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"Onde Nascem os Fortes" não deixa nada a desejar às séries da Netflix

Nilson Xavier

05/07/2018 23h18

Patrícia Pillar e Alice Wegmann (foto: reprodução)

O refrão da música da abertura de "Onde Nascem os Fortes" nunca fez tanto sentido: "Todo homem precisa de uma mãe". Nesta semana, a supersérie teve uma nova reviravolta, com a revelação de que os gêmeos Maria e Nonato não são filhos de Cássia (Patrícia Pillar), mas de Madalena, sua amiga da juventude, que acabou morta pelo pai, Tião (Zé Dumont). Cássia os levou embora para que também não fossem vítimas do homem enlouquecido.

Como plot twist pouco é bobagem, a descoberta leva agora a um novo mistério: quem é o pai dos gêmeos? Pipocam nas redes sociais as dúvidas sobre Pedro (Alexandre Nero), Ramiro (Fábio Assunção) e Samir (Irandhir Santos), além de uma série de teorias envolvendo as reais intenções de Cássia (na relação com Pedro, por exemplo) e a identidade do assassino de Nonato (ainda nebulosa).

George Moura e Sérgio Goldenberg desenvolvem sua trama sem entregar tudo de bandeja para o público. A supersérie nada contra a onda de narrativas mastigadas, repetitivas e que subestimam a inteligência do espectador que vez ou outra invadem a TV, principalmente nas novelas. Da mesma forma, os tipos humanos de "Onde Nascem os Fortes" não são chapados ou unilaterais. Juntamente com a história que, aos poucos, se desenrola, os personagens são "descascados", revelando camadas que dão margem a novas interpretações e visões pelo espectador.

Fábio Assunção (foto: reprodução)

Pedro Gouveia não é tão mau como se desenhou no início. Nem Ramirinho é uma vítima totalmente inocente. Aliás, o personagem de Jesuíta Barbosa é sutilmente dúbio, sempre flertando com o perigo e o inusitado. Aproveito para refazer uma crítica anterior, na qual eu punha em dúvida a possibilidade de Ramirinho passar despercebido como Shakira do Sertão nos shows. É um detalhe que não interessa à narrativa, porque a transcende. A trajetória de Ramirinho/Shakira vai muito além do fato de ele ser reconhecido ou não.

Tramas e personagens densos, plot twists e easter eggs: "Onde Nascem os Fortes" não deixa nada a desejar – em narrativa ou produção – às melhores séries da Netflix ou qualquer das plataformas on demand estrangeiras. Ainda que calcada no folhetim (existe algo mais folhetinesco que dúvida de paternidade?), a supersérie se afasta da novela, como gênero e se aproxima da série, como narrativa.

Em tempo: "plot twists" são reviravoltas na trama e "easter eggs" são detalhes de cenas ou narrativa que passam despercebidos à primeira vista, mas que revelam algo sobre a trama. Como a letra da abertura de "Onde Nascem os Fortes" – que em seu jogo de palavras ainda pode levar a outra compreensão ("Todo homem precisa… de uma mãe").

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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