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“Além do Tempo” manterá o público engajado nesse início lento da nova fase?

Nilson Xavier

03/11/2015 10h55

Rafael Cardoso, Alinne Moraes, Emílio Dantas e Paolla Oliveira (Foto: Artur Meninea/Gshow)

Rafael Cardoso, Alinne Moraes, Emílio Dantas e Paolla Oliveira (Foto: Artur Meninea/Gshow)

A novela "Além do Tempo" mudou de fase e muita coisa mudou com ela. Inclusive o ritmo. Os figurinos e cenários são outros. Os personagens, classes sociais e configurações familiares também. Apenas os nomes permanecem os mesmos. "Além do Tempo" conta agora com uma nova história. Para isso, parte do zero. Para começar tudo de novo, a autora, Elizabeth Jhin, deu uma freada no ritmo dinâmico das duas últimas semanas e os fatos agora seguem morosamente. Como quando a novela estreou. E ainda um agravante: o atraso nas gravações.

O espaçamento de 150 anos (ou 120, como queiram) é o grande diferencial de Jhin, que põe a novela em uma realidade completamente diferente. É, de fato, uma outra, uma nova novela, ainda que apoiada em fatos ocorridos no século 19.

O público tem agora o desafio de assimilar novas possibilidades. O casal romântico da primeira fase – Lívia e Felipe (Alinne Moraes e Rafael Cardoso) – não inicia mais a história livre e desimpedido, como antes: Lívia era noviça e Felipe, viúvo, era noivo de Melissa (Paolla Oliveira). Atualmente, uma ponta deste triângulo está comprometida. Enquanto Lívia é noiva do ciumento Pedro (Emílio Dantas), Felipe está casado, em uma relação aparentemente feliz e estabelecida com Melissa, inclusive com um filho, Alex (Kadu Schons).

Por mais que o telespectador tenha facilmente torcido pelos pombinhos na encarnação anterior, a autora inicia sua nova história com um dificultador para a felicidade eterna do casal. Pedro já deu sinais de vilania, será fácil torcer pela separação dele e Lívia. Mas Melissa foi a personagem que apresentou a maior mudança de personalidade na passagem de uma fase para outra. Ela continua uma mulher insegura, mas, pelo menos por enquanto, apresenta-se apaixonada pelo marido e mãe zelosa: é uma família feliz. O público torcerá por este lar em vias de ser desfeito?

Outra mudança muito interessante promovida por Jhin envolve a dupla Emília e Vitória (Ana Beatriz Nogueira e Irene Ravache). Enquanto Emília era vítima de Vitória no século 19, em que a primeira impunha uma vingança pessoal contra a segunda, as posições se inverteram na contemporaneidade. Agora Emília é a carrasca de Vitória. E as duas atrizes continuam dando show.

Novela é hábito e demanda tempo para conquistar o engajamento do público. A nova novela de Elizabeth Jhin tem a seu favor a audiência já cativa. A curiosidade pelas novas vidas dos personagens também é um fator que deve ser considerado – mas a mera curiosidade não garante engajamento. O desafio agora é não perder público com essa desacelerada inicial.

Pitaco!
Cá entre nós, seria bem interessante se, nesta mudança de fase, a autora promovesse uma inversão de papeis entre Lívia e Melissa, de vilã e mocinha – assim como trocou a posição de vítima e carrasca entre Emília e Vitória. Só que essa guinada seria radical demais, já que subverteria a proposta da novela de "amor além do tempo". Fica para a próxima, não é mesmo?!

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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