Topo

Canal Viva estreia hoje "Tieta" - 10 curiosidades sobre a novela

Nilson Xavier

01/05/2017 07h00

Tieta (Betty Faria) e Perpétua (Joana Fomm)

O Viva estreia nesse dia 1º de maio a novela "Tieta", uma das mais pedidas e aguardadas pelo público do canal. Um dos maiores sucessos da TV brasileira, a produção foi originalmente exibida entre agosto de 1989 e março de 1990, e teve apenas uma reprise, no "Vale a Pena Ver de Novo", entre 1994 e 1995. A exibição do Viva será às 15h30 com repeteco do capítulo à meia-noite e meia. Pela primeira vez em sua programação, o canal vai exibir uma maratona dos capítulos da semana: aos domingos, a partir do dia 7, às 19 horas. A seguir, 10 curiosidades sobre esse marco de nossa televisão.

1. Novela diferente do livro

Escrita por Aguinaldo Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares, a novela teve como base o romance "Tieta do Agreste", de Jorge Amado, publicado em 1977. Uma livre adaptação com a benção do escritor baiano. Segundo a atriz Betty Faria, foi ela quem negociou a compra dos direitos para adaptar o livro diretamente com seu autor. Da obra original, subtraiu-se apenas o mote inicial e o perfil dos personagens. Os 196 capítulos foram recheados por entrechos cômicos e dramáticos em competente criação dos roteiristas. Para que pudessem sustentar uma telenovela de mais de sete meses de duração, vários personagens, pequenos no livro, acabaram ganhando força e se destacaram, cada qual com suas características próprias na adaptação.

Osnar e Cinira (José Mayer e Rosane Gofman) | Perpétua e Amorzinho (Lília Cabral)

2. Personagens inesquecíveis

Muitos foram os destaques no elenco, em personagens carismáticos que automaticamente caíram no gosto do público: Yoná Magalhães (Tonha), Arlete Salles (Carmosina), Luciana Braga (Imaculada), Paulo Betti (Timóteo), Tássia Camargo (Elisa), Ary Fontoura (Artur da Tapitanga), Armando Bógus (Modesto Pires), Lília Cabral (Amorzinho), Rosane Gofman (Cinira), Sebastião Vasconcelos (Zé Esteves), Benvindo Siqueira (Bafo de Bode), Lídia Brondi (Leonora) e tantos outros. Mas o grande momento foi mesmo de Joana Fomm, impagável como a megera Perpétua, e Betty Faria, como a protagonista Tieta. Joana Fomm optou por uma linguagem circense na interpretação da moralista viúva Perpétua. O que, a princípio, pareceu uma temeridade – alguns achavam que ela deveria mudar o tom –, revelou-se um achado.

3. Os bordões

A personagem Dona Milú (Mirian Pires) fixou na cabeça do público o bordão "mistééééério!", lembrado até hoje. Tonha (Yoná Magalhães) se despedia com um engraçado "te-chau!". Timóteo (Paulo Betti) usava a expressão "nos trinques!" para salientar que algo estava bom ou havia sido bem feito. Tieta, vez ou outra, exclamava "Eta lelê!", como uma interjeição. E Modesto Pires (Armando Bógus) soltava um "u-u!" cada vez que chamava a amante Carol (Luiza Tomé) para o seu colo.

Ricardo (Cássio Gabus Mendes) e Tieta (Betty Faria)

4. Incesto e pedofilia

A novela teve problemas com a Justiça e com a Igreja Católica, que enquadraram a polêmica relação amorosa entre tia e sobrinho – Tieta e Ricardo (Betty Faria e Cássio Gabus Mendes) – como um caso incestuoso. Outro tema polêmico abordado foi a pedofilia, porém de forma a não chocar o público. Ary Fontoura interpretou o coronel Artur da Tapitanga, que seduzia menores (que ele chamava de "rolinhas") em troca de lar, comida e alfabetização. A única indomável foi Maria Imaculada (Luciana Braga), que se recusou a ceder às vontades do velho coronel.

5. Nudez na abertura

A abertura integrou beleza feminina e elementos da natureza. Para isso, o designer gráfico Hans Donner e sua equipe fotografaram o litoral de Mangue Seco, norte da Bahia. As fotos viraram slides projetados no fundo da cena onde a modelo Isadora Ribeiro aparecia nua e coberta por uma penumbra. A partir de recursos de computação gráfica, pedras, árvores e folhas contorciam-se, dando origem ao corpo da modelo. Isadora Ribeiro, que já havia aparecido na abertura do "Fantástico" de 1988, tornou-se atriz e participou de várias novelas posteriormente. Na reprise do "Vale a Pena Ver de Novo" (em 1994), sua nudez foi censurada: para disfarçar o corpo, a imagem foi escurecida e os créditos apareciam subindo a tela, como no encerramento.

6. A Mulher de Branco

Quem era a Mulher de Branco, uma misteriosa figura feminina que assombrava a cidade em noites de lua cheia e atacava sexualmente homens "indefesos". Depois de várias vítimas, a identidade da assombração veio à tona: Laura (Cláudia Alencar), a fogosa esposa do Comandante Dário (Flávio Galvão). Aguinaldo Silva usou um mistério semelhante em outra novela sua, "A Indomada" (1997), em que as mulheres eram as vítimas de um tarado nas noites de lua cheia. A figura era conhecida como o Cadeirudo, por sua silhueta estranha e andar peculiar.

7. A caixa de Perpétua

Perpétua (Joana Fomm) agarrava-se a uma caixa escondida em seu guarda-roupa. O conteúdo dessa caixa aguçou a curiosidade do público durante toda a trama, mas nunca foi revelado. Especulava-se que seria o órgão genital do falecido marido da megera. No final, depois de Perpétua desmoralizada, o povo da cidade fez fila para ver o que havia dentro da tal caixa. Mas apenas foi exibida a reação dos personagens, surpresa, assustada, enojada ou divertida.

Perpétua (Joana Fomm)

8. Mangue Seco e Santana do Agreste

Com o sucesso da novela, as dunas de Mangue Seco, no litoral da Bahia, ganharam repercussão e o povoado virou ponto turístico. As paisagens que serviram como cenário são lembradas até hoje por quem visita o local. Já a fictícia Santana do Agreste era a cidade cenográfica construída numa área de 10 mil metros quadrados em Guaratiba, na zona oeste do Rio de Janeiro, formada por 46 prédios, 2 igrejas, 8 ruas, 2 praças, 1 circo abandonado e 15 ruínas.

9. A trilha sonora

A trilha de "Tieta" marcou época. A Som Livre lançou comercialmente dois LPs durante a exibição da novela, apenas com músicas nacionais – que venderam como água. A maioria das canções remete imediatamente à trama e seus personagens, como "Tieta", o tema de abertura gravado por Luiz Caldas, "Meia Lua Inteira" (Caetano Veloso), "No Rancho Fundo" (Chitãozinho e Xororó), "Coração do Agreste" (Fafá de Belém), "Amor Escondiddo" (Fagner), "Tenha Calma" (Maria Bethânia), "Imaculada" (Elba Ramalho), "Uma Nova Mulher" (Simone), "Dancei" (Martinho da Vila), "Alguém Me Disse" (Gal Costa), "A Lua e o Mar" (Moraes Moreira), "Luar do Sertão" (Roberta Miranda), e outras.

Artur da Tapitanga (Ary Fontoura), Tieta (Betty Faria), Osnar (José Mayer) e Carmosina (Arlete Salles)

10. No cinema

Seis anos após o término da novela, "Tieta do Agreste" foi adaptada para o cinema, no filme de Cacá Diegues com roteiro assinado por Antônio Calmon. Betty Faria foi preterida na versão cinematográfica. Sônia Braga – também coprodutora – viveu a personagem-título. Optou-se por Sônia pensando no potencial internacional de vendas do filme. Por esse mesmo motivo, Marília Pêra ficou com o papel de Perpétua. Caetano Veloso – também um artista de prestígio internacional – fez a trilha sonora. Ainda no elenco, Chico Anysio (Zé Esteves), Cláudia Abreu (Leonora), Heitor Martinez (Ricardo) e outros.

AQUI tem tudo sobre "Tieta", trama, elenco, personagens, trilha sonora e mais curiosidades.
Fotos: Acervo/TV Globo.
Siga no FacebookTwitter Instagram

Coronel Artur da Tapitanga (Ary Fontoura), Imaculada (Luciana Braga) e a rolinhas

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier