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“Novo Mundo” divertiu e despertou o interesse pela História do Brasil

Nilson Xavier

25/09/2017 19h09

Caio Castro e Letícia Colin (Foto: Tatá Barreto/TV Globo)

A Globo encerrou nessa segunda-feira (25/09) a sua novela das seis, "Novo Mundo". Aplaudida pelo público e crítica – merecidamente -, a produção teve média final no Ibope da Grande SP de 24 pontos (as anteriores: "Sol Nascente" 21, "Eta mundo Bom!" 27). Seu sucesso é medido pelos números de audiência e também pela repercussão: foi uma novela comentada, que gerou buchicho.

Entre as várias qualidades, ressalta-se o talento dos autores Thereza Falcão e Alessandro Marson (experientes na dramaturgia da Globo, mas estreando como titulares) em entregar uma trama redonda, bem escrita, recheada de personagens atraentes que conquistaram o público. A dupla revelou uma carpintaria competente no entrelaçamento de histórias e personagens, sem deixar perder fôlego, sem esgotar o interesse ou cansar o público, mesclando habilmente ficção e realidade – no caso, ficção com fatos da História do Brasil.

Entre as tramas que se cruzaram, uma crítica ao núcleo indígena, que foi perdendo função dentro da novela. Sem levantar bandeira ou suscitar discussões, os índios apareceram em "Novo Mundo" apenas como uma alegoria. Nem os seus direitos ou a posição da mulher na sociedade indígena (como sugeria a personagem Jacira) tiveram uma representação à altura. Esvaziado, o núcleo da floresta destoou do resto. Mas nada que desabonasse a obra.

O texto esteve em harmonia com a direção (a cargo de Vinícius Coimbra e equipe) e produção caprichada – cenários, fotografia, trilha sonora, direção de arte, figurinos e caracterização do elenco inquestionáveis.

A escolha dos atores foi outro acerto. Letícia Colin brilhou como Leopoldina, em uma interpretação marcante à altura da proposta de destacar a figura da princesa em detrimento à imagem glamurizada de Domitila – vista em obras, como as minisséries "Marquesa de Santos" e "O Quinto dos Infernos" e o filme "Independência ou Morte", sempre como uma figura mais importante que a imperatriz. Pela primeira vez, Leopoldina teve retratado na dramaturgia o seu devido valor no processo da Independência.

Ingrid Guimarães, Guilherme Piva, Vivianne Pasmanter e Gabriel Braga Nunes (Foto: Estevam Avelar/TV Globo)

Vivianne Pasmanter surpreendeu a todos com a personificação da grotesca e engraçada Germana, um tipo inesquecível. O trio formado com Guilherme Piva (Licurgo) e Ingrid Guimarães ("Elvira Matamouros, grande atriz!") foi responsável por vários momentos risíveis – merecia um spin-off. Também o trabalho de Caio Castro (Dom Pedro), Felipe Camargo (José Bonifácio), Gabriel Braga Nunes (Thomas), Roberto Cordovani (Sebastião Quirino), Júlia Lemmertz (Greta) e Leopoldo Pacheco (Fred Sem Alma), em grandes momentos.

Os clichês folhetinescos estiveram presentes, sem sutileza alguma, mas trabalhando a favor da boa dramaturgia, de uma história bem amarrada que não subestimasse seu público. Acima de tudo, "Novo Mundo" explorou e executou bem todos os recursos que o formato telenovela demanda, sem nunca querer ser mais que isso. Ainda assim, encontrou espaço para discursos que reverberam no Brasil atual, de teor político ou sobre a condição do negro, do índio e do meio ambiente.

Os puristas que clamaram por fatos históricos reproduzidos ipsis litteris esquecem que essa nunca foi a proposta da novela. Afinal, tratava-se de uma obra baseada em fatos reais, logo a liberdade de criação estava assegurada. Sem a pretensão de ser uma "aula de História", "Novo Mundo", além de entreter, despertou no público o interesse pela História do Brasil, o que, por si só, já foi um mérito e tanto.

Acompanhei de perto a novela, entrevistei Thereza Falcão e Alessandro Marson antes da estreia (leia AQUI) e o diretor Vinícius Coimbra na metade (leia AQUI), escrevi pontualmente elogios e críticas ao longo de sua exibição e "Novo Mundo" chega ao fim superando as expectativas e o que prometeram os autores no início. Entra para o rol das melhores novelas dessa década. Como diria Elvira Matamouros, "Novo Mundo, grande novela!".

Leia também, Stycer: "Em meio a muitos acertos, Novo Mundo errou ao retratar a escravidão".
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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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