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Protagonistas de "Malhação" falam da discussão sobre tolerância na novela

Nilson Xavier

04/03/2018 07h00

As Five (foto: reprodução)

"Malhação, Viva a Diferença" termina nesta segunda-feira (05/03) como um dos maiores sucessos da história da novelinha. Entrevistei as Five, como ficaram conhecidas as protagonistas que deram vida a Tina, Benê, Keyla, Ellen e Lica, algumas das personagens que ajudaram a levantar a discussão sobre tolerância, diferenças e representatividade, proposta pela temporada. Entre outros assuntos, elas falaram da repercussão desse trabalho, do quanto suas personagens lhe ensinaram e dos projetos para o futuro.

01. O que você tem de diferente de sua personagem?

Ana Hikari (Tina): Ela é uma sansei que só tem descendência oriental na família. Eu sou sansei e mestiça (descendente de japonês com negro). Por conta desse aspecto, eu tive muito menos influência oriental na minha criação do que a Tina. Tive que estudar muito sobre todo esse universo jovem de influência japonesa no Brasil para fazer a personagem. Por conta disso, eu conheci mangás, animes, bandas de kpop, jpop, jrock, etc.

Daphne Bozaski (Benê): A Benê é muito mais metódica do que a Daphne.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Keyla era mais impulsiva, ela não pensava muito antes de fazer as coisas, não racionalizava tanto as ações dela. Eu, apesar de ser bem emotiva, racionalizo bastante minhas atitudes. Mas acho que a Keyla mudou um pouco. O amadurecimento dela durante a temporada trouxe mais responsabilidade para as escolhas dela.

Heslaine Vieira (Ellen): Nós somos bastante parecidas em várias questões, na estrutura familiar matriarcal, garra. Mas a Ellen é genial, literalmente. Estou entre esforçada e estudiosa [risos]. Ela é destemida, empoderada e não faz muito para agradar os outros quando não acha que deveria. Só faz o que acredita! Eu, por ter mais idade talvez, em alguns momentos escolho outros caminhos para lidar com algumas questões. Mas nossa busca por justiça e igualdade entre seres humanos é a mesma e está no coração das duas.

Manoela Aliperti (Lica): Somos diferentes na maneira de abordar os conflitos. Lica é mais impulsiva.

02. O fato de você não ser mais adolescente facilitou a composição de sua personagem? Ou, ao contrário, dificultou?

Ana Hikari (Tina): Em certos momentos facilitou, pois tive a experiência dessa fase da vida como ferramenta para acessar os sentimentos trabalhados na minha personagem. Mas, em algumas situações, tive que me concentrar muito, para não deixar a Ana de 23 anos julgar as escolhas da Tina como adolescente e conseguir fazer tranquilamente as cenas. Foi um exercício muito legal.

Daphne Bozaski (Benê): Acho que facilitou. Por ter vivido mais coisas que a Benê, pude revisitar na minha adolescência o que poderia emprestar dos meus sentimentos e experiências para a personagem.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Apesar de eu não ser mais adolescente, nunca me senti distante dessa realidade, até porque não faz tanto tempo assim que passei por ela. Não sendo adolescente, pude ter um olhar mais externo para a construção da personagem.

Heslaine Vieira (Ellen): Não foi uma dificuldade muito grande essa questão da adolescência. Sempre interpreto adolescentes principalmente pela minha estrutura física. Além disso, já dei aula. Acredito que isso me aproxime bastante dos adolescentes e desse universo. Claro que não fazer mais parte desse grupo exige uma pesquisa maior, vivência. Laís Correa, que foi nossa coach no início, e Isabella Secchin, que nos ajudou a manter e observar de outras formas, facilitaram e muito o processo. Foram fundamentais para lidar com a gênesis dos nossos personagens. É muito importante o acompanhamento, porque por vezes podemos nos distanciar desse mundo já que não temos essa idade mais.

Manoela Aliperti (Lica): O fato de não ser mais adolescente me proporcionou um distanciamento crítico que favoreceu a composição de Lica. Sem excluir o desafio que foi interpretá-la.

03. Se você não tivesse interpretado a sua personagem e se fosse escolher uma das outras quatro protagonistas para interpretar, qual seria? E por quê?

Ana Hikari (Tina): Acho que todas as nossas personagens tiveram enredos incríveis, então, só pela diversão, eu ia gostar de experimentar um pouco de cada uma! [risos] Mas acredito que as escolhas das atrizes para cada personagem foi tão precisa que seria impossível ter uma mesma Ellen, ou uma mesma Benê, ou uma mesma Tina, etc, com outras atrizes. Seria totalmente diferente o rumo da história, porque cada uma de nós emprestou um pouco de si para construir a personagem.

Daphne Bozaski (Benê): A Keyla, pois acho de extrema importância falar sobre ser mãe na adolescência. Toda nossa história começou a partir do parto dela. Uma personagem que abordou temas que acho importante serem ditos, e é desafiador para representar.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Escolheria a Lica, que é uma personagem superinteressante e desafiadora, com questões profundas com ela própria e com a família. Mas ao mesmo tempo, é também uma pessoa que se preocupa muito com os outros, engajada nas questões diárias da escola e do mundo, uma personagem encantadora. Mas lá no fundo, seria íncrível poder viver um pouquinho da vida de cada uma das personagens. Cada uma tem uma luta tão especial que a experiência seria maravilhosa!

Heslaine Vieira (Ellen): Eu amo e admiro as personagens, não só das 'five', mas de todo elenco que conta muito bem a história com a gente. Mas a personagem que eu realmente gostaria de interpretar é a Ellen. Não sei se depois conseguiria responder com mais clareza ou escolheria uma outra, mas não me vejo em outro lugar que não esse. Ela é meu presente. A personagem que eu sempre quis interpretar. Ela não só me representa, mas representa milhares de pessoas como eu. Eu amo a Ellen, amo tudo que ela representa e é!

Manoela Aliperti (Lica): Difícil escolher uma delas. São cinco personagens complexas, densas e extremamente interessantes para o trabalho de ator.

04. Assistia a "Malhação" antes? Qual temporada mais gostou?

Ana Hikari (Tina): Assistia na época do Cabeção e da Miyuki. A Dani Suzuki era uma inspiração quando eu era criança. Ver uma descendente de oriental na TV, assistindo Malhação, me fazia acreditar que eu poderia chegar lá algum dia. Por isso hoje, como primeira protagonista oriental da Globo, eu entendo o poder da representatividade na televisão: apresentar pessoas na TV para que pessoas comuns possam se reconhecer nelas e, com isso, despertar a possibilidade de sonhar e correr atrás dos seus sonhos.

Daphne Bozaski (Benê): Assistia na época da Vagabanda e gostava muito!

Gabriela Medvedovski (Keyla): Superassistia! Eu sou uma fiel fã da eterna Vagabanda. Natasha era minha personagem preferida!

Heslaine Vieira (Ellen): Acredito que Malhação esteve e está presente na vida de muitos adolescentes, jovens e, na verdade, na vida de pessoas com qualquer idade. Vejo senhoras falando sobre a novela, nos parando para aconselhar. É lindo e único! Eu assisti à Vagabanda, com certeza – com a Marjorie Estiano, que acompanho o trabalho até hoje. E Malhação 2012, com a Fatinha, a Juliana Paiva, que hoje em dia é uma amiga. É muito doido como a vida é: eu a assistia e hoje somos amigas. Faço a novela que ela fez em 2012! Só gratidão!

Manoela Aliperti (Lica): Quando adolescente, infelizmente nem sempre conseguia assistir pois estudava em período integral. Entretanto, sei que Malhação é um programa assistido por um grande número de adolescentes, que se identificam com as diversas histórias contadas, independente da temporada.

05. Você está consciente de ter participado de uma temporada divisora de águas na franquia Malhação? Como enxerga isso?

Ana Hikari (Tina): Nossa, acho que a ficha ainda não caiu! Talvez seja maior do que a gente imagina mesmo. Sei que foi um ano divisor de águas para mim, como profissional, porque foi um trabalho que me dediquei intensamente, com muito estudo e concentração. Então, enxergo isso como uma experiência que me engrandeceu de diversas maneiras profissionais e que, felizmente, tocou o público com assuntos muito importantes para o Brasil.

Daphne Bozaski (Benê): Quando soube que o Cao escreveria a Malhação, tinha certeza de que algo novo viria. A maneira como ele mistura o entretenimento e a educação é única. Já havia trabalhado com ele anteriormente, na série "Que Monstro Te Mordeu?", um projeto que foi muito importante para mim. Conheci seu trabalho de perto, tinha certeza de que essa Malhação, com o texto dele, aprofundaria nos temas que devem ser ditos hoje. Acho que ele conseguiu isso com maestria, contando com uma equipe muito especial, como nosso diretor artístico Paulo Silvestrini. Estávamos bem amparados de todos os lados, fizemos com muita responsabilidade. Acho que por isso foi um divisor de águas, tanto para a Malhação, quanto para nós que fizemos parte desse projeto.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Quando começamos a nossa preparação, sabíamos do nosso desafio. Nossa temporada veio com propostas diferentes e ousadas, mas acho que não tínhamos ideia da proporção que tomou. Tenho muita honra de ter trabalhado num projeto tão bonito, responsável e ao mesmo tempo prazeroso e divertido. Acho que isso só foi possível porque TODA nossa equipe se dedicou muito e o resultado tá aí! Precisamos falar sobre diferenças, precisamos falar de representatividade e Viva Diferença provavelmente foi só o início de muitos outros projetos lindos que vem por aí.

Heslaine Vieira (Ellen): Sou suspeita para falar porque sou admiradora do Cao e do trabalho dele e da equipe, e do Paulo, nosso diretor artístico. A junção deles com o elenco inteiro entregue e nossa equipe maravilhosa e genial não deu outra coisa que não um projeto muito feliz! Foi muito trabalho de TODOS os envolvidos, literalmente. Se vocês tivessem a oportunidade de visitar o set de gravação, certamente iriam dizer: "É muito amor e trabalho duro!" Sou feliz, grata e realizada por ter feito parte desse projeto!

Manoela Aliperti (Lica): Enxergo o sucesso e o impacto dessa temporada devido ao trabalho de equipe. Começando pelo seu criador, Cao Hamburger, a direção de Paulo Silvestrini e o elenco extremamente dedicado e profissional.

06. Como é a repercussão nas ruas e nas redes sociais? O que mudou na sua vida por causa desse trabalho? Recebe muitas críticas?

Ana Hikari (Tina): É maior do que pensei! Na rua sempre reconhecem. Meu Instagram saiu de 600 seguidores para mais de 800k. Geralmente recebemos muitos elogios. O mais legal é que são sempre em relação aos temas abordados e muitas vezes de pessoas mais velhas do que o público alvo original da Malhação.

Daphne Bozaski (Benê): Muitas pessoas me param na rua e mandam mensagem na minha página do Facebook. Sempre recebi críticas muito positivas sobre a importância de retratar o Autismo, além de receber muitas fotos de pessoas que se achavam parecidas com a Benê. Quando alguém comentava coisas como: "Que menina retardada" ou "esquisita", muitas pessoas respondiam e defendiam, explicavam que ela era Asperger e que a pessoa devia se informar antes de comentar coisas do tipo. É muito importante fazer um trabalho como esse, que além de ser um entretenimento para quem está assistindo, está educando, informando sobre algo importante, fazendo as pessoas repensarem em suas atitudes e maneiras de pensar. Sou muito grata por terem me confiado a Benê! Com certeza ela foi um marco para mim e para minha carreira.

Gabriela Medvedovski (Keyla): A repercussão é gigante! O público da novela é muito engajado nas redes sociais, então o retorno é muito instantâneo. Mas, mesmo sendo uma novela adolescente, nós notamos que várias vezes somos reconhecidos por pessoas não adolescentes. É muito gratificante ter o seu trabalho reconhecido e de uma maneira tão carinhosa.

Heslaine Vieira (Ellen): A repercussão é linda! O público está cada vez mais antenado e presente. Malhação não tem mais idade. Todo mundo assiste. Comentam, dão opinião, questionam. Eu acho que esse processo é o mais gratificante. É claro que é muito bom sentir o carinho de todos, especialmente com cada personagem, e o fato de criar uma discussão sobre as questões me deixa muito feliz e mostra que o trabalho valeu a pena. A novela é de entretenimento sim, mas traz tantos assuntos atuais com tanta densidade que criar abertura em casa, na escola, para dialogar é um caminho muito especial! Eu sou telespectadora assídua e me questiono, questiono a Ellen, uso esse espaço para falar com meus pais e até minha avó.

Manoela Aliperti (Lica): Percebi que trabalhar na TV aberta proporciona uma grande visibilidade, e isso acarreta responsabilidade da nossa parte.

07. Qual cena você mais gostou de gravar, ou foi mais difícil?

Ana Hikari (Tina): A que eu mais gostei também foi a mais difícil: o parto no metrô. Foi muito marcante, meu segundo dia em um set de gravação de TV. Todas as cinco estavam muito envolvidas, cheias de adrenalina e o resultado, ainda bem, foi muito aclamado pelo público. Quando saímos do túnel do metrô, em São Paulo, depois de gravar, a sensação era de ter parido algo mesmo: estávamos exaustas e muito felizes!

Daphne Bozaski (Benê): Tive algumas cenas preferidas, entre elas quando o Guto toca vários estilos de música e faz Benê perceber o que cada música a faz sentir. E assim vai a ajudando a entender as suas emoções. Tem também a cena em que ela fala para o pai o que é Asperger – a mais importante e mais difícil também. Eu estava esperando muito por esse momento, uma cena de extrema responsabilidade.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Acho que uma das minhas preferidas é o parto. Depois do parto, todas as cenas de sonhos e delírios da Keyla foram incríveis de gravar. A primeira foi um pesadelo embaixo d'água, depois tiveram os delírios de quando ela tomou os remédios, e por fim os sonhos com a Fada K1.

Heslaine Vieira (Ellen): A cena do bullying com a Ellen, que eu chamo de racismo! Essa cena foi a que mais gostei de gravar e também foi a mais difícil! Explicando: gostei de gravar, porque sabia que tocaria não só em mim mas no público ao assistir. Foi bem difícil. Além de vivenciar enquanto Ellen, eu Heslaine também estava ali, e milhares de outras pessoas que passam por isso todos os dias. O diretor, que estava conosco nessa gravação, Carlo Milani, é um ser humano ímpar que proporcionou todo cuidado como sempre faz para a realização. A equipe inteira se comoveu, ajudou e muitos choraram. É olhar o outro, enxergar e se colocar no lugar!

Manoela Aliperti (Lica): Confesso que não consigo escolher uma cena especifica. Mas com certeza o parto no metrô ficou marcado na memória por ser a cena que inicia a amizade das cinco e o elo condutor de toda a história.

08. Você já passou por algum drama parecido com o vivido por sua personagem, ou um drama de outro personagem da trama?

Ana Hikari (Tina): A Tina, tal como a maior parte dos descendentes de oriental no Brasil, sofre com as piadinhas e brincadeiras de mau gosto sobre a sua descendência. Se formos dar nome a isso, pode-se dizer que é um tipo de discriminação racial. Infelizmente, apesar de vivermos em um país com tantas descendências e misturas, ainda é um país com muito preconceito enraizado. Assim como a Tina, eu sou uma pessoa que se posiciona contra esse tipo de preconceito.

Daphne Bozaski (Benê): Conforme recebia o texto, me espantava com algumas semelhanças que vivi quando era adolescente. Sempre digo que cada pessoa tem um pouquinho de cada "five". Me identifiquei algumas vezes com o que outros personagens estavam passando, como descoberta do amor; sair de casa cedo (como a Tina). O apoio da Josefina com a Benê remete muito ao apoio que a minha mãe sempre me deu em cada decisão da vida.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Como a Keyla, eu já tive reflexões sobre o meu corpo e meu peso. No meu caso, eu soube lidar de uma maneira mais tranquila e menos inconsequente. [risos]

Heslaine Vieira (Ellen): O mais interessante, para mim, é que nossa história tem tantos personagens densos que facilmente poderia citar "n" situações que eu já passei, presenciei ou soube na vida real. De racismo à ditadura da beleza. Se eu for falar de um por um, teríamos uma lista gigantesca.

Manoela Aliperti (Lica): Quando adolescentes, vivemos muitos dilemas e incertezas. Já passei por algumas dúvidas e questionamentos, mas sempre pude contar com a presença da família e dos amigos nesses momentos. Hoje, estou mais segura de meus planos e objetivos.

09. Tem algum aspecto de sua personagem que você gostaria que fosse mais explorado, mas não deu tempo porque o programa acabou?

Ana Hikari (Tina): Por mim, eu gravava mais uns três clipes da Tina! O que ela fez no Japão (dirigido pela Alexia Maltner) ficou incrível! Deu até vontade de virar uma cantora pop que nem a Tina! [risos]

Daphne Bozaski (Benê): Estou muito satisfeita com toda a trajetória da Benê, especialmente porque acho importante falar sobre o Autismo na televisão. Espero que esse assunto não se encerre com o fim de Malhação.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Algumas vezes o texto deu a entender que a Keyla teria algumas intuições e premonições. Ia ser muito legal se esse lado dela fosse explorado!

Heslaine Vieira (Ellen): Acredito que o Cao distribuiu muito bem as histórias de cada personagem. Deu profundidade em todas e, claro que se fosse uma série com temporadas, ele teria ainda muito mais a abordar de cada um, porque ele criou personagens que são como pessoas de verdade, cheias de camadas. Com certeza saio feliz pela voz que a Ellen teve em todo esse período, assim como cada um singularmente teve seu lugar de fala.

Manoela Aliperti (Lica): Acredito que Cao Hamburger conseguiu abordar uma série de assuntos relevantes com Lica. Separação dos pais, problemas com bebidas e drogas, bullying, bissexualidade, agressão física… E abordou todos eles de maneira séria, responsável e delicada.

10. Há algo que você aprendeu com sua personagem ou que te serviu de aprendizado?

Ana Hikari (Tina): Complementando uma resposta acima: assim como a Tina e como outros brasileiros que são descendentes de orientaia, eu sofro com o preconceito. Mas com a Tina eu aprendi que posso ter voz e me posicionar contra isso. Como ela disse desde o terceiro capitulo: "Eu odeio que me chamem de japa! Eu tenho nome!".

Daphne Bozaski (Benê): Desde o começo eu já sabia que a Benê era Asperger, mas não sabia se ela ia ser diagnosticada na história. Eu torcia muito por isso, pois acho importante aprofundar esse tema. Tive ajuda do Instituto Priorit no Rio de Janeiro. Lá me explicaram o que era o Espectro Autista e qual era o grau do autismo da Benê. No Priorit conheci adolescentes Aspergers, seus familiares e suas histórias; e pude entender melhor o modo deles pensarem e entenderem o mundo. Sempre conversei com o nosso diretor artístico Paulo Silvestrini, que me orientou para qual caminho iríamos levar a Benê. Li alguns livros que foram fundamentais para a criação da personagem, além de assistir a muitos filmes e séries que abordavam as situações que a Benê iria passar, como a questão do bullying. Troquei ideias com uma das maquiadoras da nossa equipe da Globo, que tem um filho autista, ela me ajudou muito. O texto do Cao também foi fundamental! A forma como ele escreveu as falas da Benê me fez entrar e entender a personagem, sem subestimar o público, sempre mostrando a realidade. Com certeza levo essa experiência para toda minha vida. A maneira como olho o mundo hoje tem um pouco do olhar da Benê. Além de muito conhecimento que obtive nesse ano de trabalho, levo o seu olhar mais sincero e também todas as mensagens que recebi de pessoas que, pela primeira vez, se sentiram representadas.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Aprendi muito com a Keyla e com a novela inteira. A Keyla me ensinou a ser persistente da melhor maneira possível, a ser empática e acho que, junto com o processo, eu amadureci junto com a Keyla. Foi uma experiência muito engrandecedora.

Heslaine Vieira (Ellen): Eu aprendi a me posicionar mais firmemente, como necessário. Ela é assim! Empoderada, guerreira, gênia … Não sou gênia, mas ela me mostrou que eu sei mais do que imaginava e isso é maravilhoso! Parece que conversamos e temos segredos entre nós. Aprendi tanto e sempre digo que ela mudou a minha vida e a minha forma de ver as coisas.

Manoela Aliperti (Lica): Lica entendeu, depois de um certo tempo, que, em certas situações, bater de frente não leva a nada. Compreendeu que argumentar com determinação e conhecimento é a melhor forma de lutar pelo que se acredita. Com certeza incorporei essa característica nos meus hábitos.

11. Como você enxerga o futuro de sua personagem em 20 anos? O que ela estará fazendo, ou como estará vivendo em 20 anos?

Ana Hikari (Tina): Eu imagino a Tina mais famosa ainda, com a produtora dela e do Anderson bombando e com a Tina sendo empresária de outros artistas famosos, descobrindo o talento de alguma Pabllo Vittar do futuro! [risos]

Daphne Bozaski (Benê): Acho que a Benê será maestra na OSESP. Estará terminando o Doutorado e ainda estará namorando o Guto.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Acho que ela vai se dedicar à moda, que ela ama. De repente, ela terá incrementado o seu brechó. Investirá nisso e será uma referência em customização e reaproveitamento!

Heslaine Vieira (Ellen): Imagino a Ellen dando continuidade ao projeto do Vicente, o pai dela. Sempre que sonho com ela, a vejo numa sala branca imensa, fazendo protótipos que ajudem o ser humano de alguma forma. Ela luta por justiça e igualdade e acho que vai usar o dom que tem para dar passos em direção ao que acredita.

Manoela Aliperti (Lica): Eu definitivamente imagino Lica trabalhando com alguma coisa relacionada às Artes. Acredito que uma possibilidade seja de ela ter um espaço cultural em São Paulo onde ela possa expor seus quadros, obras.

12. E agora? Férias? Novos projetos? Quais?

Ana Hikari (Tina): Eu sou uma pessoa que não gosta de ficar parada. Quero emendar um trabalho no outro. E continuar meus cursos de canto, circo e dublagem, porque acredito que, na nossa profissão, não podemos ficar parados e temos sempre muito a aprender.

Daphne Bozaski (Benê): Quero voltar para São Paulo para retomar uns projetos que já estavam encaminhados por lá antes da Malhação. E depois irei viajar. Mas estou deixando as coisas rolarem para ver qual caminho tomarei. Desejo muito fazer algo no cinema também.

Gabriela Medvedovski (Keyla): Agora eu vou dar um tempo para dizer adeus pra Keyla. Mas não vejo a hora de voltar ao trabalho e vou estudar para me preparar para os próximos projetos, que ainda não posso falar sobre! [risos]

Heslaine Vieira (Ellen): Férias um pouco! A gente conviveu muito tempo com nossas personagens e agora precisamos deixá-las descansar para não levar nada para os futuros trabalhos. Tenho alguns novos projetos incluindo teatro, que é tão importante para se reciclar e estar em outra plataforma. Também tem uma série a caminho que com certeza vai ser mais um desafio, diferente de tudo que já fiz. Durante as férias, já estou estudando e buscando referências.

Manoela Aliperti (Lica): Retornei para o último ano da faculdade de Artes Cênicas que havia trancado para vir para o Rio trabalhar. Junto a isso, continuo buscando novos projetos de trabalho.

Fotos: reprodução.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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