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Além do “TV Pirata”, Guilherme Karan destacou-se em novelas de Glória Perez

Nilson Xavier

07/07/2016 15h47

Agronopoulos do

Agronopoulos do "TV Pirata" / Raposão em "O Clone" / Porfírio em "Meu Bem Meu Mal" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Quando penso em Guilherme Karan, lembro de seus personagens hilários no "TV Pirata". O ator esteve no humorístico nas temporadas de 1988 a 1990 e deu vida a tipos incríveis, como Zeca Bordoada, o apresentador do "TV Macho", e Agronopoulos, o "capanga" da novela "Fogo no Rabo" (que usava uma capanga!). Lembro também de um esquete em que ele personificou com graça a Bicha Gata, uma versão gay da Mulher Gato de Michelle Pfeiffer (do filme "Batman", que fazia sucesso na época). Guilherme Karan era uma das presenças mais marcantes do "TV Pirata" e um dos atores mais versáteis do elenco.

O ator-comediante nos deixou nesta quinta-feira (07/07), vítima de uma doença degenerativa. Tinha 58 anos e estava afastado da profissão desde 2005. Mais detalhes sobre sua morte AQUI.

Outro personagem muito marcante de sua carreira foi o mordomo cara de pau Porfírio da novela "Meu Bem Meu Mal", de Cassiano Gabus Mendes (1990-1991), atualmente em reprise no canal Viva. Porfírio era totalmente sem noção, mas conhecia seu lugar e respeitava o patrão, Dom Lázaro Venturini, vivido por Lima Duarte. E era apaixonado por Magda, personagem de Vera Zimmermann, a quem ele chamava de Divina Magda, uma garota sonsa que frequentava a piscina da mansão, sempre a lhe provocar. O mordomo vivia lhe dizendo obscenidades e impropérios, com muito humor. O casal fez sucesso na novela.

Em uma entrevista em 2003, Karan revelou que Cassiano Gabus Mendes tinha um carinho especial por seu personagem Porfírio:
"No último dia de gravação, uma atriz, que eu não posso revelar o nome, se aproximou de mim e disse que todas as declarações que Porfírio havia feito à Divina Magda durante a novela, ela havia ouvido na vida real do Cassiano. Eu descobri que havia vivido o alter-ego do autor!"

Guilherme Karan ainda atuou ao lado de Cassiano Gabus Mendes na novela "Perigosas Peruas", de Carlos Lombardi (1992), em que o novelista fez uma participação como ator, vivendo o mafioso Dom Franco Torremolinos. Karan era um de seus filhos, Hector, um mau caráter engraçado, que rouba o pai ao longo da trama.

Karan também teve uma carreira no cinema, em filmes como "Luz Del Fuego" (1982), "O Rei do Rio" (1985), "Rock Estrela" (1985), "O Homem da Capa Preta" (1986), "Stelinha" (1990) e "Bella Donna" (1997). E tem toda uma geração que lembra dele dos filmes da Xuxa: "Super Xuxa Contra Baixo Astral" (1988), "Xuxa e os Duendes" (2001) e "Xuxa e os Duendes 2" (2002).

Além desses trabalhos, Guilherme Karan também destacou-se através de sua parceria com a amiga Glória Perez, que sempre que podia, lhe encaixava em suas novelas. Karan atuou na maioria dos trabalhos da autora. A primeira novela de Glória, "Partido Alto" (1984, escrita com a parceria de Aguinaldo Silva), foi também a estreia de Guilherme Karan na televisão. Ele viveu o guru de araque Políbio, que na trama enganava a deslumbrada personagem de Susana Vieira, uma socialite. Na sequência, Gloria foi para a TV Manchete, escrever "Carmem" (1987), e Karan ganhou um papel: Jano.

Guilherme Karan foi visto em quase todos os trabalhos de Glória a partir da década de 1990 (depois do "TV Pirata"): "Explode Coração" (1995), como o "rocker" Bebeto a Jato (com um visual rockabilly); a minissérie "Hilda Furacão" (1998), como o divertido sacristão João Dindim, em ótimas cenas com Paulo Autran, que fazia o padre; o remake de "Pecado Capital", como o bandido Jurandir; "O Clone" (2001-2002), como o vigarista Raposão, do núcleo de Dona Jura (Solange Couto); e, por fim, "América" (2005), como o latino Geraldito, crooner de um bar do núcleo de Miami.

"América" foi o último trabalho de Guilherme Karan, que afastou-se para tratar de sua doença. Há onze anos estava em tratamento. Que agora descanse em paz.

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Com Paulo Autran, parceria na minissérie Hilda Furacão (Foto: Divulgação/TV Globo)

Com Paulo Autran, parceria na minissérie Hilda Furacão (Foto: Divulgação/TV Globo)

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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