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Ary Fontoura se despede de "Orgulho e Paixão" em cenas emocionantes

Nilson Xavier

23/09/2018 07h00

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Revi a sequência da morte do Barão da novela das seis. Que cenas lindas! Que personagem bom e que ator fantástico é Ary Fontoura!

Ary Fontoura encerrou sua participação na novela "Orgulho e Paixão", na última quinta-feira (20/09), com uma emocionante sequência que retratou a morte de seu personagem, Afrânio Cavalcante, o Barão de Ouro de Verde. Assim, Ary se despediu de um dos melhores tipos de sua vasta carreira na televisão: o arrogante, prepotente, rabugento e preconceituoso barão, preso a uma cadeira de rodas e a uma personalidade arcaica e ultrapassada – até mesmo para a época em que a história era ambientada.

Tão ranzinza e retrógrado que era divertido. Sem papas na língua, Afrânio proferiu impropérios durante toda a trama, principalmente ao descobrir que tinha uma filha bastarda, Tenória (Polly Marinho), negra e pobre, e um neto, Estilingue (JP Rufino). Ao mesmo tempo em que deixava claro seu lado perverso, o barão se derretia pela família, em especial pela neta Ema (Agatha Moreira). Isso trazia humanidade ao personagem. Ainda mais quando passou por uma redenção, à medida que a vida lhe dava uma rasteira (perdeu sua fortuna, lhe restando apenas o título de barão e a pose) e se aproximava da filha e neto bastardos.

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Vale destacar também a relação de amizade de Afrânio com o jovem carcamano anarquista Ernesto (Rodrigo Simas) e a implicância com Julieta, a Rainha do Café (Gabriela Duarte), a quem culpava de seu infortúnio. Afrânio foi um dos melhores personagens de "Orgulho e Paixão". Todas as passagens de Ary com seus companheiros de cena ao longo da novela foram ótimas. A bonita sequência da morte do barão (bem concebida e dirigida), soou como uma homenagem ao ator, que tem sua marca na história da TV brasileira, ao longo de 42 novelas em 56 anos de dedicação.

Natural de Curitiba, nascido em 27 de janeiro de 1933, Ary Fontoura trocou a faculdade de Direito pela arte de representar. Em 1964, foi tentar a carreira no Rio de Janeiro. Na televisão, começou juntamente com a TV Globo, em 1965, de onde nunca mais se desligou.

Em Saramandaia, Amor com Amor se Paga, A Viagem e A Favorita (divulgação)

Um ator de "tipos", viveu os mais variados personagens: o costureiro gay Rodolfo Augusto de "Assim na Terra Como no Céu" (1970), o hippie Profeta de "O Cafona" (1971), o gago Afrânio de "Uma Rosa com Amor" (1972-1973), o reprimido Baltazar Camará de "O Espigão" (1974), o professor Aristóbulo, o lobisomem de "Saramandaia" (1976), Tomé, o palhaço Estopim, de "À Sombra dos Laranjais" (1977), o padre Bento de "Paraíso" (1982-1983), o submisso Dinorá de "Guerra dos Sexos" (1983), o sovina Nonô Correia de "Amor com Amor se Paga" (1984), o prefeito Florindo Abelha de "Roque Santeiro" (1985-1986), o velhinho Romeu de "Hipertensão" (1986-1987), o ator canastrão Nero Petráglia de "Bebê a Bordo" (1988-1989), o coronel Artur da Tapitanga de "Tieta" (1989-1990), seu Tibério de "A Viagem" (1994), o deputado Pitágoras de "A Indomada" (1997), Ludovico, o "meninão", de "Chocolate com Pimenta" (2003-2004) e o sinistro Silveirinha de "A Favorita" (2008) – entre vários outros.

Ary Fontoura tem também uma carreira riquíssima e importante no cinema – 25 filmes, o último "Polícia Federal, A Lei É Para Todos" (2017) – e nos palcos – mais de 40 peças, tendo sido premiado duas vezes com o troféu Mambembe – a última "Num Lago Dourado" (2017) .

Que venham mais trabalhos desse grande ator, um dos melhores da história das Artes desse país.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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