais fáceis, ou dos que tem à mão no momento, muitas vezes sacrificando a psicologia de seus personagens. Ou o bom senso.
Nas últimas semanas, vimos a sofisticada Leonor (Rita Elmor), uma personagem que era, até então, um exemplo de mulher moderna, "prafrentex" (de 1978), se interessar – de uma hora para outra, sem mais nem menos – pelo antiquado, autoritário e chato Elísio (Daniel Dantas).
Pareceria uma aproximação gratuita e sem o menor sentido, não fosse a mais pura necessidade de gerar mais um conflito na trama: minar ainda mais o casamento de Elísio. Soou como se o autor precisasse de uma personagem para ameaçar a relação dele com a mulher, Beatriz (Heloísa Périssé), e pegasse a primeira avulsa que encontrou: Leonor.
Sim, Beatriz se sente ameaçada pela figura "charmosa" de Leonor, uma mulher tão diferente dela e de sua realidade, e tão distante. Precisava ser tão distante assim? Precisava! O problema não está na figura de Leonor. Mas na figura de Elísio: no fato de Leonor se sentir atraída por um tipo como Elísio.
Outro exemplo da falta de pudor de Rui Vilhena é a língua solta do garoto Serginho (João Vithor Oliveira), o fofoqueiro mor que faz o elo entre os acontecimentos e os personagens. Precisa revelar algo importante na trama? É só colocar Serginho na escuta e, em seguida, de encontro com as partes interessadas. Não me admiraria se, ao final, fosse Serginho o porta-voz do famigerado "segredo de Carlota" (Giulia Gam) – que movimenta a história atualmente.
Esses recursos "fáceis" empobrecem a narrativa de uma novela. E os clichês – inerentes ao gênero folhetim – ganham assim "proporções faraônicas" – eu sendo despudorado também! Por outro lado, talvez venha daí o segredo de "Boogie Oogie" ter uma trama tão dinâmica, em que os acontecimentos fluem com facilidade e rapidez. Consequentemente, sem precisar ponderar muito.
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