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Direção de "Outro Lado do Paraíso" se esforça, mas nem sempre o texto ajuda

Nilson Xavier

04/12/2017 23h47

Fernanda Rodrigues e Bianca Bin (Foto: reprodução/@RealitySocial)

A segunda fase de "O Outro Lado do Paraíso" deu continuidade à saga de Clara (Bianca Bin), agora sedenta por vingança. O autor Walcyr Carrasco trouxe novos personagens. Alguns bem maniqueístas, com perfis e falas mastigadas, carregados no estereótipo pela mão pesada do autor, sem filtro, nuances, meios-termos ou sutilezas.

O melhor exemplo é Fabiana (Fernanda Rodrigues), a neta má de Beatriz (Nathalia Timberg) – que internou a avó em um hospício para ficar com sua fortuna e para quem Clara está trabalhando como doméstica. Fabiana não é má. Ela é muito má. A personagem é herdeira de um passado da Telenovela em que o maniqueísmo imperava sem pudores. Está mais condizente com os países exóticos de épocas remotas das tramas fantasiosas da cubana Glória Magadan do que com a ambientação contemporânea e realista proposta por "O Outro Lado do Paraíso".

Há uma dicotomia entre o texto (Walcyr Carrasco) da novela e a sua direção (Mauro Mendonça Filho). A produção é bonita, atraente aos olhos (fotografia e arte), e tem uma trilha sonora caprichada. A direção tira o melhor do ótimo elenco, exibe algumas tomadas sofisticadas, tem decisões criativas – como manter Beatriz nas lembranças de Clara, ao lado dela nas cenas.

Até é possível perceber sutileza (direção e texto) nas sequências entre a anã Estela (Juliana Caldas) e o lapidador Juvenal (Anderson Di Rizzi) – exemplo de um envolvimento que está sendo bem conduzido.

Porém, nem sempre a direção dá conta do que pede o texto. Além das falas de Fabiana, há os jantares na casa de Nádia (Eliane Giardini) – "Eu não sou racista!" e/ou "Eu não sou preconceituosa!" repetidos ad nauseam -, que, descambando para o humor (involuntário?) ficam além das possibilidades de qualquer "direção criativa". São situações em que o texto contrasta com a direção evidenciando um desnível.

No capítulo dessa segunda-feira (04/12), um personagem soltou: "Menos é mais". Pena que nem sempre o autor leve essa sua fala à risca.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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