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Trama sobre preconceito social é o maior destaque de "Pega Pega"

Nilson Xavier

13/10/2017 07h00

Milton Gonçalves e Virgínia Rosa (Foto: reprodução)

Com uma trama central pouco empolgante, um casal protagonista dos mais insossos, e poucos personagens que se salvam, isoladamente (Maria Pia, Sandra Helena, Malagueta, Agnaldo, Pedrinho, Arlete, Elza, Prazeres, Douglas), a novela "Pega Pega" se agarra a uma trama paralela que vem se destacando com ótimos entrechos: a que aborda o preconceito social da chique Sabine Favre (Irene Ravache) contra a família de seu filho adotivo Dom (David Júnior): os pais Cristóvão e Madalena (Milton Gonçalves e Virgínia Rosa) e o irmão Dilson (Ícaro Silva).

A autora Claudia Souto até recorreu a um velho clichê, já usado à exaustão em nossa Teledramaturgia: Sabine convida a família de Dom para um jantar elegante e eles não sabem o que fazer à mesa. Convenhamos, irresistível! Terminou com Cristóvão "explodindo" contra a arrogante, provocando a catarse e lavando a alma do público, que presenciou tantas humilhações a que os pais de Dom foram submetidos.

Essa semana, Madalena preparou uma vingancinha contra a vilã que quase culmina em tragédia. Sua intenção não era fazer o mal ou devolver a humilhação na mesma moeda, mas pregar uma peça em Sabine: a megera foi convidada para uma rabada na casa de Cristóvão. Mas passou mal com a comida de Madalena, sendo levada às pressas para o hospital em estado grave. Mesmo com a preocupação sincera e o pedido de desculpas da família de Dom, Sabine não perdeu a chance de novamente humilhar a todos.

Irene Ravache (Foto: reprodução)

A princípio, pensa-se em racismo, mas Sabine tem um filho adotado que é negro. Trata-se meramente de uma questão classista. A autora não subestima o público: evita o "coitadismo" das vítimas de preconceito, fazendo os personagens jogarem limpo. Sabine não é sonsa, não disfarça que não gosta da família de Dom. A família, por sua vez, também não leva mais desaforo para casa.

É uma trama bem engendrada que tem rendido bons ganchos. O que há de novo? Nada, a não ser a manutenção bem executada de velhos clichês. A telenovela também se adapta aos novos tempos, reciclando o que sempre funcionou com roupagem moderna, em sintonia com a atualidade. Pelo menos com essa trama, "Pega Pega" se sobressai.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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