A praga do não planejamento afeta “Dez Mandamentos” como afetou “Pantanal”
O sucesso de "Os Dez Mandamentos", batendo o Ibope da Globo nas últimas semanas, tem levantado comparações entre a novela bíblica da Record e "Pantanal" (TV Manchete, 1990), trama que entrou para a história não só pelo banho de audiência (no último capítulo, a Manchete bateu a Globo com uma diferença de 20 pontos no Ibope), mas pelo arrebatamento que causou no público, tornando-se um marco em nossa Teledramaturgia.
Para além dos bons números de audiência – e, provavelmente, como razão para eles -, tanto uma quanto a outra se destacaram em suas épocas como opções diferenciadas ao que a Globo vinha apresentando. "Pantanal" revelou ao Brasil as belezas naturais da região que dá título à novela, com uma ambientação e estética inéditas, nunca vistas nas novelas globais. Com boa dose de escapismo, nunca deixou de ser, acima de tudo, um folhetim de qualidade inquestionável.
Não cabe aqui comparação entre a qualidade de uma e outra novela. Todavia, "Os Dez Mandamentos" é também escapista num momento em que o público parece cansado das tramas realistas globais. O apelo bíblico de uma história mundialmente conhecida em uma produção cheia de pirotecnia aguça a curiosidade até mesmo de quem torce o nariz para histórias bíblicas que todos conhecem.
A preocupação atual da Record é manter o patamar de audiência alcançado e escapar do rótulo de "sucesso momentâneo" para sua novela. Sabemos que a emissora não se preparou adequadamente para a sucessora de "Os Dez Mandamentos", por não imaginar que a novela iria tão longe. Prova do não saber o que fazer ou como lidar com esse sucesso todo é o fato da emissora de Edir Macedo ainda não ter decidido a data para o término de sua novela – se essa semana, ou a próxima, e em qual dia -, esticando-a ao máximo para usufruir o quanto pode dessa repercussão, correndo o risco de comprometer a produção e irritar o telespectador com tanta enrolação.
A falta de planejamento e a má administração do sucesso também acometeram a Manchete. Apesar da boa repercussão inicial da novela "A História de Ana Raio e Zé Trovão", que substituiu "Pantanal", e de "Xica da Silva" (1996, outro êxito isolado), a emissora foi se afundando até fechar suas portas, em 1999. No livro "Rede Manchete, Aconteceu, Virou História" (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo), o autor, Elmo Francfort, relata que Lourenço Carvano, gerente de manutenção da Manchete na época de "Pantanal", afirmou que a novela foi um sucesso inesperado que a emissora não soube administrar. Elmo conclui:
"'Pantanal', apesar do sucesso grandioso, com méritos, foi uma faca de dois gumes para a Manchete. A emissora vinha numa linha de crescimento gradativa e a novela foi produzida sem que a Manchete tivesse atingido uma maturidade que a tornasse totalmente estável, principalmente no lado comercial".
Não obstante às mudanças de rumo de última hora, a Record parece depositar agora todas as suas fichas no horário nobre às suas produções bíblicas. Caberá a "Terra Prometida", anunciada para o primeiro semestre de 2016, provar que a boa fase da emissora também está imune à famigerada praga da falta de planejamento.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.