A TV precisa de mais bons roteiros e sutileza como em "Sete Vidas"
"Podemos conversar?"
Essa foi a frase mais ouvida em "Sete Vidas", a novela das seis da Globo que terminou nesta sexta-feira, 10/07. A trama repleta de DRs (discussões de relação) primou por um texto de altíssima qualidade, profundo e sutil, o grande diferencial da autora, Lícia Manzo, ao retratar relações humanas com muita sensibilidade. Talvez daí se explique a legião de fãs ante personagens e dramas de fácil identificação e simbiose.
Idealizada para ser curta – teve apenas 106 capítulos, quatro meses no ar –, se justifica a sensação de "quero mais" de seu público. Mas, convenhamos, a história do encontro das sete vidas concebidas artificialmente a partir de um mesmo pai biológico rendeu tudo o que tinha para render. Já nas últimas semanas, percebeu-se uma certa enrolação, que só não incomodou por conta de sua galeria de personagens cativantes.
Didática na medida certa, a novela também abordou temas espinhosos, como alienação parental e homossexualidade e preconceito – neste último exemplo, sem levantar bandeiras ou ser pretensamente panfletária. Um grande destaque para Regina Duarte, em uma coadjuvante que brilhou pela interpretação da atriz e pelo texto da autora. Também – o até então desconhecido do grande público – Fábio Herford, ao dar vida ao sensível Eriberto, um personagem riquíssimo que rendeu bem.
Produção caprichada e uma das melhores trilhas sonoras do últimos tempos. E o que seria do ótimo texto se não fosse um elenco e uma direção de atores à altura? E "Sete Vidas" preencheu os requisitos. Direção geral de Jayme Monjardim e atores bem escalados. Débora Bloch em uma de suas melhores interpretações na televisão. Gisele Fróes e Maria Eduarda Carvalho repetindo tipos que defenderam muito bem na novela anterior da autora, "A Vida da Gente" (2011-2012). Também um grande destaque para Cláudia Mello, Cyria Coentro, Malu Galli e o novato Michel Noher (o argentino Felipe).
Ao mesmo tempo, alguns bons atores que poderiam render bastante, não passaram de figuração de luxo: Selma Egrei, que era a mãe das personagens de Débora Bloch e Malu Galli, simplesmente sumiu da trama. Também os pais de Felipe, vividos por Jean-Pierre Noher e Lígia Cortez.
"Sete Vidas" também poderia se chamar "A Vida da Gente". Lícia Manzo tem um texto naturalista, que se apropria da realidade de forma folhetinesca, mas sem os maniqueísmos, exageros ou arroubos do folhetim, sem grandes vilões, apelações, correrias ou acontecimentos catárticos para chamar a atenção do público. A autora conquista apenas pela sutileza dos diálogos e dos dramas universais vividos pelos personagens, que bem poderiam ser nossos amigos, parentes ou vizinhos, eu ou você.
Aqui cabe apenas uma crítica à autora, algo já percebido em "A Vida da Gente". Seus dramas são universais e acometem todos os gêneros, mas percebe-se um maior afinco de Lícia ao retratar personagens femininas em detrimento aos masculinos, em sua maioria reconhecidos como fracos, emocionalmente imaturos e/ou dependentes, ou mesmo "bananas".
Entende-se que a audiência da novela das seis é – em teoria – predominantemente feminina. Mas já que o estilo da autora é naturalista, uma melhor dosagem caberia bem, sem desmerecer nenhum gênero. Ainda mais porque Lícia Manzo tem um texto digno de um horário mais nobre, em que o público é bem mais amplo do que apenas as telespectadoras do horário das seis. Nossa televisão carece de roteiristas assim. #LiciaParaAs9 #ficaadica
Leia também: Maurício Stycer – Sete motivos por que vamos sentir saudades de "Sete Vidas".
Audiência: "Sete Vidas" foi bem de audiência, fechou com uma média final de 19,4 pontos no Ibope da Grande São Paulo, elevando em dois pontos a média do horário das seis, quando comparada com as novelas anteriores – "Boogie Oogie" 17,4; "Meu Pedacinho de Chão" 17,78; "Joia Rara" 18,4. Fonte: Fábio Dias, blog "O Cabide Fala".
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