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"Onde Nascem os Fortes" sugere suspense psicológico em "sertão sensorial"

Nilson Xavier

23/04/2018 23h18

Fabio Assunção (foto: reprodução)

Todos os dias são do caçador!
A frase que encerrou o episódio de estreia de "Onde Nascem os Fortes", a nova supersérie da Globo, sintetiza a trama escrita por George Moura e Sérgio Goldenberg. O sertão da representação arcaica do poder ("aqui tem os que mandam e os que obedecem", proferiu Pedro Gouveia enquanto batia em Nonato) corrobora a ideia de que a lei serve aos interesses dos mais fortes. Está claro no título da supersérie, no texto e no fio condutor da trama (em que o todo-poderoso do lugar é desafiado e dá cabo -ou não- de seu desafeto).

Força, substantivo feminino

Ao mesmo tempo, a força masculina que dita a lei no sertão é quebrada pela delicadeza sugerida na música da abertura (interpretada pela família Veloso): "Todo homem precisa de uma mãe". A fictícia Sertão é onde nasceu Cássia (Patrícia Pillar), a mãe que busca pelo filho desaparecido, Nonato (Marco Pigossi). Há ainda Maria (Alice Wegmann), gêmea de Nonato – mãe e filha travarão uma luta contra os fortes de Sertão. O novo, o de fora (representado pela força motriz feminina), que enfrenta o arcaico culturalmente enraizado (o poderio masculino).

A força feminina é sentida ainda em Rosinete (Débora Bloch), a abnegada mãe que se martiriza e cuida da filha doente, e em Shakira do Sertão (Jesuíta Barbosa), a caricatura do feminino que, enquanto canta "como uma deusa você me mantem", parece conscientemente zombar da plateia que vibra e lhe aplaude inebriada.

Alice Wegmann, Gabriel Leone e Clarissa Pinheiro (foto: Estevam Avellar/TV Globo)

Sertão sensorial

O sertão é um personagem -disse-me o diretor artístico José Luiz Villamarim em entrevista (leia AQUI)- e remete ao mítico faroeste, o que é percebido nas imagens e na luz dos diretores Villamarim, Luísa Lima, Walter Carvalho e Isabella Teixeira. Villamarim comenta -no material de divulgação da supersérie- que a horizontalidade da tela amplia o sertão representado – o que só é quebrado com os personagens, verticais.

Porém, a poeira e o sol, elementos desse sertão, por vezes ganham primeiro plano e sobrepõem os personagens, tomando o protagonismo. Como se tivessem vontade própria, a poeira (que sufoca) e a luz (do sol ou artificial, que rasga a imagem e ofusca e turva a visão) saltam inadvertidamente a tela, estimulando sensorialmente o espectador, a fim não só de situá-lo, mas de envolvê-lo e provocá-lo.

Marco Pigossi (foto: reprodução)

Suspense psicológico

O divulgado da trama de "Onde Nascem os Fortes" aponta para o previsível. Quem está familiarizado ao melodrama ou ao folhetim já sacou muito da história e dos laços que envolvem os personagens Pedro (Alexandre Nero), Cássia (Patrícia Pillar), os gêmeos Maria e Nonato (Alice Wegmann e Marco Pigossi), Ramiro (Fábio Assunção) e Hermano (Gabriel Leone).

Todavia, aposto que George Moura e Sérgio Goldenberg -autores de pérolas como "O Canto da Sereia", "Amores Roubados" e a adaptação de "O Rebu"- tendam a fugir do trivial e partir para o suspense psicológico (já sentido em "Amores Roubados").

A fusão texto-direção, na qual um valoriza o outro, teve o ápice na fantástica sequência que encerrou o primeiro episódio – aliás, digna de um bom thriller psicológico. "O senhor está mais ligeiro na mira do que dando uma sentença", disse o empregado à figura um tanto sinistra do juiz atirador vivido por Fábio Assunção.

Leia também: "Onde Nascem os Fortes" propõe uma imersão profunda no sertão, diz diretor.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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