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Todas as novelas da Globo estão usando as mesmas tramas sobre paternidade

Nilson Xavier

29/05/2017 07h00

Ísis Valverde, Júlia Rabello, Gabriel Braga Nunes, Daniel de Oliveira (Foto: divulgação)

Já há algum tempo, meu amigo Maurício Stycer tem chamado a atenção para tramas repetidas entre as novelas no ar. Não é o caso dos velhos clichês de todo folhetim – da máxima "novela é tudo igual, muda apenas a forma de contar a mesma história". Estamos nos referindo a um mesmo recurso dramático sendo usado nas produções atuais em horários diferentes.

Só que agora a coisa se agravou a tal ponto que todas as novelas da Globo hoje no ar exibem entrechos muito semelhantes envolvendo paternidades de bebês. Em todas as produções, mães escondem quem são os pais de seus filhos.

Trama 1: a dúvida sobre a paternidade da criança + teste de DNA.

Na novela das sete, "Rock Story", Marisa (Júlia Rabello) afirma que o pai de seu filho é Haroldo (Paulo Betti). Para o público, é quase certo que o bebê não é dele: pode ser de Romildo (Paulo Verlings) ou de Lázaro (João Vicente de Castro). Para tirar a dúvida, Gilda (Suzy Rêgo), mulher de Haroldo, exigiu um exame de DNA.

Enquanto isso, em "A Força do Querer", a trama das nove, Ritinha (Ísis Valverde) engana todo mundo afirmando que o bebê que espera é de Ruy (Fiuk), quando o público sabe que o pai é Zeca (Marco Pigossi). Cibele (Bruna Linzmeyer), a ex de Ruy inconformada por ter sido preterida, é quem vai falar em exame de DNA.

Há ainda "Malhação, Viva a Diferença", em que a paternidade do bebê de Keila (Gabriela Medvedovski) é um dos mistérios da trama.

Todas as mães escondem quem são os pais de seus filhos

 

Trama 2: o vilão cria o filho que a mocinha teve com o mocinho e usa a criança para fazer chantagem.

Em "Os Dias Eram Assim" (às onze da noite), o vilão Vitor (Daniel de Oliveira) armou para separar o mocinho Renato (Renato Góes) da mocinha Alice (Sophie Charlotte), por quem é apaixonado. Depois amparou a moça que estava grávida, aceitando criar o filho que ela teve com o seu verdadeiro amor, desde que ela se casasse consigo. Passado um tempo, ele começa a usar, entre outros recursos, o filho, que não é seu, para chantagear emocionalmente a amada – que afinal não o ama.

Existe uma trama quase idêntica acontecendo em "Novo Mundo", às seis horas. O vilão Thomas (Gabriel Braga Nunes) armou para separar o mocinho Joaquim (Chay Suede) da mocinha Anna (Isabelle Drummond), por quem é apaixonado. Depois casou-se com ela, que estava grávida de seu verdadeiro amor. Por fim, ao saber que seu filho na verdade era de Joaquim, começa a usar o bebê para chantagear a amada – que afinal não o ama.

E com o agravante de que já tivemos o vilão que cria o filho do mocinho nas duas últimas novelas das 9: em "A Lei do Amor", Tião (José Mayer) casou-se com Helô (Claudia Abreu) e criou Letícia (Isabella Santoni), a filha dela com Pedro (Reynaldo Gianecchini); em "Velho Chico", Carlos Eduardo (Marcelo Serrado) casou-se com Tereza (Camila Pitanga) e criou Miguel (Gabriel Leone), filho dela com Santo (Domingos Montagner). E no Vale a Penas Ver de Novo, a vilã Nazaré (Renata Sorrah) de "Senhora do Destino", cria Isabel (Carolina Dieckmann), filha da protagonista Maria do Carmo (Susana Vieira).

Ainda que com uma pequena diferença entre as tramas 1 e 2, os recursos dramáticos são os mesmos (mães escondem os pais de seus bebês), indo ao ar concomitantemente (trama 2 às 6 e às 11, e trama 1 às 7 e às 9 + Malhação). Esse tipo de repetição entre as novelas tem se tornado reincidente nos últimos tempos. O curioso é que, até pouco tempo atrás, coincidências assim eram raras de ocorrer. Se as tramas já estavam previstas nas sinopses, será que não tinha como evitar que fossem acontecer ao mesmo tempo? No vídeo abaixo (de fevereiro), Stycer cita outros casos como esse.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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